Entrevista com Sílvia Salvador | segunda, 8 de janeiro de 2024
Entrevista com Sílvia Salvador. Foto: Arquivo Pessoal
Quem ama, cuida
O sobrenome diz muito sobre Sílvia Salvador. Ela cuida, atende, suaviza e salva, sempre que possível. Sílvia Salvador está à frente da “home care”, cuja vocação também está no nome da empresa, “Saúde no Lar”, que começou com sua mãe, Denise. Definitivamente a equipe de “Saúde no Lar” não exerce um trabalho qualquer, muito menos fácil. Pelo contrário, é um trabalho delicado que exige competência, psicologia, paciência, respeito, amor e tudo que possa ser transformado em dignidade, num período muito difícil da vida. Difícil para os pacientes e, claro, para os familiares. Não tem segredo, mas dedicação plena. Ninguém escolhe nascer, mas podemos escolher como passar, da forma mais confortável e menos traumática. Afinal, como diz a própria Sílvia, “estamos lidando com seres humanos que necessitam de cuidado e carinho”. E como estamos começando, mais um ano e esta é a primeira entrevista de 2024. Muita Saúde para vocês, fora e dentro do lar.
Sílvia, “home care”, em bom português é “saúde domiciliar”? O profissional vai à casa do paciente?
Sim, o “home care” atende, em domicílio, pacientes em quase todas as suas necessidades. Isso vai desde a baixa complexidade, de forma pontual e com profissionais variados, até aqueles que necessitam de um CTI montado dentro de casa, com profissionais capacitados, 24 horas disponíveis. Nossa equipe multidisciplinar é altamente capacitada para acolher e estabilizar pacientes em suas residências, evitando internações desnecessárias que geram riscos de infecções e contaminações.
Profissionais da tua empresa familiar, “Saúde no Lar”, iniciada com tua mãe, Denise? Há quanto tempo?
A empresa começou em 1999, com a minha mãe, Denise, junto com outros dois médicos que ela conheceu quando trabalhava no hospital. Na época, chamava-se SamedLar e o home care ainda era totalmente desconhecido.
Então foi pioneira!
A SamedLar foi a primeira empresa de “home care” de Minas Gerais. Houve muita dedicação por parte da minha mãe para que ela fosse conhecida. E, em pouco tempo, foi. Em 2010, os dois sócios da minha mãe decidiram sair da sociedade, devido aos problemas financeiros que a empresa enfrentava. Ela, porém, acreditou no potencial da SamedLar e decidiu que não desistiria.
Continuou sozinha?
Comprou a parte dos sócios e continuou o caminho, sozinha.
Entrei na empresa em 2014, e comecei a entender como tudo funcionava e o que poderia fazer para melhorar a gestão. Até que, em 2019, as coisas mudaram. Minha mãe ficou doente e precisei assumir a empresa 100% e também os cuidados dela, junto com os meus irmãos.
(In) felizmente, Denise precisou da empresa para ela mesma, certo?
Sim, minha mãe descobriu um câncer pancreato-biliar com metástase de fígado e pulmão em 2019. Ela iniciou o tratamento convencional e, em paralelo, fazíamos um tratamento de medicina interativa em São Paulo, que trouxe muita qualidade de vida para ela durante todo processo. Fizemos intervenções domiciliares conforme suas necessidades e, no final, esse cuidado foi intensificado. Utilizamos oxigênio, administramos medicamentos endovenosos e os cuidados com a saúde dela de forma geral.
Ela faleceu em casa, cercada pelos filhos, devidamente sedada para ter conforto e assistida por toda a equipe médica necessária.
Quem são os clientes/pacientes? Idosos? Doentes?
Nossos pacientes são variados. Todos possuem algum tipo de doença ou condição de saúde que necessite de assistência. Atendemos desde recém-nascidos, até idosos centenários. Cada caso é tratado de forma personalizada, sempre levando em consideração que estamos lidando com seres humanos que necessitam de cuidado e carinho durante o processo da doença que estão lidando.
