Paulo Navarro | Entrevista com Renata Borja
Entrevista com a psicóloga Renata Borja. Foto: arquivo pessoal
O tempo, o vento e o pensamento
Primeiro vamos complicar e confundir. Em dezembro de 2023, a psicóloga Renata Borja, dona da “Cognitiva Renata Borja”, uma das precursoras da Terapia Cognitivo Comportamental em BH, se tornou a primeira psicóloga brasileira a ser certificada pelo “MCT Institute” como especialista em Terapia Metacognitiva.
O Centro de Terapia Cognitiva conta com uma equipe multidisciplinar focada em diversas facetas de seus pacientes. E para melhorar, Borja e equipe desenvolveram um sucesso: a agenda “Cogplanner”. Um recurso exclusivo que reúne estratégias que auxiliam e muito o indivíduo adulto. E agora, em fase de finalização, uma versão infantil que chegará em breve. A terapia Metacognitiva tem como princípio básico ajudar o paciente a se ver livre da preocupação, ruminação e outras estratégias de funcionamento como evitação, abuso de substâncias que são origem dos distúrbios psicológicos e emocionais.
Agora, Renata Borja descomplica e explica tudo: o problema não está no que pensamos ou sentimos mas no reforço que damos ao que pensamos e sentimos quando nos preocupamos, ruminamos, analisamos, monitoramos, avaliamos nossos pensamentos e emoções.
Renata, como você se interessou pela terapia metacognitiva?
Tudo começou quando eu já estava trabalhando com terapeuta cognitivo comportamental em 2009 e fui me aprofundar no tratamento de transtorno de ansiedade generalizada. Eu li um texto que abordava o quanto o processo de preocupação contínua alimentava o transtorno de ansiedade. Isso fez muito sentido para mim e pude observar, na minha vida pessoal, o quanto as preocupações interferiam negativamente nas minhas ações e emoções.
Penso, logo “dexisto”?
Comecei a ler sobre o tema, questionar as crenças metacognitivas dos pacientes e ter resultados bem interessantes na minha prática clínica. Em 2011, tive o meu primeiro contato com o professor Adrian Wells num congresso na Turquia e, em 2013, tive outro contato com o professor Peter Fisher num congresso no Peru. Com o tempo fui introduzindo muitos elementos da MCT na minha prática clínica e também no Cogplanner, metodologia que desenvolvi que ajuda na mudança de hábitos e trabalha organização, planejamento, metas, pensamentos, emoções, resolução de problemas e tudo o mais que ajuda para o bem estar.
Você é a primeira brasileira especialista nessa abordagem?
Sim! Sou a primeira e atualmente única certificada em Terapia Metacognitiva pelo “MCT institute” e tenho duas psicólogas da equipe em especialização. Entendo que é uma abordagem inovadora que ajuda de forma rápida e efetiva no tratamento dos mais diversos transtornos.
Qual a diferença entre a terapia metacognitiva e a terapia cognitivo comportamental TCC?
A TCC ajuda o paciente a modificar pensamentos negativos ou criar uma solução de problemas caso seja verdadeiro. Ela trabalha os pensamentos buscando evidências que confirmem ou desconfirmem os pensamentos com o objetivo de mudar o pensamento. Por exemplo: se o paciente pensa que é incapaz de fazer algo, sem nem mesmo testar, o objetivo é questioná-lo e estimulá-lo a experimentar.
Aí, penetra a TCC.
A TCC parte do princípio de que a maioria dos nossos pensamentos são falsos ou exagerados e que esses pensamentos é que geram o sofrimento mental e por isso precisam ser modificados. No caso da MCT, ela entende que o problema não está no pensamento em si, mas no tempo que a pessoa gasta ruminando, preocupando, analisando e questionando determinado pensamento.
E a Meta?
A terapia Metacoginitiva entende que esse processo de hiperanálise é que reforça os pensamentos negativos e cria o sofrimento mental. O objetivo da MCT, portanto, é ajudar o paciente a focar menos nos pensamentos e ensinar recursos para diminuir as preocupações, ruminações e outros comportamentos negativos que reforçam os transtornos psicológicos.
