Paulo Navarro | segunda, 18 de dezembro de 2023

Entrevista com Leo Brizola. Foto: Aélvaro Fraéguas

Leonard e Basta!

Pela primeira vez, em quase, ou mais de mil entrevistas, aqui, "erramos" quase todas as perguntas. O importante é que o pintor, artista plástico, Leo Brizola, acertou todas as respostas. Mesmo não se estendendo, Brizola desmontou vários clichês e parece o Tom Jobim, cantando sua linda Lígia: "Nunca fui ao cinema. Não gosto de samba. Não vou a Ipanema. Não gosto de chuva. Nem gosto de sol". Leo Brizola não acompanha esporte nenhum; está nem aí para idade e efemérides; já perdeu ou nunca fez as contas. começou e nem quer terminar; vive enfurnado, pintando e bordando no ateliê/fazenda; não vê aposentadoria em nenhum estilo/escola; não acredita em arte verdadeira e considera-se "mestre" em coisa nenhuma. Leo Brizola pensa nem no amanhã, acertando na mosca de novo: "o futuro a Deus pertence". Então, para terminar a introdução e vocês começarem a leitura, vamos apenas voltar ao seu nome que não é Leonardo, nem é Leonel e muito menos Lionel. É Leonard. Como os gênios da música, cada um em sua praia, Leonard Cohen e Leonard Bernstein. Assim, com vocês, "Il Maestro"! Maestro coisa nenhuma, deve estar pensando, agora, Leo Brizola. Pensando coisa nenhuma, pintando.

Leonardo Da Vinci ou ao Leonel Brizola?

Meu nome provavelmente seria Leonel em homenagem a Leonel Brizola, que era amicíssimo   e primo de meu pai Walter Brizola. Leonel seria meu padrinho e me batizaria, mas devido ao exílio, quem acabou batendo o martelo sobre o nome Leonard foi minha avó Mariquita. Se ela gostava do Da Vinci não tenho ideia... Provavelmente sim! 

Outra: Lionel Messi! Você curte futebol?

Não acompanho esporte algum

Voltando ao Da Vinci, ele morreu jovem, aos 67 anos. Van Gogh tinha 37 e Modigliani, 35. Você tem 61. Isso te faz pensar em privilégio, sorte ou normalidade e responsabilidade,  guardadas as proporções?

Acredito que todos estejamos vivendo mais tempo, dadas as proporcionalidades 

É verdade que você está completando 50 anos de arte?

Não faço contas... Fico pensando: quando se deve começar a cronometrar?

Como começou e continuou?

Comecei ganhando livros de minha mãe logo que aprendi a ler... Lindos livros ilustrados... Acho que daí veio o gosto pelas imagens. Quando criança, desenhava muito. A pintura veio nos anos 70 e a costurada também. Já adolescente entrei na escola Guignard e nas Belas Artes da UFMG. Agora tenho um atelier na fazenda onde passo a maior parte do tempo pintando e bordando.

Como pensava o poeta e crítico de arte, Ferreira Gullar, a arte, hoje, quase aposentou a pintura, privilegiando instalações, vídeo-arte, etc. O que pensa sobre isso?

A arte reflete o tempo... Não vejo aposentadoria de modalidade alguma.

Você é e sempre foi figurativo? Considera como sendo a “verdadeira arte” ou, como diz outro crítico, Frederico Morais, “arte é o que você e eu chamamos arte”?

Figuração? E existe outra coisa? E verdadeira arte... Isso existe?

Na arte figurativa, onde você é mestre, quem foram os teus?

Quando falamos de "mestres" percebo que não sou mestre coisa nenhuma, aprendi com toda a história da arte através de livros que falei... Quase não vi pessoalmente os originais aos quais faço referências...

Tua arte é “tradicional, clássica”. Contém “desenho”. É um elogio?

Não me considero tradicional e clássico, acho que estou mais para irônico... Com uma leitura atenta, acho que essa ironia se escancara... Não são poucos os ingredientes que formam uma obra... A salada é variada.

E o erotismo no teu trabalho? Faz parte do show, da herança de um Ingres?

O erotismo não é uma das primeiras motivações que me vem à cabeça quando sento no cavalete... Acho que erotismo está nos olhos de quem vê. 

Por fim, como pretende celebrar os 50 anos de arte, lembrando que Picasso, uma raridade, morreu aos 91 anos de idade e, literalmente, ativo?

Pretendo celebrar, como sempre o fiz, enfurnado no meu atelier pintando.

Planos para 2024?

2024 é futuro e o futuro a Deus pertence...