Cuidar da saúde no lar, claro, é muito melhor que hospital ou “casa de repouso”, certo?
Com certeza. Sabemos que existem procedimentos que só conseguem ser realizados no hospital, porém outros vários podem ser feitos no conforto e segurança de casa. Os pacientes que possuem um quadro estabilizado podem desfrutar de atendimentos de saúde no domicílio. Isso promove maior segurança ao paciente, mais conforto físico e emocional, bem como o apoio de forma mais direta e ininterrupta dos familiares.
Onde fica a “Saúde no Lar” e a quem ela atende?
Nossa sede hoje fica em Contagem, mas atendemos pacientes em toda Minas Gerais. Estamos no processo de expansão para outros estados. Nossos pacientes são, em sua maioria, vindos de convênio de saúde, mas possuímos várias pessoas que nos procuram querendo atendimento particular. Nossa estrutura consegue prestar serviços de variadas necessidades e perfis.
Este tipo de médico (a) e de enfermeiro (a) têm muito de “psicologia”, correto?
Sim, nossos profissionais entendem que é necessário atender cada demanda levando em consideração que os pacientes estão passando por um processo traumático, difícil e, muitas vezes, paliativo.A rede de apoio ao doente deve vir dos familiares, mas sabemos que a nossa atuação para ajudá-los a passar por esse processo é fundamental, tanto para aderência ao tratamento, quanto para se ter mais empenho para a melhoria ou estabilização do quadro.
Indiretamente, também cuidam da família, porque a “barra” pode ser pesada, concorda?
Com certeza. Muitas vezes os pacientes não têm capacidade de interação e o nosso direcionamento de atenção passa a ser exclusivamente aos familiares. Vários deles me ligam semanalmente ou até diariamente para conversar e expor sentimentos. Às vezes, precisam só ser ouvidos ou de atenção.
O processo de doença no domicílio tem as suas dificuldades, uma vez que o familiar passa a viver aquela realidade 24 horas por dia e não ter um tempo sozinho para si.
Conforto é a palavra-chave, junto com amor, respeito e dignidade?
Sempre. Esse foi o maior ensinamento que a minha mãe me deu nesses anos cuidando das pessoas. Eu aprendi que, sem isso, o nosso trabalho perde o valor e o cuidado. Sempre penso no processo que eu vivi na pele e reflito sobre como eu gostaria que fosse comigo.
Você e teus irmãos herdaram e exercem o exemplo de Denise; o bem-estar do paciente, dos familiares e a excelência em atendimento – e também a vocação ou cada um tem um papel?
Nossa mãe nos ensinou muito sobre amor e dedicação ao próximo. Esse exemplo se estendeu tanto na vida pessoal quanto profissional. Temos consciência de que lidamos diretamente com famílias que estão atravessando um momento em que precisam de ajuda. Entendemos que, através de um atendimento de excelência, podemos ajudar a amenizar as dores que essas famílias passam.
Ter um familiar doente é algo que nos torna extremamente frágil emocionalmente. O que pudermos fazer para que esse processo se torne mais suave, fazemos.
Para terminar, ajudar, ser solidário, rima com “gentileza gera e devolve gentileza”?
Essa é uma das grandes verdades sobre a prestação de serviço. As pessoas precisam entender que prestar um serviço se destaca no momento da execução e não na variedade que você pode oferecer. É muito importante saber que, quando tratamos as pessoas da mesma forma que gostaríamos de ser tratados, todo o processo passa a ser diferente, desde o primeiro contato, até o término.No nosso caso, o término pode ser um óbito, então, temos que saber agir de forma a trazer tranquilidade e paz no que estiver ao nosso alcance, sempre tentando entender as necessidades particulares de cada família e nos preparando para estender a mão quando eles precisarem.