Paulo Navarro | segunda, 13 de fevereiro de 2023

Entrevista com Patrícia Nogueira. Foto: arquivo pessoal

Papel de Nogueira

Comer e mastigar de “boca aberta” e falar de “boca cheia”. Não dar bom dia, nem se despedir. Chegar atrasado, tratar mal os mais humildes. Falar alto, gritar, jogar lixo no chão, tudo isso é falta de educação. Falar e escrever errado; pensar e votar errado. Viver da opinião alheia, deixar-se cooptar e agir com a “cabeça dos outros”; defender e apoiar a corrupção; tudo isso é falta de Educação. Já ensinou o escritor Monteiro Lobato que, “um país se faz com homens e livros”. Um país, uma vida, se faz com homens, mulheres e livros. Mulheres, homens e livros livres. Pensamentos livres. Povo educado lê, aprende, ensina, dá exemplo e, dificilmente, é dominado, corrompido, conduzido como gado para todo tipo de matadouro, a começar pelas urnas. Pois bem, nossa entrevistada de hoje é Patrícia Nogueira que, muito cedo aprendeu: ser é melhor que ter. Que pequenas ações movem e mudam o mundo. Que o analfabetismo é fatal e destino. E principalmente que a leitura na infância é fundamental. Mas a “biblioteca” de Patrícia vai muito além. Bem-vindos ao seu mundo.

Patrícia, como vai a vida?

Minha vida vai bem apesar de tantas mudanças em nosso país, mas quero continuar contribuindo e apostando no futuro.

Como vai a vida do próximo?

Preocupante. Infelizmente ainda lidamos com uma enorme desigualdade social. Também o aumento da defasagem no aprendizado, agravado pela paralisação das escolas nos dois últimos anos, impacta diretamente no crescimento individual, profissional e econômico de tantos brasileiros.

Quem é Gil Nogueira?

Meu Pai (com P maiúsculo mesmo)! Um grande mentor que nos deixou forte legado de sabedoria e equilíbrio emocional: SER é melhor do que TER e ajudar as pessoas, mesmo com pequenas ações, faz com que deixemos o mundo melhor do que o encontramos!

Como vai a vida do Instituto Gil Nogueira?

Para 2023 temos muitos projetos, sempre focados na diminuição do analfabetismo através do incentivo à leitura na infância. Em seus 17 anos de existência, o Instituto Gil Nogueira - IGN já atendeu 70 escolas públicas de Minas Gerais, mais de 75 mil alunos e mais de um milhão de livros foram lidos e interpretados. Este ano, contando com patrocínios, aportes pelas leis de incentivo, parcerias e realização de eventos, ampliaremos ainda mais o número de escolas atendidas. Acreditamos que nossas ações contribuem efetivamente para a evolução destas crianças garantindo um futuro com melhores oportunidades pessoais e profissionais.

Como vão o analfabetismo funcional e a leitura na infância?

Infelizmente o Brasil ainda possui um terço de analfabetos funcionais (indivíduos que, embora saibam reconhecer letras e números, são incapazes de compreender textos simples, bem como realizar operações matemáticas mais elaboradas). Nossa missão é exatamente a diminuição desses índices através do incentivo à leitura no ensino fundamental.

Como os hábitos, de ler e saber ler diminuem a desigualdade social?

Não saber ler é como ter miopia e não usar óculos. Sua visão do mundo é limitada. A mesma sensação de colocar óculos e passar a enxergar com clareza é a de aprender a ler e interpretar.
A leitura traz conhecimento, cultura, desenvolve o pensamento crítico e amplia a habilidade da escrita. Quais as chances de um jovem ingressar no mercado de trabalho tão competitivo sem essas habilidades?

O que é o projeto “Ler é Viver”?

Diante deste cenário, criamos uma metodologia para incentivar a leitura nos alunos de escolas públicas do 1º ao 5º ano que funciona assim: no início de cada semestre levamos para cada sala de aula uma caixa com 30 livros de literatura infantil, selecionados de acordo com a faixa etária das crianças. Uma vez por mês visitamos as escolas levando contadores de histórias que estimulam a leitura e a interpretação dos livros. Ao final do semestre acontece a premiação dos alunos com melhor desempenho mensurado através de avaliação pedagógica.

Como acontece a premiação?

Nos meses de julho e dezembro, os alunos são premiados com medalhas da seguinte forma: medalha de bronze para todas as crianças que leram e interpretaram de seis a 12 livros; medalha de prata para todas as crianças que leram e interpretaram de 13 a 15 livros; medalha de ouro para todas as crianças que leram e interpretaram 15 livros, mais pergunta interpretativa.

Para terminar, alguma outra dica ou tática para reverter nossa “Falta de Educação”?

Em minha opinião o Brasil precisa de políticas mais efetivas para a melhoria da educação. Hoje existem leis de incentivo para a cultura e para o esporte, porque não para a educação? Tenho certeza que muitos empresários, investidores e empreendedores ficariam felizes em destinar parte do pagamento de seus impostos para a melhoria da educação. Afinal todos nós concordamos que a educação muda tudo!