Paulo Navarro | segunda, 17 de julho de 2023
Entrevista com o presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis. Foto: Paulo Lacerda
O Senhor das Artes
Com sorriso fácil, franco; humor e fino trato, suas decisões são firmes, provando visão ampla e precisão cirúrgica em seus objetivos. Jornalista de formação, o jovem presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis, em apenas um ano, já mostrou a que veio, marcando sua gestão, tendo a mineiridade como essência. “É o lugar que habito desde sempre e de onde me vejo com muito orgulho. Toda minha trajetória profissional teve como ponto seminal a valorização do que nós somos”. Mas Sérgio não quer loas, nem descansar sobre louros. Irrequieto, almeja o protagonismo da produção cultural de Minas Gerais e do Brasil, com apostas inéditas, criativas e exclusivas. Como poderão ler a seguir, ele está bem perto de conseguir.
Sérgio, primeiro Congonhas, depois o mundo que é Minas Gerais?
Na verdade Congonhas, com seu barroco, sua paisagem histórica, seu Santuário que é Patrimônio Mundial, sua religiosidade e fé, suas manifestações culturais, sua comida típica, seu povo, sua hospitalidade e suas contradições ligadas, sobretudo, à atividade mineradora, é de onde vejo o mundo. É onde estão minhas raízes e para onde sempre retorno para recarregar as energias e me manter conectado ao real sentido da vida.
Como escreveu Tolstói, “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. Daí a busca pela “Mineiridade”?
A mineiridade é a minha essência. Toda minha trajetória profissional, seja como jornalista, produtor cultural e gestor público, teve como ponto seminal a valorização do que nós somos. Sempre tive muito orgulho disso, da minha aldeia, do meu lugar. Por isso, optei por ficar em Minas, trabalhar em Minas, e dedicar todos os meus dias ao meu lugar. Quando fui convidado a estar numa gestão que tem como política pública prioritária a valorização de nossa mineiridade, no sentido mais amplo, os objetivos foram coincidentes também com meu projeto de vida.
Consegue resumir tua trajetória até a presidência da Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes?
Tive longa carreira como jornalista cultural da qual me orgulho muito. E quando percebi que a profissão estava em transformação, resolvi me transformar antes: voltei para a universidade e busquei outras especializações nas áreas das artes visuais, relações internacionais e patrimônio, áreas que me abriram portas na gestão pública. Fui diretor do Museu de Arte da Pampulha, diretor Artístico do Palácio das Artes, diretor do Museu de Congonhas, presidente da EMC (Rede Minas e Rádio Inconfidência) e, atualmente, presidente da Fundação Clóvis Salgado. Em todos os lugares, a preocupação foi sempre a mesma: dar luz e oportunidade para a produção cultural de Minas Gerais ganhar a proporção e visibilidade merecidas.
Para onde quer levar o maior complexo cultural da América Latina?
Para o protagonismo da produção cultural de Minas Gerais e, até do Brasil. Partindo da essência de Minas para ganhar destaque em outras searas. Não existe, no País, um complexo cultural como a Fundação Clóvis Salgado: aqui, a formação, a produção, a difusão e a democratização da arte e da cultura, nas diversas áreas, convivem o tempo todo. Ao priorizarmos a mineiridade, em todas as nossas ações, buscamos universalizar aquilo que temos de mais genuíno e que consegue nos distinguir neste cenário cada vez mais competitivo e desafiador.
Como quer deixar marcada tua gestão?
Tratando nossa produção cultural com apostas inéditas, criativas e exclusivas. Cada vez mais priorizamos projetos autorais, criativos, de formação de novos públicos e ainda programas que buscam dar oportunidade de visibilidade a todas as artes e pessoas. Desde que assumimos a gestão do Circuito Liberdade, que congrega em torno de 40 equipamentos culturais de Belo Horizonte, nosso olhar se ampliou para além da sede da FCS. Hoje nosso território é a capital.
Como você define a “cereja do bolo”, o Palácio das Artes que é um mundo de arte?
O Palácio das Artes é a sede da Fundação Clóvis Salgado onde, há mais de 50 anos, produções operísticas, concertos, exposições, cinema, difusão e formação acontecem. Nosso desafio tem sido ampliar e modernizar a atuação desta instituição para outras manifestações artísticas como a moda, a arte urbana, a cozinha mineira e novas tecnologias, sem perder nossa essência.
Quem é o público fiel do Palácio das Artes?
É o público que tem uma relação afetiva com este que é o maior complexo cultural da América Latina e de onde partiram vários capítulos de nossa produção cultural.
Esta semana, de 20 a 23 de julho, estreia o “Viva Ópera”. O que é? O que o público vai aplaudir?
“Viva Ópera” é um espetáculo operístico no qual celebraremos os principais momentos de algumas das mais belas óperas do nosso repertório. Tudo começa com um sonho de uma garota que vai nos guiando pelos melhores momentos de nossa história operística. Para quem gosta do gênero e para os que ainda não são iniciados é uma imperdível oportunidade para vivenciar este gênero que é a união de todas as artes.
Quanto tempo de produção?
Desde o ano passado estamos viabilizando a produção deste espetáculo. Escolhendo a equipe de criação, os títulos contemplados, os solistas, refazendo os cenários e figurinos. Há dois meses a produção entrou na reta final unindo todas as áreas da Fundação. Será uma superprodução.
Qual o repertório e quem são as estrelas?
“Viva Ópera” reunirá, em duas horas, os melhores momentos da ópera italiana, como “Aída”, “Nabucco”, “Rigoletto” e “La Traviata”, todas do compositor Giuseppe Verdi; além de “Turandot” e “Madama Butterfly”, de Giacomo Puccini; “Norma” de Vicenzo Bellini; “Lucia de Lammermoor”, de Gaetano Donizetti e também, “O Barbeiro de Sevilha”, de Gioachino Rossini. Para dar vida a estas obras, teremos alguns dos maiores solistas em atuação no Brasil, como Elko Senda, Michel de Souza, Ludmilla Bauerfeldt, Estefania Cap, Fellipe Veloso, Melina Peixoto, Eliseth Gomes, Tereza Cançado e Lucas Damasceno.
Qual tua ópera favorita?
“Nabucco”, de Giuseppe Verdi. Por tudo que significa e por representar um grande momento da produção operística da Fundação Clóvis Salgado.
Faça o convite para a temporada lírica, por favor.
O que tem de melhor no repertório operístico da Fundação Clóvis Salgado, para abrir esta temporada. Além de “Viva Ópera”, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, que está imperdível; faremos as “Noites Líricas”, no Palácio da Liberdade e em outubro, outro grande desafio: adaptar para esta linguagem a obra de João Guimarães Rosa. Já estamos em produção de “Matraga”, adaptação de Rufo Herrera, do conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”. A estreia será em um local inusitado das Gerais, que inspirou o clássico da literatura.
Por fim, depois da ópera, Jequitinhonha?
Em agosto. Pela primeira vez unimos dança, artes visuais, música, artesanato e cultura popular recriando, na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, a riqueza de simbolismos e da cultura do Vale. “Jequitinhonha, origem e gesto” é uma ocupação artística para celebrar o Jequitinhonha, as tradições e cultura do Vale, em uma grande exposição e no novo espetáculo da Cia de Dança Palácio das Artes.