Paulo Navarro | segunda, 13 de novembro de 2023

Entrevista com o cineasta Cláudio Fraga. Foto: Flavia Canavarro

Martelo, Marmelo, Marcelo

Em 1976, a escritora Ruth Rocha escreveu um clássico da literatura infanto juvenil, “Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias”. No livro, Marcelo cismou com o nome das coisas: “Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo? E por que é que não escolheram martelo ou marmelo?”. A mãe respondeu: “Porque um é ferramenta e marmelo é uma fruta”. E Marcelo: “E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?”. Cláudio Fraga conseguiu resolver a dúvida de Marcelo, criando e dirigindo a marca “O Tubarão Martelo”. Porque tubarão não pode chamar Marcelo, muito menos marmelo. No mais, o Tubarão Martelo tem cabeça em forma de martelo e, em vez de fazer perguntas difíceis e comer gente, é um tubarão bonzinho. Um tubarão que quer salvar mares e oceanos. É “o super herói dos mares e protetor do meio ambiente. O que, de certa forma, é uma verdade. Ele só quer viver em paz em seu habitat”.  Quem quiser saber mais sobre  o evento e o filme “O Tubarão Martelo e Os Habitantes do Fundo do Mar” - outros super heróis - e como podemos salvar nosso enorme e frágil Planeta Água, basta nadar nas próximas palavras e de braçadas. 

Cláudio, sinceramente, você tem medo de tubarão?

Medo eu não tenho porque ele está lá no mar e eu estou aqui na terra, mas tenho muito fascínio por tubarões. Na letra da música do Tubarão Martelo, eu falo assim: “Eu sou um tubarão, um tubarão martelo, viajo os sete mares, vou para todos os lugares, mas não é bom se aproximar de mim, porque afinal de contas, eu sou um tubarão, um tubarão martelo...” No entanto, como trabalhamos o lado lúdico com as crianças e, no mundo da imaginação, tudo pode, trazemos um personagem afetuoso e que instiga as crianças a cuidarem do ambiente marinho. O Tubarão Martelo, aqui, é o super herói dos mares e protetor do meio ambiente. O que, de certa forma, é uma verdade. Ele só quer viver em paz em seu habitat. 

O filme “O Expresso da Meia-Noite” (1978), de Alan Parker, durante muito tempo prejudicou a imagem da Turquia. O filme “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg, tornou o tubarão um vilão que ele não é. E o teu projeto “O Tubarão Martelo”? Veio suavizar a imagem do tubarão malvadão?

Como o nosso público é infantil, as crianças não têm essa ideia do tubarão “malvadão”. O nosso personagem Tubarão Martelo é a representatividade de um animal, que em geral, todos respeitam, e como ele traz uma mensagem de amor pela vida no planeta Terra, a ideia de que tubarões são malvados, não existe para o universo infantil, pelo contrário. A maioria das crianças gosta muito da imagem de tubarões. 

Nele você faz tudo e ainda assinou o roteiro com Ana Luísa Alves. Afinal, o que é este projeto?

Este projeto surgiu em 2011, quando fui acolher um pedido da diretora da escolinha infantil onde o meu filho estudava e que, na época, tinha quatro anos. Por eu ser compositor e ter sido por 14 anos professor de musicalização infantil, ela me pediu para criar o tema da festa de final da escola e, em uma noite, eu criei 10 canções que, posteriormente, viraram um disco intitulado “O Tubarão Martelo e Os Habitantes do Fundo do Mar”. Naquele ano, as professoras encenaram com as crianças e fui instigado pelos pais a criar as animações. 

Tubarão ao mar...

Fiz os desenhos animados, um para cada música, criei o canal. Depois, as famílias que assistiam começaram a pedir para conhecerem pessoalmente os personagens. Daí, veio o espetáculo musical infantil de mesmo nome e que também viaja pelo país, sempre esgotando as sessões. Então, trata-se de um projeto infantil de música, audiovisual, teatro, dança e literatura, comprometido com a infância. 

Então é cardume de tubarões!

O Tubarão Martelo é uma marca registrada de produtos, vídeos musicais, filmes e negócios de entretenimento infantil. Oferecemos entretenimento, conhecimento e valor às crianças em idade pré-escolar de forma lúdica, divertida e educativa, através de produtos, experiências e conteúdos que proporcionam momentos inesquecíveis.

E pelo jeito o tubarão está faminto...

É o nosso mais recente projeto, e também o nosso passaporte de entrada no cinema brasileiro e mundial. Esse filme é um produto que só foi possível devido ao Edital Petrobras Cultural, que vencemos em 2020, representando o audiovisual mineiro. A direção é de Carlos Magalhães e minha, Cláudio Fraga, com animação da Dogzilla Estúdio e Immagini Stúdio.

Foto: Flavia Canavarro

O cardume também é humano?

