Paulo Navarro | segunda, 28 de agosto de 2023
Entrevista com Décio Freire. Foto: arquivo pessoal
Vida Curta de Gigante
O advogado Décio Freire divide seu tempo, de forma equilibrada, entre “família, escritório e ele”. Com muita honra, conhecemos e convivemos suas três prioridades. A família parece uma extensão da nossa. O escritório é uma máquina que não para de crescer e muito, acompanhando seu tempo e o Brasil, “um país que passou por tantas mudanças, crises econômicas, políticas e crescimento”. Por fim, o “ele”, nosso entrevistado, o advogado, o profissional, o amigo. Um homem também afinado com seu tempo e espaço, um exemplo de sucesso que, se não tem muito tempo para a vida social, tem para a fé, a mesma família e os mesmos amigos. Afinal de contas, como Elon Musk, Décio não acredita no trabalho remoto porque, depois da “tempestade”, na bonança, o contato pessoal e presencial é fundamental. E uma risada do Décio, ao vivo, é outro departamento e muitas outras histórias.
Décio, seu escritório completou 31 anos nesse mês de agosto. Essa longevidade, no Brasil, não é fácil atingir. Qual o segredo?
Realmente num país que passou por tantas mudanças, crises econômicas, políticas e crescimento não é fácil se superar em três décadas de atividade ininterrupta. O segredo é não se acomodar e buscar, sempre, o crescimento, com muito foco e tenacidade, colocando o negócio como uma das três prioridades da vida. No meu caso, divido meu tempo, de forma equilibrada, entre “Família, Escritório e eu”. O “eu” inclui saúde, lazer, oração, leitura, estudo, ou seja, como dono de qualquer negócio, se não estivermos bem física e espiritualmente, não há como se dedicar ao negócio com toda a ênfase necessária.
Recentemente, você comemorou os 18 anos de sua filha Bruna. Estes saltos do tempo te assustam ou te impulsionam?
Estimulam, pois você ver a filha caçula atingir a maioridade gera um sentimento de dever parcialmente cumprido. Parcialmente porque sou daqueles que acham que o cuidado e o apoio dos pais com os filhos são para a vida inteira e de forma muito intensa.
Nossa última entrevista foi em 2020, em pleno confinamento da pandemia. O novo normal ficou velho?
O tempo passa e tivemos a resiliência necessária para enfrentarmos um problema seríssimo. Hoje quando paramos e imaginamos que, por meses, todos ficaram dentro de casa, confinados, é surreal. Os efeitos para a economia são sentidos até hoje, muitos e muitos empreendimentos fecharam e não reabriram. Mas, ao mesmo tempo, compartilho do pensamento de Elon Musk, dono da Tesla, que não acredita no trabalho remoto. Sobretudo no âmbito da advocacia, pois o trabalho depende muito da interação entre advogados e destes com membros do Ministério Público, juízes e clientes, para o que o contato pessoal e presencial é fundamental. Então, o novo normal tornou-se velho e inviável. Eu, mesmo durante a pandemia, frequentei o escritório de BH todos os dias, juntamente com um “task force” que criamos para dar aos nossos clientes o amparo necessário naquele difícil momento mundial.
Os 31 anos do Décio Freire Advogados coincidiram com a certificação como “Escritório 4.0”? Foi um passo importante?
Extremamente, foi o reconhecimento de todo o esforço de nosso departamento de Inovação, que desenvolve o projeto “INOVA DFA”. A advocacia estratégica como a que praticamos, com 21 departamentos, altamente especializados, jamais será substituída pela tecnologia. Mas esta aumenta, em muito, nossa eficiência, permitindo uma interligação online entre todas as nossas 14 unidades através de Intranet que mantém nossos sócios e associados em perfeita interação, além da aplicação da jurimetria, maior transparência para o cliente DFA e melhor qualidade, inclusive visual (incentivamos muito o visual “law”) para as peças processuais, facilitando a vida dos destinatários de nossas peças. A certificação “Escritório 4.0” nos coloca, oficialmente, como uma banca que valoriza e estimula a inovação, o que está muito em consonância com projetos que vêm sendo desenvolvidos pelo próprio judiciário.
E a vida social? Os saudosos convescotes voltaram?
Continuo viajando para quatro capitais por semana, o que faço há 19 anos. Portanto, sou mais recatado, tendo uma vida social muito atrelada ao mundo jurídico, que me demanda muito. Nessa semana mesmo participei de um evento sobre Reforma Tributária no Rio, na segunda feira; na terça compareci ao STJ no lançamento do livro “Repensar a Justiça” - homenagem à grande mineira do Serro, ministra Assusete Magalhães, que conta com um artigo jurídico meu - na quarta tive reuniões o dia todo no DFA São Paulo; quinta e sexta reuniões no DFA Rio de Janeiro. Portanto, não dá muito tempo para vida social.
Você ainda acha tempo para trabalhos sociais. Como?
É um tempo sagrado, que faz muito bem ao espírito. Desde que fundei o IDL - Instituto Dom Luciano Mendes de Almeida, que foi meu querido amigo e que ontem, dia 27 de agosto, completou 17 anos de sua “partida”, tento manter viva sua obra. Começamos com o projeto “Direito de Brincar”, que no Natal desse ano completará 14 anos e que em 2022 distribuiu, graças a doações de nossos clientes e amigos, mais de 12 mil brinquedos para crianças carentes. E partimos para algo mais ousado, o “Benzão”.
O que é mesmo o “Benzão”?
Fizemos um trabalho jurídico para uma empresa e conseguimos, com isto, a aquisição de um ônibus que reformamos, adaptando-o com chuveiro quente, vestiário, cadeira de barbeiro e escritório/consultório para psicólogo e/ou advogado. A ideia é que o “Benzão” esteja cada dia próximo a um aglomerado de moradores de rua. Agora estamos tendo dificuldade de apoio. Parece que os empresários de BH ainda não entenderam a magnitude desse projeto. Além disso, estamos assistindo a uma casa que abriga adolescentes muito carentes, disponibilizando professores de reforço de matemática, português e de “jiu-jitsu”, para tentarmos, através do IDL, dar mais qualidade e oportunidades para esses garotos.
E a Academia do Futuro DFA?
É um projeto maravilhoso que visa gerar conteúdo; entrevistas com profissionais das mais variadas atividades, palestras de nossos especialistas e treinamentos diversos, a jovens em início de carreira. A ideia é tentarmos ajudar a recuperar um pouco o atraso que a pandemia gerou e permitir maior conhecimento para os jovens, afastando-os um pouco do mundo virtual que vivem nas redes sociais.
Você que é um dos mais reconhecidos advogados do Brasil, diga-nos: qual o segredo para o profissional que abraça a Advocacia como profissão?
Nunca deixar de estudar e de se atualizar. Dedico, diariamente, pelo menos duas horas ao estudo e à leitura sobre decisões e posicionamentos legais e judiciais. Especialize-se e trabalhe. Trabalhe muito, pois como diz o filósofo Mário Sérgio Cortella: “A vida é muito curta para ser pequeno”.