Paulo Navarro | Entrevista com Maria Helena Andrés


Entrevista com Maria Helena Andrés. Foto: Eliza Guerra

Linda Linha Contínua

Dá nem para brincar com os nomes do livro, “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez e do filme “Mamãe Faz 100 Anos”, de Carlos Saura. Maria Helena Andrés já está quase nos 102; ativa, criativa e interessada. Prometemos e juramos não falar que ela é uma das últimas e originais alunas de Guignard. O importante é que, desde as aulas no Parque Municipal, em fins da década de 1940, Maria Helena continua recebendo os benefícios e a inspiração da natureza. No Retiro das Pedras, onde vive, ela não pode tocar as árvores, nem provar de suas sombras.

Em compensação, “o pôr do sol no Retiro é uma benção”. 102 anos que contrariam o aforisma popularizado por Sêneca: “Vita brevis, ars longa” (do latim para o bom português: a vida é curta, a arte é longa). Uma vida tão longa com sua arte porque as fases de sua produção correspondem às fases de sua vida. “Porque vida e arte não se separam”. Por poucos minutos, deixemos de lado seus desenhos, maquetes de esculturas, colagens e artigos. Mergulhemos e deixemos Maria Helena acontecer em palavras. Como suas obras, palavras-primas.

Maria Helena, rumo a um recorde, 102 anos de vida, no próximo dia 2 de agosto, como vai você? Ainda ativa?

Sim. Continuo na ativa. Continuo interessada em visitar as exposições. Recentemente fui à exposição de Niura Bellavinha na Galeria AM e pretendo visitar outras exposições em Belo Horizonte. 

Continua vivendo no condomínio Retiro das Pedras, nos arrabaldes de Belo Horizonte?

Sim, continuo. Desde 1974 tenho uma casa no Retiro. No princípio era uma casa de final de semana, agora é uma casa e ateliê. No momento acho importante viver numa casa fora da cidade, próximo à natureza. Aqui tenho a companhia de minha filha, minha neta e meu bisneto. São várias gerações numa só casa.

O Retiro das Pedras chegou ou chega a matar a saudade dos tempos das aulas, com Guignard, no Parque Municipal?

Eu acho que é diferente. O Parque Municipal, onde eu tive aulas com Guignard, era um parque arborizado, uma paisagem próxima da gente. Aqui no Retiro a paisagem é vista à distância. Mas sempre a natureza está nos trazendo benefícios. O pôr do sol no Retiro é uma benção e eu procuro sempre contemplá-lo da minha janela. Aqui no Retiro eu construí meu ateliê e nesse ateliê eu pintei quadros e painéis em grandes formatos.

As mesmas aulas de “liberdade”, com Guignard, ainda te influenciam?

Sim. Até hoje o meu desenho é uma linha contínua, que foi um ensinamento de Guignard. Eu uso a linha contínua nos meus desenhos e nas minhas esculturas. 

Como descobriu a pintura e como a abraçou?

A pintura para mim teve início na década de 1940 e se prolongou ao longo do tempo. A partir dos anos 2000 fui substituindo a pintura pelo desenho, pelas colagens e esculturas. 

Qual de suas várias fases ou tendências prevaleceu; é/foi a mais constante?

As fases de minha arte correspondem às fases de minha vida porque vida e arte não se separam.

Nos vimos, recentemente, em maio, na livraria Quixote, durante o lançamento de dois livros sobre você e sua arte. Como foi a experiência?

A experiência foi muito rica porque pude constatar o fato de que os filhos também se dedicaram à arte em suas diferentes modalidades. Fiquei muito feliz com o sucesso do lançamento e a oportunidade de encontrar com os amigos e familiares na simpática livraria Quixote.

O que encontramos em “Fortuna crítica”, de Nelyane Gonçalves Santos e Marília Andrés Ribeiro?

“Fortuna Crítica” foi uma pesquisa muito importante sobre todos os críticos que escreveram a meu respeito ao longo de minha vida. Marília e Nelyane conseguiram reunir no livro as melhores críticas publicadas em jornais, livros e catálogos de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

E em “Trajetória Artística”, de Eliana Andrés Ribeiro? Tudo em família?

Tudo em família porque eu sou uma artista muito ligada à minha família. E muito me alegra ver os filhos desenvolvendo um trabalho sério que poderá ajudar a construir a história da arte em Minas Gerais.

O que é o Instituto Maria Helena Andrés?

O Instituto Maria Helena Andrés IMHA é uma forma de reunir e projetar o meu pensamento sobre arte e vida e estendê-lo à comunidade. Mostra também que uma dona de casa e mãe de seis filhos pode se dedicar à arte e à educação, através do fazer artístico.

Uma frase ou reflexão sobre a Arte, por favor.

Meu caminho é múltiplo. Às vezes desenho, outras vezes faço maquetes de esculturas, colagens, e no momento estou me interessando por postar artigos nos meus blogs, na Internet.

Novos planos para 2024, que já caminha, celeremente, para 2025?

Eu não faço planos, eu deixo acontecer.