Paulo Navarro | segunda, 29 de maio de 2023

Entrevista com a artista Dudude Herrmann. Foto: Vanda Mota

Baila Comigo

Dudude não vem da cantora Astrud Gilberto e Herrmann tem nada a ver com Bernard Herrmann, um dos maiores compositores de cinema, conhecido, principalmente, por suas colaborações com Alfred Hitchcock, em “Psicose”, “O Homem que sabia demais” e “Um Corpo que Cai”. Nossa entrevistada, Dudude Herrmann, não canta, mas tem a música como parceira, cúmplice. Sem psicose, é uma mulher que sabe demais. Seu corpo não cai, dança e ensina a dançar. Bailarina, coreógrafa, diretora, empresária, professora e modesta; define-se como “artista”, o que, aqui entre nós e todos os outros artistas, não é pouca coisa. Como a vida e o mar vêm em ondas, Dudude comemora “40 anos de maturidade adquirida, tecendo um modo operante de ensinar, de entender corpos, de ativar desejos”. O que mais? Pode parecer meio estranho, mas Dudude seria uma ótima ilustradora na Casa da Moeda do Brasil... Como? Continue lendo.

Dudude é apelido de...

Maria de Lourdes, infância “udeude... dudude” e, desde criança atendo por Dudude e assim foi sendo...

E o Herrmann? Da “Alemannha”?

E Herrmann sim, veio de lá, na aventura do viver atendo por Herrmann, mas isso é outra história.

Entre suas 1001 atividades, com que profissão você preenche o “check-in” do hotel?

Muitas das vezes era um momento de crise, escrevia professora, empresária e desde muitos anos artista, pronto! Sem nenhuma questão, este é o meu ofício que tanto prezo, que proveu minha vida com dignidade e integridade.

Você está comemorando 40 anos de qual das atividades?

40 anos são um tempo de maturidade adquirida nesta linguagem da improvisação em dança, ainda desconhecida de muitos, a improvisação é um lugar onde arte e vida estão intrínsecas. Pergunto: de onde vêm nossos assuntos para criar trabalhos de arte, na vida, através de experiências vividas, de desejos gerados a partir desse viver, desse correr dos dias e das noites?

Uma das comemorações foi a “ocupação do Teatro Marília”. 

Sim, coincidentemente, o Teatro Marília foi o primeiro lugar que dancei com Marilene Martins e que transformou o grupo experimental de dança nos idos anos 70. Um teatro que tem sua história e seu lugar para muitos artistas da cena viva e também para o público de Belo Horizonte. Para mim ele é afeto; tantos trabalhos, espetáculos, que realizei; a que assisti que estão na memória celular desse lugar daqui mesmo. E o Marília segue vivo e continua sendo nossa casa comum.

Alguma razão especial?

Com certeza, atualmente, o Teatro Marília acolhe o Centro de Referência da Dança – CRD, de Belo Horizonte, uma conquista da classe de dançarinos desta cidade, e com o Lab In-Vento (Laboratório Virtual de Informação, Estudo, Prática e Treino da Linguagem da Improvisação em Dança e Música), ocupamos durante dois meses este lugar que acredito ser um aglutinador de artistas da dança, um lugar de propostas e encontros entre nós.

O que é, o que foi, como foi o grande “happening”? Um acontecimento?

Talvez a palavra "grande" possa ser "grande demais". Nomeio como "encerramento improvisacional em modo happening". “Happening” quer dizer acontecimento e improvisação. Também significa acontecimento no tempo agora deste acontecer junto (“together”). Esta palavra “happening” foi bastante usada nos anos 60, 70, 80, trazer à tona esta maneira de fazer uso de uma casa de sensibilidades, em toda sua potência de ocupação, onde o agora é nossa presença ativa de gerar danças construídas e desmanchadas, sabendo da efemeridade que a cena viva é, pode ser uma aventura afirmativa para todos nós artistas e espectadores.

Qual a palavra chave para a pedagogia de ensino da dança contemporânea?

Bem, diria que a maturidade foi tecendo este modo operante de ensinar, de entender corpos, de ativar desejos de mover, afinal, desde o século passado atuo como professora para um público interessado neste mover-gerador de estados de dança.

Como vai a Dança em Minas?

Pergunta difícil, sem condição de resposta, pergunto: você tem ido a espetáculos de dança? De uns tempos para cá os grupos, companhias, foram se adaptando e reduzindo o número de artistas envolvidos, reféns de editais, poucos recursos e, para não deixar de seguirem seus trabalhos, estão se adaptando ora em solos, temporários, duos, às vezes trios e sem muito horizonte.

Planos e projetos para 2023...

Sigo no tamanho de uma pessoa, mas com muitos colaboradores ao meu redor, breve estarei estreando um trabalho, ainda em segredo. Nesse momento, captando recursos para realizá-lo como precisa ser, enquanto isso, ministrando aulas aqui e acolá; apresentando-me em modo improvisacional.

O nome de um grande bailarino ou de uma grande dançarina...

Mais uma pergunta difícil, opa! O que quer dizer grande? São tantos artistas que admiro, gente que me faz lembrar da simplicidade, da integridade.

Mesma coisa para um (a) coreógrafo (a)...

Digo a mesma coisa, não me sinto apta a falar de um, uma e não dizer da outra, do outro, honro meus colegas de ofício e todos eles têm sua importância e são importantes para mim, pois nos dão forças para seguir.

A artista Dudude Herrmann. Foto: Iena Maia

Tem uma peça de balé favorita?

Falar de ballet é outra maneira de dançar por assim dizer, existe uma hierarquia - solista, danças de fundo - atada à dança clássica, aos balés de repertório, onde confesso não é muito a minha praia, admiro de longe, mas não frequento.

Quem você colocaria ilustrando uma nota de R$ 100?

Adorei esta pergunta, uma árvore de pau brasil.

E de R$ 200?

As montanhas de Minas, antes que desapareçam pela mineração danosa. Agradeço pelas suas perguntas, foram ótimas de responder, me trouxeram para este lugar onde sou apenas mais uma pessoa do mundo que deseja o sensível em cada um de todos nós, que almeja um mundo mais verde; com mais arte, mais gentileza, mais amor puro e menos consumo e destruição. E recomendo aos seus ouvintes, leitores, telespectadores irem ao teatro, que frequentem a cena viva desta cidade, que celebrem o viver de cada dia, que cuidem, que reciclem, que cultivem o verde no coração. Carinho; sigamos com fé e muita vontade de vida. Axé!