Paulo Navarro | Entrevista com Luiz Antônio Rocha


Entrevista com Luiz Antônio Rocha. Foto: Jow Coutinho

As Profecias do Profeta

“E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós”. (Khalil Gibran). Gibran Khalil Gibran (1883 - 1931), não foi apenas um ensaísta, prosador, poeta, conferencista e pintor libanês, mas um filósofo universal. Um profeta? Se dependesse dele seria visto como um simples fio condutor de belezas e de espiritualidade, o que já é o máximo. E estaria certo, no que concordam milhões de leitores em todo o mundo. “O Profeta”, sua obra-prima, lançada em 1923 é uma aula sobre viver bem com nossos pensamentos, comportamentos e escolhas. Luiz Antônio Rocha que queria voar e decolou como diretor de teatro, volta a BH encenando exatamente “O Profeta”, com a cumplicidade do cantor libanês Sami Bordokan e da autora Lúcia Helena Galvão, que abordou 12 temas de Gibran. Imperdível espetáculo, de 1º a 3 de março, no Teatro Sesiminas. Luz e verdade! Mais detalhes a seguir. Enquanto isso, “quando estiverdes tristes, voltai o olhar para dentro de vossos corações e vereis que estais chorando exatamente pelo que vos causou alegria”. (Khalil Gibran). Continue a leitura!

Luiz, quem é, em poucas palavras, Luiz Antônio Rocha?

Luiz queria voar, aí virou artista! Um operário incansável da arte. Um diretor de teatro exigente, sensível, que busca em suas montagens temas reflexivos sobre a existência humana.

Que tipo de profeta está trazendo de volta a BH?

Nenhuma apresentação é igual a outra. Cada apresentação é única. O público, que lotou as apresentações em setembro de 2023, pediu a volta de “O Profeta”. Estamos voltando pela segunda vez e praticamente já não há mais ingressos. No palco, o músico e cantor libanês Sami Bordokan, que dá vida a Al Mustafa, o profeta que está prestes a embarcar em um navio para retornar a sua terra natal, após um ciclo de doze anos de exílio na cidade de Orphalese. No dia da partida, antes da chegada iminente de seu navio, os habitantes da pequena cidade pedem a ele que lhes fale sobre as questões fundamentais da condição humana. E assim, o profeta responde com reflexões que, na sua aparente simplicidade, revelam uma compreensão profunda da vida e do processo de existir.

Afinal, qual o segredo do sucesso sem fim de Khalil Gibran e quem foi?

Khalil Gibran ganhava a vida pintando, mas ficou mais conhecido por sua obra escrita. Ele convida a nos tornarmos pessoas verdadeiras. Ele nos propõe um encontro do homem com o que ele tem de melhor em si mesmo.

Em tempos de trevas e sombras, “O Profeta” é uma luz?

... no fim do túnel!!! Com certeza. O ano passado foi comemorado o centenário do livro. São 100 anos iluminando e encantando gerações. O livro é o mais lido do mundo. 

Luz através de parábolas, trilha ao vivo, música árabe clássica e folclórica?

Isso tudo junto e misturado. “O Profeta” é o meu maior desafio no teatro. Muitas vezes, durante o processo, pensei em desistir de tão grande a dificuldade de transformar uma obra de transcendência universal, profunda e tão simples em imagens. Mas vencido o medo, fico feliz que tenha dado certo, as pessoas ficam encantadas com o que vivenciam por 1h20”.

Eis a grande originalidade deste espetáculo, em um monólogo?

Acho que é um conjunto de fatores, mas com certeza a música acabou virando protagonista do espetáculo. A entrega do ator e cantor árabe Sami Bordokan também é impressionante. Em cena, Sami Bordokan está acompanhado do irmão, William Bordokan, músico que apresenta uma variedade de sons e ritmos, utilizando outros instrumentos ancestrais como a flauta nay, a rabab e a derbak. Juntos, eles assinam também a direção musical.

E os temas? Amor, filhos, trabalho, alegria, tristeza e morte?

Khalil Gibran escreveu 28 temas. A Autora Lúcia Helena Galvão fez a releitura filosófica de 18 temas. Na abertura, na Chegada do Navio, a autora propõe uma reflexão do significado do número 12, exatamente o período que o profeta Al Mustafa viveu no exílio, na cidade de Orphalese. Acredito que todas as soluções estão no texto, acabamos escolhendo contar 12 temas.

Qual o papel de Lúcia Helena Galvão?

Uma mulher sensível, muito inteligente e com um coração gigante. Quando a convidei para escrever “Helena Blavatsky a voz do Silêncio”, não sabia que iríamos ficar amigos. “O Profeta” era um desejo dela de levar à cena. Recebi o desafio, ela fez uma releitura filosófica da obra de Khalil, facilitando o entendimento para o público.

E Sami Bordokan?

Sami é considerado um dos grandes intérpretes da música árabe no Brasil. “O Profeta” é seu livro de cabeceira, marcou sua história. Eu não poderia ter feito uma escolha mais certeira.

Como foi outra volta a BH, a de “Helena Blavatsky, a voz do silêncio”?

“Blavatsky” retornou nos dias 24, 25 e continua hoje, com ingressos praticamente esgotados, muito feliz com a receptividade e interesse dos mineiros com peças que abordam temas existencialistas e filosóficos. Minas tem essa pegada mística que eu acredito ser um dos grandes fatores do sucesso de “Blavatsky” e “O Profeta”.

Resumo de 2023, planos para 2024?

2023 foi um ano muito especial. “O Profeta” e “Blavatsky” foram aclamados pela crítica e pelo público lotando todos os teatros onde se apresentaram, com temporadas longas em São Paulo e Rio de Janeiro. E pelo visto 2024 será uma continuação do sucesso do ano anterior. No final de fevereiro, estreio mais duas peças em São Paulo que fazem parte de uma trilogia sobre mulheres Latinas. O solo musical “Violeta Parra em dez cantos”, sobre a cantora chilena, texto do premiado Luís Alberto de Abreu e a comemoração de 10 anos ininterruptos, em cartaz, do espetáculo: “Frida Kahlo, a Deusa Tehuana”. Ambos com a atriz Rose Germano, que estará em cartaz no teatro Itália Bandeirantes. Em junho estreio “ nima”, mais uma parceria com a professora Lúcia Helena Galvão e a atriz Beth Zalcman. Em meados do segundo semestre, estreio espetáculo sobre Mercedes Baptista, com a atriz Ivanna Cruz.