Paulo Navarro | sábado, 8 de fevereiro de 2020

Foto: Merí Bello
A leveza do ser
Segundo pesquisas e o médico Henrique Eloy Bueno Câmara, especializado em cirurgia geral e bariátrica, sim, o Brasil é um país de obesos. 54% da população encontram-se acima do peso ideal e 1/5 com obesidade importante. “Somos o segundo país do mundo em obesidade, atrás apenas dos EUA, mas aqui a velocidade do aumento da taxa é maior. Nossa população está doente por causa da obesidade”.
Direto ao ponto, para obesidade mórbida só cirurgia?
Sim, desde 1991 a cirurgia bariátrica é considerada o único tratamento capaz de controlar esta obesidade. Os tratamentos não cirúrgicos (dieta, atividade física e medicamentos) apresentam taxas de insucesso em torno de 95% após cinco anos.
Toda cirurgia tem riscos. Quais os da cirurgia bariátrica?
Além dos habituais – infecções, hemorragias, tromboembolismos, fístulas –, a cirurgia bariátrica possui riscos específicos: distúrbios metabólicos por falta de vitaminas e minerais e também alterações psíquicas, que às vezes podem ser graves.
Quais as vantagens em qualidade de vida?
Os benefícios de uma perda de peso sustentável a longo prazo são comprovados. Aumenta a expectativa de vida pelo controle das inúmeras doenças associadas e agravadas pelo excesso de peso, assim como a melhora na qualidade de vida no aspecto social e psíquico.
Além dos riscos físicos, existem os psicológicos, como o desenvolvimento de alcoolismo e depressão, correto?
Sim, o alcoolismo tem se tornado um problema frequente e grave. 1/4 dos operados pode apresentar esse quadro após cinco anos, podendo se tornar mais frequente com o tempo. A depressão também tende a aumentar. Por isto, é fundamental o acompanhamento com psicólogos e, às vezes, psiquiatras, não só antes da operação, como no pós-operatório. O sucesso a longo prazo se baseia em orientação nutricional permanente, atividade física regular e apoio psíquico constante.
A cirurgia afeta corpo e a mente? O “novo magro” deslumbra-se com a nova vida?
Exatamente. Existe muita frustração após dois anos, a “lua de mel com a operação”. Cria-se uma expectativa de que a operação resolverá todos os problemas afetivos, profissionais, familiares etc. Depois descobre-se que, muitas vezes, esses problemas permanecem, daí os desequilíbrios emocionais, por vezes graves.
Por que muita gente, depois da operação, volta a engordar?
A principal é a perda do controle sobre a ingestão de bebidas alcoólicas e o retorno aos maus hábitos alimentares. Falta de atividade física, com alterações psíquicas não tratadas também. E uma segunda operação tem risco elevado de complicações e resultados controversos.
Qual a porcentagem de sucesso total, ideal?
Segundo diversas Sociedades de Cirurgia Bariátrica, o sucesso é definido como a perda de peso de pelo menos 50% do excesso do peso de antes da operação e não apresentar reganho do peso perdido acima de 20%.