Paulo Navarro | segunda, 11 de dezembro de 2023

Entrevista com o fundador da Chili Beans, Caito Maia. Foto: Marcelo Tabach

Um Colírio para o Mundo

Dia 20 de novembro, em BH, conversamos com “O” empresário, Caito Maia, fundador da Chilli Beans, maior rede especializada em óculos escuros da América Latina, da Ótica Chilli Beans e apresentador do “Se Parar O Sangue Esfria”, na 89FM. Nascido em Cotia, SP, começou pelo “inesperado, acaso, destino” dos iluminados pelo empreendedorismo. Apaixonado por música, aos 18 anos, foi estudar na Berklee College Of Music, em Boston, Estados Unidos. Fascinado pelos óculos escuros americanos e utilizando seu instinto empresarial aguçado, Caito financiou seus estudos com a renda que obtinha dos óculos que trazia dos Estados Unidos para seus amigos do Brasil. Em 1997, com o aumento crescente da demanda por óculos, inaugurou a primeira loja da Chilli Beans, na Galeria Ouro Fino, em SP, revolucionando o segmento de óculos no país ao trazer para o varejo óptico o conceito de self-service; contato direto do cliente com o produto, produzindo 44 coleções limitadas por ano, com parcerias baseadas nos pilares de moda, música, arte e geek. A Chilli Beans está em mais de 17 países e com um “market share” de 17,4% no segmento de óculos escuros no Brasil. Uma de suas lutas, além da inclusão, envolve os impactos ambientais. Investiu em pesquisas para desenvolver materiais sustentáveis para os óculos. O resultado foi a coleção ECO, com produtos feitos com resíduos plásticos recolhidos do oceano, que se tornou parte do portfólio perene da marca. O resto da aula é com ele. Desliguem os celulares!

Caito, você criou uma turma fora da caixa ou você deu uma visão dessa turma? Você deu um horizonte novo, uma janela nova para essa turma aí, e daí um grande negócio?

Bom, na verdade, assim, quando você fala isso é justamente a liberdade das pessoas serem do jeito que elas são, né? 

Inclusão.

Exatamente. Respeitar as pessoas, a diversidade, do jeito que elas são. Grande parte do sucesso da Chilli Beans é o ecossistema apimentado da Chilli Beans. Você viu no navio... São pessoas que têm liberdade, que se posicionam e são respeitadas do jeito que elas são. Acho que isso é um dos segredos.

Para quem não sabe, explique a viagem de navio...

Você esteve lá e viu, é uma viagem de motivação, agradecimento aos funcionários. Uma merecida recompensa. É um evento nosso que acontece anualmente a bordo de um navio. Como hoje e agora, que você também está participando. O Superdose de Natal é este evento, aqui no Espaço Meet, que anuncia os próximos lançamentos da marca e celebra os grandes feitos do ano.

E voltando, como é que isso virou uma embalagem do seu negócio? Essa inclusão de pessoas como eu citei aqui, fora da caixa, elas viraram o seu consumidor, né? Isso aí foi; o que é? Foi uma sacada que o Brasil precisava nesse momento independente do que acontece aí fora?

No começo foi uma coisa natural, sem pensar. A gente ia empregando as pessoas que tinham personalidade que queriam vir trabalhar com a gente e que gostavam da nossa história, mas depois a gente percebeu que era realmente uma história de inclusão mesmo, de dar liberdade. Quantos homossexuais não foram expulsos de casa por serem homossexuais e que hoje trabalham com a gente há 10, 15 anos, entendeu? Então, realmente essa história da inclusão, de respeitar as pessoas do jeito que elas são e respeitar todas as tribos, depois do segundo tempo, virou uma estratégia.

E isso num primeiro momento passou exatamente pelos seus funcionários, a meu ver no navio, no Cruise, é a partir deles, dessa identificação que você criou uma clientela com essa receptividade, com essa identidade, com essa comunhão de interesse que você criou o império que você criou.

Na verdade é assim: quando você tem pessoas que trabalham felizes e são respeitadas, essa felicidade ecoa e contagia as pessoas que vão à loja, entendeu? Então quando você tem pessoas que estão felizes, no Brasil inteiro, você vai em uma loja e é respeitado com sorriso, você é tratado com sorriso com um jeito bacana e é respeitado do jeito que você é, acho que isso propaga, então aí aconteceu.

E a inclusão ela também não limita o cara fora da caixa, o cara dentro da caixa se sente um pouco assim, ele tem restrição de chegar, por que essa tribo é muito descolada?

Então, a gente cada vez mais incentiva para que uma loja tenha todas as tribos, entendeu? Todas, desde uma pessoa esportiva, casual, clássica.

Eu estou perguntando num preconceito na contramão.

No começo isso tinha mais. Hoje as pessoas vão vencendo cada vez mais o preconceito e até de não julgar um vendedor que tem uma personalidade e aí, muitas vezes, o que acontece? Elas são e tinham o preconceito, elas são muito bem tratadas, muito bem atendidas e viram fãs.

Como é que o "time" entrou dentro dessa visão?

Foi uma consequência, uns 10 anos atrás, 12 anos, a gente percebeu que tinha uma oportunidade, quem compra óculos escuros usa relógio, 

E aí, óculos personalizados e relógios também? 

Isso é identidade.

Mas o que é? Você cria uma personalidade exatamente assim, para cada um, um perfil? Um modelito? 

Na verdade, a gente não vende relógio, a gente vende acessórios de moda e a gente até brinca que relógio, “hora”, você vê no celular.

Vale para os óculos também? 

Os óculos escuros são mais de uma coisa, mais de proteção solar e com moda também. Agora, o relógio é um acessório que combina com a roupa das pessoas, por isso, acho que a gente se diferencia no mercado.

Para não te puxar mais a língua, o momento político do Brasil, nós temos aí exatamente, hoje, a novidade na Argentina, o que é? Tem receita? Como é que é o caminho disso? 

O caminho é o mesmo caminho dos últimos 30 anos.

O caminho do negócio que eu estou perguntando, passa pela política.

Sim, assim, na verdade, independente do que aconteça no Brasil, quem faz o Brasil somos nós brasileiros empreendedores. Não espero nenhuma ajuda, nunca esperei, nunca tive, vou continuar meu trabalho e acredito no Brasil.

Benza Deus!