Coluna Paulo Navarro

Entrevista com o cardiologista Evandro Guimarães de Souza. Foto: arquivo pessoal

Amigo do Peito

Reza a lenda, salvo engano, que, na Idade Média, as pessoas acreditavam que a memória morava no coração. Daí a expressão “saber de cor”. Bonitinho não é? Sim, mas nada a ver. A memória é coisa da cabeça, inquilina do cérebro e seus labirintos. Mas não é por isso que o coração está em desvantagem. Muito pelo contrário, como poderão ler na entrevista como o cardiologista Evandro Souza. Leiam com calma e paciência porque nem todos sabem que o coração, motor do corpo humano, pode ser forte, mas não é de ferro; está mais para cristal e fina porcelana. E quem pensa que o amor não correspondido é o maior bandido, é porque não conhece os verdadeiros e inúmeros inimigos do coração. O corpo humano é perfeito, mas é como a natureza, precisa de muito carinho, atenção e proteção. Caso contrário, cuidado com os “terremotos” e outras “contas” que podem demorar, mas chegam. Cuidem-se! Principalmente do coração. Sim, ele é o amigo do peito e de todo o corpo, ele é a vida. Pronto! Podem ler, sem moderação.

Evandro, “Três Corações” para você significa Curvelo, Barbacena e BH?

Sim. Essas três cidades representam toda a minha trajetória de vida, desde o nascimento até os dias de hoje.

Vamos pular para o ano chave de 1990. Por quê?

Porque em 1990, comecei a vida profissional em meu consultório, na Rua Santa Rita Durão, onde atendo a maior parte de meu tempo.

Ainda na “prova dos nove”, o que aconteceu em 2009?

Em 2009 comecei a ter uma participação muito ativa dentro da Sociedade Mineira de Cardiologia que se prolongou até 2021. 

Muito estudo, trabalho e prevenção são as palavras que te movem?

Com certeza sempre gostei de assuntos que envolvam prevenção cardiovascular procurando estar sempre atualizado. Hoje, vejo os frutos dentro do meu consultório, onde tenho a oportunidade de acompanhar todos os meus pacientes.

Qual a programação para o dia 25 de agosto deste ano?

Vou receber por mérito, durante o Congresso Europeu de Cardiologia, em Amsterdam, o título de Fellow da Sociedade Européia. E aqui devo agradecer à Sociedade Brasileira de Cardiologia, por ter contribuído em muito para a obtenção desse título, que muito me alegra. 

“Em todo mundo, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte, totalizando 17,9 milhões de óbitos em 2019”. Por quê?

As doenças cardiovasculares mostraram-se a principal causa de morte no mundo em 2019, em decorrência do mau controle dos chamados fatores de risco cardiovasculares, entre eles o tratamento inadequado ou inexistente, da hipertensão arterial, do tabagismo, do colesterol elevado e do diabetes principalmente.

O que mata mais corações: o cigarro ou o estresse? E os dois juntos? Bomba relógio?

Sabemos que o cigarro é um grande fator de risco cardiovascular, como também comprovadamente o estresse, que duplica o risco de chance de um infarto ou derrame cerebral. Então estresse e tabagismo são fortes aliados na mortalidade cardiovascular. 

E a poluição?

A poluição atmosférica já é considerada na Europa como um fator de risco cardiovascular tão importante quanto o colesterol elevado ou a hipertensão arterial. As micropartículas da poluição que inalamos invadem os vasos sanguíneos causando entupimentos semelhantes ao causado pelo colesterol elevado.

Quais os outros vilões do coração?

Não podemos deixar de comentar que a privação do sono, a depressão e apneia do sono são fatores de risco para o aparecimento de doenças cardiovasculares.

Doença cardiovascular e câncer. Dupla dinâmica de assassinos?

O câncer e as doenças cardiovasculares têm muitos pontos em comum e juntos são responsáveis pela maioria das mortes no mundo.

No capítulo Nutrição. Tudo que é bom e gostoso faz mal?

Nossa dieta deve ser baseada em uma dieta com baixo teor de gordura animal e carboidratos, além de frutas, hortaliças, oleaginosas, peixes, azeite e vinho nas refeições moderadamente. 

A vida saudável precisa ser chata? Quem come alface consegue ser feliz?

Vida saudável não quer dizer vida sem gosto, devemos sempre assumir bons hábitos de vida, tanto na alimentação quanto na atividade física. Cabe muito bem em uma mesa um bom prato de salada colorida e não faz mal uma carne branca para acompanhamento. 

Fale sobre atividades físicas e obesidade.

Obesidade e inatividade física andam juntas. Quem é sedentário tem um risco cardiovascular aumentado, assim como quem tem obesidade. Exercício físico atua como uma medicação em muitos casos de prevenção. 

O diabetes é outro inimigo nesta selva de pedra?

Diabetes é um fator de risco extremamente importante porque essa doença é uma doença vascular, ou seja, ela atinge todos os vasos sanguíneos do nosso organismo, com predileção para coração, cérebro e rins.

Colesterol, sono ruim, depressão. Estamos cercados? Como conseguimos sobreviver com tantas ameaças?

Colesterol elevado, insônia, depressão, são fatores de risco para o coração e o tratamento deles de uma maneira adequada ajuda e muito a reduzir a carga das doenças cardiovasculares

Alguma boa notícia para terminarmos esta entrevista sem chorar?

Enfim, hoje mais do que nunca não devemos esquecer a atividade física, alimentação saudável, lazer, sono reparador, levar uma vida leve, com gerenciamento do estresse. Caso contrário, precisaremos usar remédios no resto de nossas vidas, para corrigir doenças que seriam facilmente tratadas com a prevenção correta. Temos hoje um verdadeiro arsenal visando o tratamento dos vários fatores de risco aqui comentados.