Paulo Navarro | Entrevista com Tiago César
Entrevista com Tiago César Pereira Ferreira. Foto: Ramon Ferrary
Abram Alas e Olhos
“Cirurgia refrativa e ceratocone; presbiopia, regra 20-20-20, enrijecimento do cristalino, lentes intraoculares multifocais e monofocais toricas; anel corneano, crosslinking de colágeno corneano, lentes esclerais e femtossegundo”. Sim, temos muito a traduzir, aprender e apreender com o jovem e experiente oftalmologista, Tiago César.
Mas além do vocabulário técnico, normal na área médica, repleta de novas tecnologias, duas palavras foram constantes nesta agradável entrevista: “ar livre”. Nunca poderíamos imaginar que “ar livre” seria tão necessário aos olhos, como é para a Saúde, o lazer e infinitas situações. Ar livre aqui não é apenas “oxigênio” para os pulmões, mas também para os olhos cansados de “guerra” e de telas. Telas, aparentemente inofensivas, tentadoras e onipresentes em nossas vidas, na forma de sedutores smartphones, tablets e computadores que nos fazem esquecer a importância da luz natural e do “tempo seguro”. Ainda bem que Dr. Tiago César está aí para nos lembrar o óbvio e muito mais. Obrigado, doutor!
Tiago, por favor, uma breve apresentação do Dr. Tiago!
Dr. Tiago é um médico oftalmologista experiente e respeitado, com especialização em catarata pelo Instituto de Olhos da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Formado em cirurgia refrativa, lentes de contato e ceratocone pela Santa Casa de Belo Horizonte, também possui formação internacional em Harvard e no Hospital Sírio Libanês, além de ter estudado na UNIFESP. Atuou como professor de cirurgia oftalmológica na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e membro ativo das Academias: Brasileira, Americana e Europeia de Oftalmologia. Com uma clínica própria em Minas Gerais, ele utiliza as mais avançadas tecnologias para oferecer tratamentos oftalmológicos de ponta.
Pergunta de míope. É verdade que a miopia aumenta, mas com a idade diminui?
É verdade que a miopia, um erro refrativo em que o olho se alonga e a luz se focaliza antes da retina, tende a progredir durante a infância e adolescência. No entanto, com o envelhecimento, pode ocorrer uma mudança sutil na visão. À medida que os músculos que controlam o foco se tornam menos flexíveis, o aumento da miopia pode desacelerar e a presbiopia (dificuldade para ver de perto) se desenvolver, criando uma "compensação" parcial.
E quando aumenta é por causa da era digital? Telas de celular 24h/24h?
O uso constante de telas, como smartphones e computadores, tem sido associado ao aumento da miopia, especialmente em crianças e adolescentes. A falta de exposição à luz natural e o esforço visual prolongado para atividades de perto podem favorecer a progressão da miopia. Esse fenômeno é chamado de "miopia adquirida" e está fortemente relacionado ao estilo de vida moderno, que envolve poucas atividades ao ar livre.
Daí o enorme número de jovens, não só “poluídos mentalmente”, mas também míopes?
O aumento da prevalência de miopia em jovens é uma preocupação mundial, e pode ser resultado de mudanças comportamentais causadas pela era digital. Passar longas horas em ambientes fechados e focando em objetos próximos, combinado com a falta de tempo ao ar livre, pode ser um fator chave.
E por que o preocupante número no Leste Asiático?
O Leste Asiático apresenta índices alarmantes de miopia, com algumas estimativas indicando que até 90% dos jovens são míopes em certos países, como Coreia do Sul e Singapura. Este fenômeno é atribuído a uma combinação de fatores genéticos e ambientais, como o alto nível de exigência acadêmica e o uso intensivo de dispositivos eletrônicos, além de pouco tempo em atividades ao ar livre.
E no Brasil?
Embora os índices de miopia no Brasil sejam menores que os do Leste Asiático, a prevalência tem aumentado nas últimas décadas, especialmente em áreas urbanas. Isso pode ser atribuído ao estilo de vida mais sedentário, aumento do uso de dispositivos eletrônicos e mudanças nos hábitos de estudo e lazer das crianças e adolescentes.
Questão de Educação, esclarecimento, informação? Vício? Saúde pública?
O aumento da miopia é um desafio multifacetado, que envolve educação, conscientização, comportamento e políticas de saúde pública. Educar a população sobre os riscos do uso excessivo de telas e promover atividades ao ar livre são medidas importantes. Programas de saúde pública que realizam exames oftalmológicos em escolas podem ajudar a detectar precocemente e controlar a progressão da miopia.
Quanto tempo de leitura em telas de smartphones, tablets e computadores pode ser nocivo?
Embora não haja um consenso absoluto sobre um "tempo seguro", recomenda-se a regra 20-20-20 para reduzir a fadiga ocular: a cada 20 minutos de uso de tela, olhar para um objeto a, pelo menos, 20 pés (seis metros) de distância por 20 segundos. Crianças devem ter tempo limitado de telas e incentivo para passar ao menos duas horas ao ar livre diariamente.
Voltando ao envelhecimento, e a presbiopia?
A presbiopia, que afeta a maioria das pessoas após os 40 anos, é a perda natural da capacidade de focar objetos próximos devido ao enrijecimento do cristalino. É uma condição distinta da miopia, mas pode coexistir, exigindo abordagens corretivas específicas, como óculos multifocais, lentes de contato bifocais ou cirurgia refrativa.
Onde entra, neste cenário assustador, tua especialização em cirurgia refrativa, catarata, lentes de contato e ceratocone?
Minhas áreas de atuação são essenciais para abordar essa "epidemia visual". A cirurgia refrativa pode corrigir miopia, hipermetropia e astigmatismo, além de proporcionar soluções para presbiopia. Tratamentos para catarata utilizam tecnologia de ponta, como lentes intraoculares multifocais e monofocais toricas, que melhoram a qualidade visual após a cirurgia. Em casos de ceratocone, avanços como anel corneano, crosslinking de colágeno corneano e as lentes esclerais têm sido fundamentais.
E o lado complementar, os avanços tecnológicos na área da oftalmologia?
A oftalmologia tem visto inovações significativas, como o uso de lasers de femtossegundo para cirurgias refrativas e de catarata, diagnósticos precisos com tomografia de coerência óptica (OCT) e lentes intraoculares personalizadas. Essas tecnologias ajudam a personalizar o tratamento para cada paciente, oferecendo resultados mais seguros e previsíveis.