Paulo Navarro | sábado, 8 de janeiro de 2022

Entrevista com a estilista Marcelle Ferreira. Foto: Thais Weick

Asas da Liberdade

Sempre existe um recomeço. No caso de hoje, migrando do negócio familiar para a moda, está Marcelle Ferreira, com a marca Oand e o projeto “Crochetando o Futuro”. Traduzindo nomes, cores e ideia; Marcelle, marca e projeto levam uma oportunidade de recomeço aos detentos do sistema fechado da Associação de Proteção aos Condenados APAC. Para ela, um “momento 50+”, de recomeçar bem, em 2022.

Marcelle, o mundo precisa de mais uma marca?

Não se trata de quantidade, mas de responsabilidade e processos das marcas existentes. Precisamos de mais marcas trabalhando em pequena escala, priorizando o local, o manual e a inclusão em sua produção. Oand tem como pilares o “slow fashion” e o cunho social. A parceria com a APAC leva aos detentos à descoberta da capacidade de produzir algo belo e de valor, trabalha a autoestima e cria oportunidade de emprego. A moda demanda o feito à mão.

É hora de recomeçar?

Com certeza. Novas paixões. A idade nos distancia de algumas coisas e nos aproxima de nós mesmos, construindo novos conteúdos e sonhos.

E este recomeço?

Como boa empreendedora, vou do céu ao inferno, comprando vários cursos, passando pela formação de “brand”, mídia social, modelagem etc. Faço aulas nos ateliês Fio da Trama e Catavento. Existe uma complexidade na Oand, o aprendizado é enorme.

E o “Crochetando o Futuro”.

Foi criado em 2019. O detento aprende, é remunerado e ganha autoestima. A Oand ganha o feito à mão. Uma vez por semana, passo o dia com o grupo desenvolvendo o protótipo do que será feito, forneço o material e eles até opinam. Temos momentos leves e divertidos, característicos da criação de algo. Cada peça é única, dependendo da personalidade de quem faz. Hoje tenho grupos em duas unidades masculinas e, em 2022, teremos outras duas. Com o crescimento da Oand, a ideia é expandir em todo o sistema APAC e trazer para o negócio detentos transferidos para o sistema semiaberto.

E as vendas?

Atualmente as vendas são pelo instagram @oand.brasil e estamos no Diamond Mall, na Pop Up Galeria, onde Adriana Coutinho reúne 14 artistas em uma proposta de “pop up”. Estamos também na Fata Morgana, loja tradicional na Savassi. Existem eventos importantes em BH, que apoiam o empreendedor que está começando, Mary Design promove quermesse e bazar ao longo do ano; Kika Gontijo, o Bazaar no final do ano. A A.criem começou com os coletivos. A casa 89 também abre espaço. Acho que o maior desafio é o consumidor entender o valor do feito à mão. Não somos educados com essa visão. O feito à mão e o produto nacional precisam de um lugar no desejo do consumidor Brasileiro.

Mas afinal, é arte ou é bolsa?

Na minha opinião, algumas bolsas são verdadeiras obras de arte. A bolsa Bella é tecida com aproximadamente seis mil pontos. A Ariel tem 91 partes costuradas na técnica do crochê. Os detalhes e acabamentos são cuidadosamente trabalhados. É arte e é bolsa!