Paulo Navarro | segunda, 5 de junho de 2023

Entrevista com o artista e engenheiro Cláudio “Galdino” Freire. Foto: Robson Peixoto

As Raízes do Céu

Cláudio “Galdino” Freire é engenheiro. Não, é artista. Melhor, “criança com infância revisitada em adulto explorador”. Explorador que conserva, transforma e educa. Alquimista da terra e dos minerais, de Ouro Preto e Minas Gerais. Alquimista de terra transformada em tintas, geotintas. Não por coincidência, hoje, 5 de junho, é o Dia do Meio Ambiente, dia de aprender ou lembrar que “o planeta terra é um ser vivo e está em constante movimento. Que nós somos resultado dessa transformação ao longo de bilhões de anos”. Momento perfeito para enaltecer seu projeto “Oficina Brinquedo de Terra: Pigmentos Minerais para o Despertar Artístico-Cultural” em Itatiaiuçu e Mateus Leme, quando alunos de escolas públicas, entre sete e 12 anos, participam de oficinas de produção de arte utilizando pigmentos minerais como matéria-prima.

Cláudio, primeiro, que Galdino é esse?

É a criança de infância na roça. É o adulto explorador das geociências, encantado pelas tintas de terra e que acredita no potencial de transformação do ser social por meio da educação.

Como o engenheiro de Minas virou artista?

Sempre tive aptidão pelo desenho. Mas, sem dúvida, a imersão na diversidade cultural da cidade de Ouro Preto, enquanto estudante de engenharia de minas, é algo impactante e transformador. O artista que é engenheiro, que é artista…

Como aflorou o artista, do engenheiro? Através da terra e dos minérios? Minerais?

Em 1998, me encantei pelo trabalho da artista goiana, Goiandira do Couto, que fazia arte com os pigmentos minerais da Serra dos Pireneus. Fiz amostragens na mina de fosfato onde trabalhava e depois dos primeiros testes, me encantei pelas geotintas. Nunca mais parei…

Qual a diferença entre pigmentos e as geotintas?

Os pigmentos minerais são a matéria-prima base para obtermos as geotintas e eles resultam das alterações das rochas e dos minerais ao longo de milhões de anos.

O que é este misterioso “intemperismo”?

É a ação do tempo alterando as características dos minerais que compõem as rochas na superfície terrestre. De forma bem simplificada, o solo avermelhado que vemos na superfície é resultante de uma erupção vulcânica de milhões de anos atrás. 

Tudo a ver com reciclagem e sustentabilidade?

O planeta Terra é um ser vivo e está em constante movimento. Nós somos resultado dessa transformação ao longo de bilhões de anos e que proporcionou o surgimento da vida e da manutenção dela. Nosso corpo é composto do pó da terra e nossa alma, de sonhos.

O artista e engenheiro Cláudio “Galdino” Freire. Foto: Robson Peixoto

Na esteira, o que é o “Brinquedo de Terra”? Uma brincadeira séria?

Quando falava para os meus colegas “engenheiros” que eu fazia arte com os pigmentos que coletava nas minas onde trabalhávamos, a maioria deles me olhava com uma certa desconfiança… Acho que sempre me acharam, “oportunista”, “louco”, sei lá… Talvez alguns deles já me entendem melhor no contexto atual em que vivemos… A arte é transgressora mesmo… 

O projeto já rendeu “frutos e joias”?

Se eu me colocar no lugar de um de nossos artistas ancestrais, há 30 mil anos, no momento em que criava sua arte rupestre, percebo que o mais importante é “afago da terra”, é conhecer os “desejos da terra”... É “fecundar o chão“.

As crianças aprendem arte e ao mesmo tempo a respeitar o Meio Ambiente. O que mais?

De forma lúdica, conectamos o universo infantil com a arte, a história e as ciências da terra. Elas são estimuladas ao pensamento crítico sobre essa simbiose fantástica que temos neste grãozinho de areia do universo chamado de planeta Terra. Nossa Gaia.

Sobre os “grandes impactos no ambiente”, o que acha pessoalmente?

Nós somos seres de passagem por aqui. Somos parte de um processo evolutivo iniciado há 6,4 bilhões de anos atrás. Minha conexão com as geotintas me despertou para uma mudança profunda no meu modo de vida. Desejo continuar nessa jornada de autoconhecimento. 

O mundo vai acabar ou vai virar uma grande galeria de arte?

“Você tem sede de quê?!!!”

Outro projeto à vista?

É fazer com que a arte esteja cada dia mais presente em nossas vidas.