Paulo Navarro | segunda, 14 de agosto de 2023
Entrevista com o historiador Anísio Ciscotto. Foto: divulgação
Engenho e Arte
Nossa entrevista de hoje é deveras esclarecedora e interessante porque vai tratar do livro, “Imigrantes e empreendedores”, do historiador Anísio Ciscotto. O título diz muito, faz justiça, agradece, reconhece, mas não conta tudo, claro, sobre “os impactos sociais, econômicos e culturais gerados pela imigração italiana em solo mineiro desde o fim da Segunda Guerra Mundial até os dias atuais”. Porém, antes da entrevista, tentem imaginar o que era a Europa, como ficou a Itália e que outro Brasil existia no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Reflitam sobre a famosa frase do cínico personagem do ator Orson Welles, Harry Lime, no filme "O Terceiro Homem", de 1949: “Na Itália, em trinta anos sob os Bórgia, os italianos tiveram guerra, terror, assassinatos e banhos de sangue, mas produziram Michelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença. Na Suíça, eles tiveram amor fraterno, quinhentos anos de democracia e paz - e o que produziram? O Relógio cuco”! E em Minas? O que os italianos produziram? Boa leitura.
Anísio, resumidamente, do que trata seu recém lançado livro, “Imigrantes e Empreendedores”?
O livro, basicamente, conta a História da Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira de Minas Gerais que completou recentemente 25 anos de fundação. Contextualiza os panoramas econômico, social e infraestrutura do estado pós Segunda Guerra Mundial e o aumento da chegada de empresas e empreendedores italianos após a instalação da FIAT Automóveis em Betim, com sua grande cadeia de fornecedores. Também elenca 22 italianos (nascidos na Itália ou aqui no Brasil) que se destacaram e se destacam no desenvolvimento do Estado de Minas Gerais em diversos setores, como indústrias, comércio, cultura, esporte, política, diplomacia e vários outros.
Como foi o lançamento, dia 6 de junho?
O lançamento foi muito concorrido com a presença de diversas pessoas e foram distribuídos quase 100 livros (lembrando que o livro é gratuito). Estiveram presentes alguns dos entrevistados pelo livro e a aceitação foi bem grande.
Quantos são os descendentes de italianos, em Minas e no Brasil?
No Brasil estima-se que 30 milhões de habitantes têm o direito à cidadania italiana. Em Minas Gerais aproximadamente 15% da população, aproximadamente 3,5 milhões, têm direito à cidadania.
Os primeiros chegaram quando? Em levas e anos diferentes?
A primeira leva veio para Minas no final do Século 19, durante a década de 1880. Tal movimento durou até a década de 1920, sendo o final da Primeira Guerra Mundial e a ascensão do governo de Benito Mussolini, um marco de referência para o final das imigrações. Após o final da Segunda Guerra Mundial em 1945, com a Itália quase totalmente destruída, uma nova leva se dirigiu ao Brasil procurando novas oportunidades.
Exatamente. O livro trata dos que vieram para o Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial. Por que estes empreendedores deixaram a Itália?
Os governos de JK foram fundamentais para o desenvolvimento de Minas Gerais, tanto como governador, como presidente da República. Investimentos em energia elétrica, estradas e outras obras de infraestrutura foram fundamentais para incluir Minas no rol de regiões propícias para a chegada de novos investimentos. A chegada da FIAT Automóveis na década de 1970, trazendo sua grande cadeia de fornecedores propiciou a vinda de muitos conterrâneos da montadora.
O que influenciou a predominância deles em certos estados?
Muitos vieram acompanhando parentes, mas também vendo a oportunidade de novos negócios muitas vezes inéditos por aqui.
Qual o principal legado destes imigrantes?
O italiano traz em seus valores a questão da ajuda mútua e amparo aos mais necessitados. São muitas as ONGs de apoio a pessoas em perigo social. Padres, freiras, missionários italianos, em Minas, vieram cuidar das populações em perigo. Também a valorização do trabalho duro e honesto foi um legado.
A pesquisa também rendeu um precioso acervo audiovisual. Qual?
Toda pesquisa sempre rende material para futuras pesquisas. O acervo da Câmara de Comércio, que já era grande, aumentou ainda mais. Agora temos as gravações das entrevistas, os vídeos institucionais e outros tantos documentos que surgiram durante a pesquisa.
Existe material para mais livros e registros?
A História de uma instituição como a Câmara de Comércio sempre gera novos registros e acervos. Mas ainda é cedo para pensarmos em uma edição do cinquentenário!