Paulo Navarro | segunda, 24 de outubro de 2022

Entrevista com Patrícia Corradi. Foto: arquivo pessoal

A Praia e a Pátria

Nossa primeira pergunta foi quem é Patrícia e quem é a Dra. Patrícia Corradi, médica endocrinologista e na medicina do esporte. Patrícia está há apenas 10 anos na profissão, provando que qualidade é mais importante que quantidade. Isso, já na primeira resposta onde, além de explicar quem é quem, mostrou sua praia e sua pátria: “Na verdade, as duas são a mesma pessoa. Trago para o exercício da profissão muito daquilo que sou, dentro da multiplicidade de papéis femininos: mulher, esposa, mãe, filha, amiga. Acredito que não há dissociação entre o bem-estar físico e psíquico e que uma forma de manter ambos em equilíbrio é a partir da adoção de hábitos de vida saudáveis, sobretudo a partir da alimentação e da prática de exercícios físicos”.

Patrícia, alimentação e exercícios físicos! Tudo muito dinâmico e relacionado.

Nossas necessidades orgânicas mudam de acordo com as fases da vida. Nosso corpo fala, mas muitas vezes não estamos atentos a ele. Meu objetivo, como médica, é promover saúde e prevenir doenças a partir dessa observação constante de nós mesmos.

O que é a Endocrinologia?

Uma especialidade clínica que trata de doenças relacionadas aos hormônios e ao metabolismo. Ambos são responsáveis pelo bom funcionamento do corpo. Suas disfunções levam, geralmente, a doenças crônicas que requerem tratamentos prolongados. Por isso, é importante que o endocrinologista e o paciente estabeleçam um vínculo de confiança baseado em responsabilidade, para que o objetivo final seja sempre a saúde.

Brevemente, qual tua formação e experiências internacionais?

Sou endocrinologista há 10 anos. Minha formação foi feita em hospital público (IPSEMG) e privado (Hospital Felício Rocho). Entre 2014 e 2016 participei de pesquisas clínicas relacionadas a doenças cardiometabólicas na Universidade de Nova York, quando tive a oportunidade de conhecer e trabalhar com profissionais renomados da endocrinologia internacional. 

E na volta ao Brasil?

De volta ao Brasil, reiniciei meus atendimentos em consultório particular e desde 2016 pertenço ao corpo clínico da Rede Mater Dei de Saúde, na endocrinologia e na medicina do esporte.

A obesidade, mesmo “enorme”, é uma doença invisível?

Enorme, sim. Invisível, não. A prevalência da obesidade é crescente e assustadora no mundo. As entidades de saúde internacionais e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia insistem em categorizar a obesidade como uma doença crônica e progressiva. 

Quais os perigos e armadilhas?

Além de reduzir a expectativa de vida, a obesidade é limitante do ponto de vista funcional, piora da qualidade de vida e está associada à vasta lista de comorbidades como diabetes, hipertensão, apnéia obstrutiva do sono, doenças osteoarticulares e alguns tipos de cânceres. 

Qual o papel no Mater Dei e qual no consultório particular?

No hospital, o foco principal é o tratamento de doenças já estabelecidas e a prevenção das suas complicações. No consultório, além dessa abordagem, há uma demanda crescente, e que muito me agrada, da orientação sobre promoção da saúde e prevenção das doenças antes que elas venham a surgir. 

Sempre promovendo a Saúde?

Este sempre será o objetivo final. 

“Mulheres e crianças, primeiro”; depois os homens?

O mais urgente será sempre o privilegiado. A vantagem física atribuída ao sexo masculino não é unânime. Há condições clínicas mais prevalentes em homens e, em alguns casos, a gravidade pode ser maior neles. Cada situação deve ser sempre individualizada.

Qual o país mais obeso do mundo e que lugar está o Brasil?

Os Estados Unidos lideram esse “ranking”, com quase 40% da população preenchendo critérios clínicos para obesidade e, infelizmente, mais de um quarto da população brasileira já apresenta o IMC (índice de massa corporal) superior a 30, o limite entre o sobrepeso e a obesidade. 

Afinal, o grande segredo é “fechar a boca” e praticar atividades físicas, com orientação médica?

As estratégias não podem ser tão simplistas. Combater o sedentarismo é um bom início, pois ele é responsável por uma boa parcela das causas de mortalidade geral, comparado, por exemplo, ao tabagismo. Antes de pensar em estratégias restritivas, melhorar a qualidade da alimentação também é fundamental. Estimular o consumo de alimentos naturais em detrimento de alimentos ultraprocessados é uma estratégia muito interessante que o Guia Alimentar para a População Brasileira sabiamente preconiza.

Realmente, nada simples...

Em última instância, o que fará com que haja emagrecimento é o balanço energético negativo (comer menos que gastar), porém, há que se pontuar as causas deste desequilíbrio. Genética importa, assim como hábitos culturais, preferências pessoais, saúde mental e qualidade do sono.

Para este fim de 2022, algum lançamento?

Tenho em andamento projetos educacionais de incentivo à saúde, tanto a partir de orientações individuais, no consultório, como também em empresas privadas, grupos fechados com interesses comuns, como obesidade, diabetes, esportes, saúde reprodutiva e climatério. 

Para 2023, alguma novidade?

Expandir esse projeto educacional com novas parcerias. Atividades em grupo permitem a identificação, a troca de experiências e o compartilhamento de resultados entre pessoas de interesses afins. 

Você já retomou a normalidade depois da pandemia? Viagens, por exemplo?

Sou grata ao fato de minha profissão ter me permitido não parar. Trabalhei e me exercitei diariamente durante todo este período de incertezas, o que me permitiu manter a saúde física e mental para me adaptar ao que não conseguiria mudar. Agora que a normalidade se restabelece, tenho sim algumas viagens programadas: Turquia em novembro (curtir o marido) e EUA em janeiro (com a família). Viajar me faz feliz.

Você tem tempo para ler, ver filmes?

A leitura é um hábito diário. A literatura técnica me consumiu muito durante a pandemia, confesso, mas tenho sempre alguns livros de cabeceira e uma fila de espera me aguardando... Gosto da literatura moderna, mas sempre tenho a sensação de que os clássicos não resistem ao tempo por acaso: sempre há o que aprender. 

Copa do Mundo?

Apesar de não ser fã de futebol, torço com meu marido e meu filho, e gosto da energia do brasileiro durante a Copa do Mundo. É um momento de descontração coletiva, de otimismo e esperança, quase um antidepressivo instantâneo. Se faz bem e promove saúde, adoro!