Paulo Navarro | sábado, 7 de novembro de 2020

Foto: Ada Penna
Sir Sean Shine
Dúvida cruel. André Penna McMurtrie é, primeiro, arquiteto ou artista plástico? Dois talentos, duas vocações siamesas. Um elogio: morar numa casa projetada por ele, repleta de suas telas. Telas com as cores do sol ou de todos os tons do preto, branco e cinza. A casa pode ser até um castelo, desde que bem assombrado por Sean Connery, seu “conterrâneo”. Foi difícil extrair palavras de André, que prefere lê-las. Na próxima entrevista, as respostas serão fotos.
André, para começar, uma curiosidade bem “castelo mal-assombrado da Escócia”, de onde vem este McMurtrie?
Vem de lá mesmo, das Highlands. Família inglesa paterna com origem na Escócia. William McMurtrie era meu avô, nome incorporado ao meu. Registros familiares em Edimburgo, do “highlander” e Sir Sean Connery, datados de 1483. Velhinho, não?
O que anda arquitetando, pintando ou bordando nesta pandemia sem fim?
A pintura sempre me ensinando o silêncio, o campo abstrato, solitário. A arquitetura de caráter intimista em nível residencial é a grande vocação sem fim. Com ou sem pandemia.
A pergunta que não pode falhar: o confinamento inspirou ou pirou?
O “estar em casa” não é novidade. A chegada do “espectro” que nos confina também não. Então, nada de novo no front. “Está tudo como dantes, no quartel d’Abrantes”.
Você é um assíduo, além do Facebook, do Instagram e outras redes também?
Posto com frequência obras de pintura e as casas projetadas. Evito permanecer tempo lendo nas redes. Ser assíduo em qualquer coisa é chato. Evita repetições.
Estas redes que pescam de tudo, são as novas galerias para a arte?
Galerias virtuais são desinteressantes pela ausência da possibilidade da real percepção e vivência das obras em sua transmissão de emoção e materialidade.
Como vai a produção 2020 Covid-19?
A pintura e a arquitetura são uma constante imprescindível à sobrevivência mental. O fazer diário, ano a ano. Este 2020, pandêmico ou não, não difere.
E o grande leitor André? Quem anda frequentando?
A imersão na literatura, parte fundamental para o encanto de se transformar em outros; em outras paragens, promove o esquecimento do chato “eu”. Viajando com o americano Thomas Pynchon, em “Contra o Dia”, e o argentino Ernesto Sábato. Aguardando, na fila, o cubano Leonardo Padura.
Teu vermelho e teu amarelo são inebriantes, mas em que cores é viciado?
Viciado em cores ou na ausência delas? Do preto ao branco, louvando o caminho do meio, o cinza.
Uma dica de filme ou série...
Uma série sul-coreana, “Mr. Sunshine”, um primor de beleza; locações incríveis, figurinos fantásticos. Como li numa crítica de Luana Marino, “Mr. Sunshine” é tão incrível que arrebata até quem nunca viu um único drama asiático. Somos conquistados de cara pela fotografia deslumbrante. O episódio piloto é uma pancadaria visual de deixar qualquer fã de mestres enlouquecido. E do início ao fim”.
Um pensamento, um desejo para 2021...
O sempre querer de paz! Que venha 2021! Beijos a todos.