Mas como não pensar? Como barrar o que vem sem pedir licença?
Se o paciente aprende a se distanciar dos pensamentos de incapacidade, por exemplo, e não fica ruminando sobre isso, ele apresentará menos esquiva para testar novas ações. Quando o paciente para de ruminar e se preocupar, ele melhora o seu humor e consequentemente toma melhores decisões. O objetivo é ensinar a pessoa a deixar os pensamentos passarem e não se conectar com os pensamentos como se eles fossem uma verdade.
“Distraídos venceremos?”
É aprender a olhar o pensamento com distanciamento de forma a não reforçá-los. Além disso, deixando de gastar o tempo com pensamentos improdutivos a pessoa fica com mais tempo para agir em direção às suas metas e objetivos, tornando-se mais ativa, produtiva e capaz... Esses resultados positivos acabam por reforçar um ciclo positivo de funcionamento.
Para quem a MCT é indicada?
Ela é uma abordagem transdiagnóstica. Isso significa que pode ajudar no tratamento dos mais diversos transtornos, uma vez que as preocupações e ruminações são processos mentais presentes nos mais diversos transtornos psicológicos. Entretanto ela é mais divulgada no tratamento da depressão, ansiedade, fobias, traumas e TOC, mas tem se mostrado promissora no tratamento da insônia e também da dor.
Existem livros em português sobre essa abordagem?
Sim. O “Viva mais e pense menos” é um best-seller dinamarquês, da autora Pia Callessen.
Você poderia oferecer um exemplo prático de como a terapia metacognitiva funciona?
Claro! Vamos supor que numa determinada situação você tenha se esquecido de fazer algo que seria muito importante e esse lapso poderá te causar alguns prejuízos. Diante desse fato você poderia pensar: Como eu sou burro! Poderia sentir tristeza e iniciaria um processo de ruminação tentando compreender o motivo do seu esquecimento com perguntas como: Como fui me esquecer logo disso? Porque eu não consigo me planejar e me organizar! Eu deveria aprender!
É o que não devemos aprender ou fazer?
Você então gasta algumas horas refletindo sobre o incidente e remoendo as causas e confirmando para você que você não consegue aprender a fazer diferente. Esse processo de ruminação te faz perder tempo e energia e aumenta a sua sensação de desconforto, pois você passa horas reforçando seu pensamento sem criar uma ação específica.
“E agora? O que vai ser de mim?”
Sim, e poderia se sentir ansioso e perpetuaria a sua ansiedade pela preocupação com perguntas como: o que eu devo fazer? O que as pessoas vão pensar de mim agora? E se eu for demitido? E se descobrirem que sou um fracasso? Tanto a ruminação, que é um pensamento voltado para o passado, quanto a preocupação, que é voltada para a tentativa de previsão futura, são processos disfuncionais que reforçam o sofrimento psicológico.
Resumindo: pensamento positivo?
Pensar excessivamente em perguntas inúteis só vai fazer aumentar seu desprazer, aumentar suas dúvidas, diminuir sua autoconfiança, e te fazer querer controlar o que você não tem o controle, reforçando ainda mais crenças negativas e dificuldade de ação, resolução de problemas.
Daí, a Terapia Metacognitiva?
A Terapia Metacognitiva é uma abordagem da Psicologia comprometida com a Ciência e apresenta grandes resultados terapêuticos no tratamento dos mais diversos transtornos mentais e em especial depressão, ansiedade, TOC e fobia social. Essa abordagem tem como objetivo principal ajudar o paciente a diminuir suas preocupações e ruminações e outras estratégias de funcionamento maladaptativas que são origem dos distúrbios psicológicos e emocionais.
E nela, a solução? Simples assim?
A terapia Metacognitiva ensina o paciente a “pensar menos” e consequentemente ter mais bem estar. Adrian Wells criador da Terapia Metacognitiva compreende que o sofrimento psicológico se dá em função do tempo, atenção e importância que dispensamos aos nossos pensamentos, crenças e emoções.