Paulo Navarro | segunda, 4 de dezembro de 2023

Entrevista com o baterista Daniel Nunes. Foto: Samuel Mendes

Um Homem do Barulho

Na maioria das vezes, dizer que uma pessoa é do barulho, não é um elogio, pelo contrário. Uma pessoa do barulho geralmente é um “mala”; um sádico adepto da misofonia. Chato, inconveniente, mal educado, que perturba a paz, que incomoda, faz barulho de todas as formas: comendo de boca aberta até tocando bateria num prédio durante o dia inteiro ou de madrugada. Definitivamente este não é o caso do nosso entrevistado, Daniel Nunes. Ele faz barulho, sim, mas no sentido de agitar, causar, provocar, criar, instigar, ensinar, fazer arte, também no melhor sentido. E, literalmente, escutem: ele faz tudo isso em 24 horas como um simples mortal. Mas, insaciável, queria ter 48 ou mais 72 horas no dia para fazer mais barulho. Para produzir e criar mais do que já fez e muito mais do que pretende. Já nas primeiras perguntas, temos enigmas. Quem é, de onde veio, para onde vai Daniel? E é bom lá? Quem é Lise? E Constantina? E as Pequenas Sessões? O saudoso e bem humorado Cazuza, cantava: “Mamãe, tá certo, eu me dei mal na escola. Isso acontece, mês que vem eu melhoro. Só não me xingue de sub, sub, sub, sub, sub o quê? Subproduto de rock. Será um tipo de inhoque? O que quer dizer?”. Que Daniel é um super produto, supersônico.

Daniel, brevemente, quem é Daniel Nunes?

Daniel é um curioso pelas sonoridades com as quais se encantou desde pequeno em um disco do Neil Young, “On the Beach”, apresentado pelo pai a mim e aos meus irmãos. 

E a banda Constantina?

Constantina é uma banda de rock instrumental que, em 2024, cumpre 20 anos de existência. Neste exato momento estamos em uma pausa porque meu irmão, guitarrista, acaba de ser papai. Está dedicado a isso. Contudo antes da pausa gravamos materiais inéditos que foram disponibilizados apenas para assinantes de um programa de assinatura mensal chamado "Constantina no Apoia-se". Em breve retomamos!

E a Lise?

Lise é um projeto solo que mantenho para algumas investigações em torno da música eletrônica. Em dezembro de 2021, lancei meu último álbum, “A Mares”. Sempre em constante movimento, hoje produzo sonoridades para filmes, curtas e teatro. Recentemente estreou um novo espetáculo da Cia Luna Lunera, “Aquela que eu (não) fui”, com ambientação sonora que criei para a obra.

E o Pequenas Sessões?

Pequenas Sessões é um pequenino festival que surge do desejo de realizar intercâmbios artísticos. Um território aberto para experimentações, encontros e aprendizado. É onde reúno várias pessoas e artistas que admiro para trocarem, conhecerem, fazendo de Belo Horizonte um espaço que tenha vida artística atual.

E o selo musical La Petite Chambre Records? Também é compositor? Ufa!

Hehehe. O selo nasceu no intuito de organizar e reunir parte das produções sonoras que surgiam de amizades próximas. Foi uma maneira de criar uma espécie de memória de um território e momento histórico. Com o desenvolvimento da internet e muita informação ao mesmo tempo, sentíamos que tudo era meio pulverizado. O selo serve como essa casa que abriga várias produções artísticas e as apresenta para o mundo! Composição é algo que faço pouco hoje em dia. Gostaria de lidar mais com ela no dia a dia. Mas ainda sim é algo que existe em minha vida.

Recentemente aconteceu a 13ª edição do Pequenas Sessões. O que a programação trouxe?

Trouxe uma série de novidades. Estreia de 10 obras sonoras e audiovisuais criadas especialmente para a edição. Trouxe Cacique Babau para uma fala que reuniu sua perspectiva em torno dos elementos som e água enquanto vida. Trouxe uma poeta surda que nos ofereceu sua arte potente e bela. Trouxe ações que tiverem em seu cerne as pessoas com deficiência auditiva e pessoas com deficiência visual. Propiciou o desenvolvimento de uma nova perspectiva artística: arte vibracional, arte para as pessoas surdas.

Vídeo-arte, web-arte e performance. Teu dia tem 48 horas?

Ohhh, gostaria que tivesse! Performance é algo que não está tão presente atualmente, mas é algo que adoro. Vídeo-arte é algo que surge geralmente em colaboração com outras pessoas. Adoro!

Cefart e Palácio das Artes. Teu dia tem 72 horas?

Atualmente estou como professor de sonoplastia da Escola de Tecnologia da Cena no Cefart (Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes). Uma escola que forma estudantes nas áreas de som, iluminação, figurino e cenotecnia. É uma escola incrível e única em Minas Gerais. Sinto que é similar ao que acontece na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco. Formamos alunas e alunos que estão por aí atuando nos bastidores da cena.

Mais viagens que prêmios ou o contrário?

Nem um dos dois...ahahaha, mas acho que mais viagens do que prêmios.

Os leitores não vão acreditar, mas você ainda é músico e mestre em Artes?

Sim, me graduei em música na UEMG e fui mestre em artes pela mesma instituição com uma pesquisa sobre Cartografia Sonora, tendo o Mercado Central de Belo Horizonte como território investigado.

Para terminar, quais os próximos planos? Ainda tem espaço para o ano 2030 (rs)?

Espero que sim! Os próximos planos estão em dar continuidade ao Pequenas Sessões por meio  dos editais e adentrar mais em minhas produções artísticas pessoais no âmbito da arte sonora.