Paulo Navarro | Entrevista com Méri Grossi
Entrevista com Méri Grossi. Foto: Iara Cunha
Novos tempos, novos modos
Méri Grossi é das mais requisitadas consultoras de imagem pessoal e profissional do estado. Ela atua junto a empresas, executivos e profissionais liberais que buscam se adaptar às mudanças do mundo corporativo, impactado pela pandemia e por novas políticas sociais. “Vivemos em um ‘mundo bani’ (brittle, anxious, non-linear, incomprehensible), um universo frágil, ansioso, não linear e incompreensível, em que nada é definitivo. O momento exige uma nova conduta comportamental nas empresas, adequação da cultura organizacional e flexibilização de suas políticas de recursos humanos”, destaca Méri Grossi, nossa entrevistada desta semana.
Méri, fale-nos um pouco sobre sua trajetória profissional.
A comunicação é minha matéria de formação. Sou jornalista, assessora de imprensa e pós-graduada em marketing e em moda. Comecei a estudar imagem pessoal em 2005, no Senac Minas, com a intenção de agregar a matéria aos treinamentos de mídia que ministro. A imagem pessoal é um fator de projeção e crescimento profissional, o que vestimos e como nos comportamos comunica ao outro quem somos. Nos últimos anos, me associei à consultora de imagem Olga Barra, que tem formação internacional na área, e investimos no atendimento corporativo e em projetos para treinamentos que auxiliam as empresas a passarem por este momento de mudanças.
Novos tempos, novas exigências?
O mundo mudou muito depois de dois anos de pandemia. Para alguns especialistas, trata-se agora de um “mundo bani” (brittle, anxious, non-linear, incomprehensible), um universo frágil, ansioso, não linear e incompreensível. E, nesse mundo, não há nada definitivo, garantido e com verdades absolutas. O momento exige uma nova conduta comportamental nas empresas, incluindo o entendimento do perfil de executivos em formação, sem cultura corporativa e que se mostra, às vezes, resistente a ela.
A nova formalidade é informal?
Depois de praticamente dois anos de trabalho remoto, os profissionais voltaram para os escritórios mais informais na maneira de falar, se vestir e comportar-se, não apenas nas interações com colegas, mas também com clientes e com o mercado. Há, ainda, a nova geração de profissionais que iniciou carreira em home office e pode sentir dificuldades ao se inserir em um ambiente corporativo tradicional, desconhecendo os padrões e protocolos empresariais. É um reflexo do isolamento e das relações virtuais e domésticas que se estabeleceram nos últimos anos. As áreas de recursos humanos das empresas têm muitos desafios pela frente.
E como vencer esses desafios?
Flexibilização é a palavra-chave. Mas, a flexibilização precisa ser debatida com transparência e clareza entre a empresa e suas equipes de trabalho. Os profissionais têm que saber o limite de cada empresa e o que se espera de cada uma das partes. As áreas de recursos humanos devem se capacitar, por meio de palestras e treinamentos com especialistas e consultores de imagem profissional, visando o alinhamento das condutas e o nivelamento do bom senso interno. As empresas não devem temer expor claramente o que desejam daqueles que representam sua marca. Vale o dito popular: o combinado não sai caro.
Foto: Iara Cunha
Moletom ou terno e gravata?
O dress code, ou código de vestimenta, é uma das questões mais controversas nas empresas. Por isso, orientar os profissionais sobre o código de vestimenta é extremamente importante. E o tema deve ser abordado da mesma forma que se abordam as mudanças nas práticas de trabalho, as transformações na sociedade e a valorização da individualidade no ambiente profissional. Assim, o dress code vem sendo implantado ou analisado ou alterado nas empresas. A flexibilização ao vestir tem chegado, inclusive, aos ambientes mais tradicionais, como instituições financeiras e escritórios de advocacia.
A roupa fala?
Fala muito e fala bem. A forma como nos vestimos traz diversos códigos de imagem, alguns muito conhecidos e já estabelecidos. Todos sabemos, por exemplo, o que é uma peça de roupa sóbria ou descontraída. A roupa fala e conta quem somos. As aparências enganam? Sim, às vezes, mas para que correr o risco de ser mal interpretado?
E a liberdade de escolha?
Há quem diga: “visto o que eu quiser; gosto de roupa confortável; ninguém interfere nas minhas escolhas... Mas, importante ou não, vestir-se de acordo com a ocasião continua sendo um dos traços mais relevantes de uma pessoa elegante. Logo, ainda se entende que, não levar em consideração o código de vestimenta para um casamento, um velório, uma reunião profissional etc., é um enorme desrespeito com quem convida, com o ambiente ou mesmo com os pares e demais presentes. Esse código ainda está em vigor e, por isso mesmo, a desconexão com ele causa estranheza e incômodos.
Como saber se o dress code está fazendo falta?
O empresário deve, antes de tudo, se perguntar: é necessário ter uma política de vestimenta na empresa ou é melhor deixar que as pessoas usem o bom senso ao se vestir? Não custa lembrar que “bom senso” é algo subjetivo. Outro ponto a ser destacado é que a política de dress code da empresa deve valorizar as diferenças e considerar a pluralidade, sem impor barreiras ou diretrizes discriminatórias.
Conviver bem é...
Vivemos um momento de transição, de flexibilização e de aprendizado. A convivência corporativa necessita de regras que estabeleçam as relações. As regras corporativas, assim como as sociais, servem para evitar erros de interpretação e facilitar a comunicação; para demonstrar respeito à hierarquia, idade, autoridade; para expressar reconhecimento ao outro e para orientar, nivelar, igualar, democratizar e organizar a sociedade.