Paulo Navarro | segunda, 27 de novembro de 2023

Entrevista com o médico ortopedista Daniel Oliveira. Foto: Ellen Casadonte

As Colunas do Templo

Ninguém é de ferro, muito menos de ferro. Depois desta “genial e original” conclusão, lembremos que o tempo passa, envelhecemos, ficamos “gastos” e mais frágeis. Se além de tudo isso você é um sedentário, a entrevista com Daniel Oliveira é para você. Na verdade, quase para todos nós. Quem não tem ou nunca teve problema, dor de coluna que atire a primeira pedra. Isso, se conseguir levantar o braço ou não ficar travado no chão, gritando de dor. O lado positivo de todo este otimismo é que a Medicina não para de evoluir; tratamentos e intervenções estão cada vez menos invasivos. Resultado, dor mínima e recuperação mais rápida. No mais conheçam o médico, o homem, o pai, o “eterno aprendiz e professor”. Se em casa, sua prioridade é uma relação baseada em amor, respeito, compromisso e tempo de qualidade com a família; como médico, o que o deixa honrado e feliz é poder, de alguma forma, melhorar a qualidade de vida de seus pacientes. Sejam eles americanos, cruzeirenses ou atleticanos como o forte e vingador Daniel.

Daniel, primeiro, uma breve apresentação particular e profissional, por favor.

Ingressei na Faculdade de Medicina da UFMG em 1998 e fiz minha residência médica no Hospital Ortopédico de Belo Horizonte, entre 2004 e 2006, quando o Grupo de Coluna do Hospital Ortopédico liderava uma revolução no tratamento das patologias de coluna no Brasil, com a introdução de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas. Também tive experiência em ortopedia pediátrica no Shriners Hospital for Children, em Erie, Pensilvania – EUA, com imersão na área de correção da escoliose e outras deformidades da coluna em crianças e adolescentes. 

Enquanto isso, onde estava o Brasil?

Em 2007, especializei-me no tratamento e cirurgia de coluna vertebral no Hospital Ortopédico de Belo Horizonte. Em 2008, completei a formação com dois programas internacionais de “fellowship”: o primeiro no Rady Children’s Hospital, com foco no tratamento da coluna de crianças e adolescentes e no San Diego Center for Spinal Disorders, com foco no tratamento minimamente invasivo de deformidades da coluna no adulto.

Insistindo, e o Brasil?

Além de ser membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e Sociedade Brasileira de Coluna, atualmente sou também diretor do NOT: Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte, professor da Especialização em Endoscopia da Coluna da USP-RP e viajo por todo o Brasil como palestrante e referência sobre Endoscopia da Coluna.

E a vida pessoal? É também agitada assim?

Tenho 44 anos, sou casado com a dermatologista Ana Rosa e dois filhos: Mariana (9) e Rafael (7). Sou muito ligado à saúde, aos esportes, natureza e apaixonado por trilhas e bicicleta. Busco, com minha esposa, uma relação baseada em amor, respeito, compromisso e tempo de qualidade com a família.

Por que a coluna vertebral é sinônimo de base, de alicerce, de pilar? 

Ela fornece suporte estrutural para o corpo, permitindo que ele mantenha sua forma ereta, sendo essencial para a postura e para a mobilidade. Também envolve e protege a medula espinhal, uma parte crucial do sistema nervoso central e, apesar de ter estabilidade, é flexível o suficiente para permitir uma variedade de movimentos, incluindo orientação, rotação e flexão. Sua capacidade de movimento é fundamental para as atividades diárias e para a realização de diversas tarefas físicas. No centro do corpo humano, conectando várias partes do corpo, isso faz com que seja vista como um alicerce ou pilar central, pois ela é literalmente o eixo em torno do qual ele se organiza.

O que é o NOT? Sinônimo de “YES” para a Ortopedia?

O NOT é o Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte. Uma clínica com mais de 40 anos, uma equipe de ortopedistas especialistas com muita experiência que consegue ser uma referência em atendimentos ligados a ortopedia e traumatologia. Além de Pronto Atendimento para urgências, tem exames complementares de Raio-X e Ressonância Magnética; procedimentos de baixa, média e alta complexidade.

Qual era, qual é a maior patologia da coluna vertebral?

