Paulo Navarro | domingo, 24 de dezembro de 2023


Na inauguração da Azul Viagens, voando para 2024, com o Minas Tênis Clube, o presidente do Minas, Carlos Henrique Martins Teixeira e Humberto Vieira. Foto: Arquivo Pessoal

Réveillon supimpa

A passagem de ano no Vila Chalezinho recebe sempre os mesmos elogios: deliciosa trilha sonora, ótimo atendimento e qualidade dos serviços. “Open bar” e “open food” durante todo o evento. Decoração “da hora”, literalmente, show e atração musical com Johnny Klein Quarteto Jazz e DJ convidado. Mas, antes, uma tonelada de Natal!

Bimbalham os anos

Pela primeira vez, em 26 anos, desconfiamos, esta coluna de 24 de dezembro é a última do ano. Pela primeira vez também, precisamos de um pequeno descanso. Vocês vão nem perceber, o que é uma pena! Dia 2 de janeiro estamos de volta, prontos para 2024 novidades e as efemérides de sempre. Mas para caprichar, escolhemos um texto delicioso de “até breve”.

Bimbalham as criatividades

Uma vez, o grande Arnaldo Jabor (1940-2022), aqui mesmo em O TEMPO, em 2008, escreveu: “Uma vez, o grande Rubem Braga fez uma lista dos lugares-comuns jornalísticos que justificariam demissões sumárias. O sujeito que escrevesse que o ‘trem ficara reduzido a um monte de ferros retorcidos’ ou que o ‘incêndio era o belo-horrível’ estava despedido”.

Bimbalham os pinos

“Havia outras banalidades imperdoáveis, como iniciar um parágrafo com a expressão: "Tirante, é óbvio, contradições secundárias..." - era bilhete azul, "passaralho" ou cartão vermelho na hora. Desta lista constava também ‘a data magna da cristandade’ e a saudação de fim de ano ‘Natal Natal, bimbalham os sinos’”.

Bimbalham os caixas

Pois é, nas ruas engarrafadas e shoppings lotados, está aí o Natal, com suas pompas, traumas e nenhum sino bimbalhando, a não ser, talvez, em São João Del Rey. “O Natal perdeu a delicadeza antiga. Não temos mais chaminés, nem ceias transcendentais. Em vez do saco de presentes, temos as calamidades coloridas dos mesmos shoppings centers”.

Bimbalham as guerras

“Hoje, Papai Noel vem com as renas de um Polo Norte derretendo pelo efeito estufa. No presépio de Belém, perto da manjedoura do menino Jesus, explodem homens-bomba berrando: "Feliz Natal, cães infiéis!". Não esqueçam que o aniversariante de amanhã, Jesus, nasceu em Belém, no atual território palestino da Cisjordânia, 10 quilômetros ao sul de Jerusalém. Estão lembrando de Hamas X Israel ou já esqueceram? E a Ucrânia?

Bimbalham as noites

“Sempre fiquei triste naquelas noites do passado. Nas ceias, via as frágeis ligações entre parentes, entre tios e primos, antipatias disfarçadas por abraços frios e votos de felicidades. O destino das famílias ficava evidente no Natal do passado - os pobres se conformavam com o tosco prazer dos presentes baratos e os ricos se obrigavam a ser felizes a qualquer preço.

Bimbalham os perus

“Egoístas o ano inteiro, viviam a alegria compulsiva de gargalhadas solidárias e beijos molhados de vinho, terminando nas tristes saídas da madrugada, com crianças chorando e presentes carregados por pais de porre, aos berros de ‘Feliz Natal’. Um cortejo trôpego, a solidão de primos, de tias malucas, de avós já calados e ausentes, do eterno presunto caramelado e do peru com apito”.

Bimbalham os traumas

Hoje, todos reclamam da chateação do Natal, trânsito travado, sentimento de culpa, traumas infantis, festa americanizada, calorias a mais, bolas douradas, perus; com todos dizendo que "adoraram o presentinho, repara não, coisa pouca, não leva a mal, mas essa caixa de sabonetes naturais é legal, adorei a água de colônia, era o que eu estava precisando...".

Bimbalham fantasias

“Papai Noel sempre me intrigou. Quem era aquele sujeito que aparecia no fim do ano? Sempre desconfiei do pai bondoso, com seu hô-hô-hô cheio de perdão. Era assustador. Um pânico infantil, com meu pai biológico, que usava o Natal para me dar lições de moral. Papai Noel me trazia presentes, sim, mas sempre acompanhados de uma carta repleta de repreensões dolorosas: Se fizer isso de novo, ano que vem ganha nada!...".

Em família, bimbalhando sinos felizes, João, Fernanda, Maria Clara, Sérgio e Ana Teresa Santos. Foto:  Arquivo Pessoal

A “Life Celebration”, de Natal e ano-novo, em festa realizada pela Academia Bruno Boechat, Rafael Brandi, Bruno Boechat e Rodrigo Miranda. Legenda: Arquivo Pessoal

A um passo de 2024, o titular da Coluna, PN, Marcelo Santos e Felipe Nunes. Foto: Arquivo Pessoal

Curtas & Finas

*Continua Jabor: “Cada presente me dava mais sentimento de culpa; Papai Noel gostava de todo mundo, menos de mim. Por isso, fui o primeiro a denunciar que era uma fraude”. 

"Papai Noel não existe!", foi meu grito revolucionário. "Existe sim! Ele me deu um velocípede!", bradavam os meninos, obstinados em sua fé.

"Ah, é? Então, fica acordado para ver se não é teu pai botando os presentes na árvore!".

“E não parei mais. Entrei de sola na lenda da cegonha e do bebê que ‘papai do céu mandou’”...

"As mães de vocês ficam nuas e o pai de vocês bota uma coisa dentro da barriga delas pelo umbigo...!".

 "A minha mãe, não!"; partindo para a porrada de rua, entre socos e ‘gravatas’. Daí, para descrer de Deus foi um pulo, para escândalo dos colegas do colégio jesuíta.

"Deus é bom, padre?" "Sim, infinitamente bom..." "Ele sabe de tudo?".

 "Sim..." - respondiam os padres desconfiados. "Então, por que ele cria um cara que depois vai para o inferno?". 

“E hoje, com o futuro cada vez mais ralo, tenho saudades da precariedade de nossa vida antiga, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e má”.

"Ah! Você por acaso quer a volta do atraso?", alguns dirão.

“Não; mas sonho com uma vida delicada que sumiu, dos lugares-comuns, dos chorinhos e chorões, de tudo que era baldio, dos valores toscos da classe média”.

“E quando chega o Natal, tenho a grande nostalgia das tristes ceias de minhas tias, sinto ainda o gosto dos panetones e rabanadas transcendentais do meu passado”.

Obrigado pela preferência. Feliz Natal e um 2024 com cara de 2025.