Paulo Navarro | sábado, 1 de maio de 2021

Entrevista com a curadora, jornalista e crítica de design Adélia Borges. Foto: Mariana Chama

Design interior

A curadora, jornalista e crítica de design Adélia Borges continua mineira ou virou paulista? “Mineira, uai, com muito orgulho! Como se diz, a gente sai de Minas, mas Minas nunca sai da gente!”. Minas de vez em quando, nas férias ou sempre? “Sempre que possível. As viagens mais recentes foram justamente para Cássia, onde nasci”. Sim, Adélia pode cantar: “Sou do mundo, sou Minas Gerais”.

Adélia, consegue resumir tua trajetória?

Sou jornalista formada pela USP, em 1973. Trabalhei em vários veículos (Folha, Estadão, TV Cultura, TV Globo, etc.) até chegar à Revista Design & Interiores, nos anos 1980. Desde então me especializei e me tornei professora de História do Design. Desde os anos 1990 comecei a fazer exposições de design e não parei mais.

Em qual é mais atuante?

Hoje sou mais atuante em curadoria. Já fiz exposições em várias cidades brasileiras e também em países como França, Estados Unidos, Holanda, Inglaterra e Portugal. É uma profissão muito gratificante.

Agora, tem mais uma responsabilidade e honra, a de Doutora Honoris Causa pela Unesp. O que significa, além de ser a primeira mulher e em muito boa companhia?

Nunca pensei que eu estaria em algum momento da minha vida “ao lado” de personalidades tão ilustres como Celso Furtado, Orlando Villas Boas e Antonio Candido. Aliás, o grande crítico literário nasceu no Rio de Janeiro, mas passou a infância em Cássia e se considerava cassiense, veja só que coincidência! O fato de ser a primeira mulher numa lista de 18 nomes trouxe um misto de tristeza, pela invisibilidade e falta de reconhecimento sobre o papel social da mulher na sociedade como um todo, e de alegria, pelo fato de esse tabu estar sendo rompido. Espero que eu seja a primeira de “muiiittass”. Aos 70 anos, peço aos deuses que eu tenha forças para continuar lúcida e ativa ainda por muitos anos, pois tenho muito a pesquisar e a dizer.

Qual o diferencial do design do Brasil em relação ao mundial?

Em vez de falar do Brasil em geral vou me permitir uma opinião ousada. Se Minas fosse um país e tivesse políticas públicas voltadas para a difusão e incremento do design, creio que teria uma presença significativa no cenário internacional, tal como uma Holanda, por exemplo. Isso porque há uma concentração de profissionais muito competentes no Estado hoje. A CasaCor MG tem dado um bom espaço para o talento local. Está mais do que na hora de ser feita uma bela exposição sobre esse florescimento.

Como foi teu 2020, está sendo 2021 e o que espera de 2022?

Tenho o privilégio de morar numa casa gostosa, com um jardim, e tocar os projetos remotamente. Aproveitei 2020 para uma interiorização mais forte, repensar valores, caminhos. Agora em 2021, com o avanço da pandemia e a perda de tantos brasileiros, estou mais angustiada, mas remando o barco, fazendo a minha minúscula parte para que 2022 seja melhor para todos nós e para o planeta.