Uma das maiores é a dor nas costas, a lombalgia. Ela pode ser causada por má postura, lesões musculares ou ligamentares, hérnias de disco, artrite, estenose espinhal (estreitamento do canal vertebral), osteoporose, escoliose, tumores ou infecções na coluna vertebral, entre outras causas.

E a famosa e temida hérnia de disco?

Afeta um grande número de pessoas. Pode ser causada por lesões, envelhecimento ou desgaste natural dos discos intervertebrais. Ocorre quando o material gelatinoso no interior de um disco intervertebral (um dos discos localizados entre as vértebras da coluna vertebral) é projetado para fora. Isso pode gerar dor, dormência, fraquezas ou formigamento.

É a idade ou o sedentarismo o pior inimigo da coluna vertebral?

Sedentarismo, com certeza. O envelhecimento natural do corpo tem um impacto na coluna vertebral. Com o tempo, os discos intervertebrais entre as vértebras estão mais propensos a hérnias de disco e degeneração, bem como a osteoartrite, um problema comum em pessoas mais idosas, que pode afetar as articulações da coluna vertebral, causando dor e limitando a mobilidade, o sedentarismo, que envolve falta de atividade física regular, pode enfraquecer os músculos que sustentam a coluna vertebral.

A coluna é o pilar. E os músculos? O cimento?

Músculos fracos não oferecem o mesmo suporte e estabilidade que músculos saudáveis, o que pode levar a problemas de postura, dores nas costas e maior propensão a lesões na coluna vertebral.
Problemas que poderiam surgir apenas com o avançar da idade acabam sendo mais comuns entre aqueles que não são adeptos a uma rotina de atividade física e de exercícios adequados para fortalecer os músculos das costas.

Hoje as intervenções são menos invasivas, com melhores resultados?

Sem dúvida. A cirurgia endoscópica de coluna é um procedimento minimamente invasivo, guiado por vídeo, através de uma incisão milimétrica na pele. O ortopedista cirurgião de coluna introduz o endoscópio, um aparelho tubular de 7mm de diâmetro capaz de transmitir as imagens de sua ponta a monitores de Alta Resolução. Assim o cirurgião consegue visualizar as estruturas da coluna e introduzir microinstrumentos para remover hérnias de disco e descomprimir nervos. As estruturas ósseas, musculares e ligamentares ficam praticamente intactas resultando em dor mínima e recuperação muito mais rápida.

Como foi a experiência no Shriners Hospital for Children, em Erie, na Pensilvânia, entre outros centros, nos EUA? Ainda válida?

Uma experiência única. Tive contato com referências do tratamento ortopédico de crianças, principalmente direcionado para desvios da coluna e correção dos mesmos, que me despertou muito para esse lado de poder tratar problemas de coluna no público infantil.

Progresso também para adultos?

Sempre busco mais conhecimento e novidades tecnológicas para melhorar a qualidade de vida. Viajo por todo o Brasil por ser uma referência na área da endoscopia de coluna e tenho a oportunidade de trocar inúmeras experiências com outros colegas.

Você é atleticano, cruzeirense ou americano?

Atleticano.

Conte-nos o “milagre” que você acaba de praticar no técnico do time de vôlei SADA Cruzeiro, Filipe Ferraz.

Filipe estava com muita dor, não estava conseguindo andar, sequer ficar muito tempo em pé. Optamos por realizar a cirurgia de forma minimamente invasiva pela técnica de endoscopia de coluna, o que permitiu que ele retornasse aos treinos com dois dias e participasse das finais da competição três dias após o procedimento. Ele estar 100% para ver o time jogar em um momento tão importante era uma prioridade. Esse procedimento, um corte milimétrico (0,7cm) por onde se introduz uma câmera e se remove a hérnia de disco, não machuca a musculatura, ligamentos e estruturas, permitindo uma recuperação muito mais rápida como foi no caso do treinador.

Você também ganhou uma medalha pela conquista do time?

Fiquei muito honrado em poder, de alguma forma, melhorar a qualidade de vida do Filipe em um momento como esse. Sem dúvida essa é uma grande conquista para eles e para mim, enquanto especialista.

Planos para este finzinho de 2023 ou 2024?

Disponibilizar um pouco de tempo para poder viajar com a família.

Basta de redes vertebrais. E as sociais?

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