Eu assino a criação e a direção musical, além do roteiro, ao lado de Ana Luisa Alves e Carlos Magalhães. A criação da trilha é minha e de Richard Neves, Tatá Sympa, Rogério Delayon, com mixagem de André Cabelo. A produção é da Luz Comunicação e de O Tubarão Martelo. As dublagens foram feitas por atores mineiros e a finalização pela produtora Caturra Filmes.

Afinal, qual é a praia deste tubarão e amigos?

Uma breve sinopse do filme: quando um valente navegador parte em busca de tesouros escondidos nos oceanos, é surpreendido pelo Tubarão Martelo e seu fiel Peixe-Piloto, e levado por sereias a conhecer todos os habitantes do fundo do mar e suas particularidades, numa aventura cheia de suspense, que revelará as verdadeiras riquezas da vida, ameaçadas por terríveis predadores, os seres humanos. Envolvida por muitas músicas, essa é a trama que embala “O Tubarão Martelo e os Habitantes do Fundo do Mar - O Filme”.

Como foi a estreia em BH? Já está no circuito ou antes, participando de festivais?

A pré-estreia aconteceu na Cineart do Shopping Boulevard e foi incrível e emocionante. Foram duas salas de cinema que receberam os fãs do Tubarão Martelo, com muita expectativa antes da exibição e muita felicidade após. Foram muitos elogios que nos encheram de orgulho e alegria. Após a pré-estreia no cinema, o filme seguirá por festivais, antes de chegar ao circuito comercial.

O filme ganhou o edital “Petrobras Cultural para Crianças - Animação Infantil”. Qual a importância do edital? Quantos filmes participaram?

Sim, fomos o vencedor na categoria mais concorrida, a de média-metragem. O filme tem 26 minutos. Eram apenas duas vagas no Brasil. Esse edital foi nacional, ou seja, as principais produtoras audiovisuais de animação do Brasil estavam concorrendo. Isso foi uma vitória gigante para o nosso projeto, para o audiovisual de Minas Gerais. Foram aproximadamente 500 produtoras de todo Brasil que inscreveram os seus respectivos projetos.

O filme quer alertar sobre a importância da preservação da biodiversidade? Mares e oceanos correm muitos perigos reais?

Sim, isso mesmo. Desde do início do projeto, os nossos conteúdos sempre estão voltados à preservação da biodiversidade, das águas e do planeta Terra. No filme tivemos a oportunidade de mostrar o que nós, humanos, andamos fazendo com os oceanos. Mostramos o quanto a vida marinha está em risco, com tantas toneladas de plástico, lixo e redes de pesca que são jogados e deixados no oceano. 

Mas aí cabem mais vilões?

Mostramos também a pesca de arrasto que é muito comum em vários países, no qual navios jogam grandes redes no fundo do mar e arrastam tudo que encontram pela frente, matando uma grande quantidade de espécies, inclusive os corais. Sim, os oceanos, mares e toda a vida marinha correm grande perigo e o nosso filme, tem o objetivo de ser uma importante voz para essa causa ambiental. É um filme infantil, mas a mensagem dele é para todos.

Qual a maior ameaça? A poluição ou a pesca predatória, indiscriminada que, além de peixes mata tudo que pesca e arrasta, sem precisar, como a flora e fauna marinhas?

A poluição mata a vida marinha de um jeito e a pesca predatória mata de outro. Ambos são igualmente fatais à vida marinha. A maior ameaça é o próprio ser humano com a continuidade de suas ações de interesses exclusivamente econômicos e privados. Tanto a poluição dos oceanos quanto a pesca predatória são decorrentes desses interesses econômicos.

Que tubarão navega no Youtube?

O Tubarão infantil mais querido de todas as crianças brasileiras, o Tubarão Martelo. No canal youtube.com/@otubaraomartelo temos os desenhos animados de cerca de 20 animais marinhos, sendo que todas as canções trazem as características, o que gostam de comer, onde vivem no fundo do mar, tudo de forma divertida. O objetivo é sempre unir entretenimento com educação, o que vem dando certo. Hoje, já temos mais de 30 milhões de visualizações no canal e recebemos retorno de famílias de todos os cantos do Brasil falando da importância do projeto para os filhos pequenos. 

O filme que já foi espetáculo é o primeiro de uma série de produções mineiras?

Sim. Acreditamos ser o primeiro filme infantil de animação realizado em Minas Gerais, que nasceu de um roteiro de um espetáculo teatral infantil intitulado “O Tubarão Martelo e Os Habitantes do Fundo do Mar”. Esse filme é um importante passo que conseguimos para as futuras produções que temos como objetivo, uma série do Tubarão Martelo e um longa metragem do nosso personagem, para fortalecermos ainda mais o audiovisual e as produções de Minas. E, claro, sempre unindo educação, proteção ambiental e entretenimento.