Paulo Navarro | Entrevista com Leônidas Oliveira


Entrevista com o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira. Foto Marcus Venisio

O ABC D Leônidas Oliveira.

Comecemos com a letra M de Muito é muito pouco. Voltemos ao A do alfabeto que é pequeno para registrar todas as ações e o pensamento do secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, o incansável e onipresente, Leônidas Oliveira. Leônidas, que significa “filho do leão” é também o nome do famoso rei de Esparta, na Grécia Antiga, berço da civilização ocidental: filosofia, democracia, literatura, historiografia; as primeiras ciências, como a História, a Filosofia e a Matemática; os Jogos Olímpicos; as obras primas na arquitetura, escultura, pintura e no teatro.

Então o nome também é feliz sina porque, com T de Tempo, não sabemos onde, o também arquiteto, Leônidas Oliveira, descobriu dias de 42h para, além de comandar e impulsionar a Cultura e o Turismo, como Minas nunca viu, escrever o livro “Arte, Cultura e Fé”, caminho de pedras preciosas, mapa da arquitetura mineira, do seu querido Barroco, ao incontornável Modernismo.

O livro, pela Editora C/Arte, que “fica em pé”, merece e ganhará dois lançamentos. O primeiro, dia 16, às 18h, na Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL BH e o segundo, dia 18, às 15h, durante a 8ª Semana Criativa de Tiradentes, aquele “presépio”, mais especificamente no Espaço Festivo – Villa Chafariz.

Em futura nova entrevista, prometemos usar o resto do alfabeto. Se faltar letra, apelamos para o grego; os ideogramas japoneses, chineses e até para o homem que sabia javanês, sem sotaque. No mais, com F de Fé, Arte para todos e Cultura para o resto.

Leônidas, por ordem alfabética, o que te invoca a letra A de Arquitetura e Arte.

A arquitetura sempre foi um dos meus maiores interesses, especialmente a arquitetura sacra, por ser uma extensão física da espiritualidade humana. A arte, por sua vez, reflete essa espiritualidade em formas que transcendem o tempo. Nas igrejas barrocas de Minas Gerais, por exemplo, a arte se torna tangível, moldando espaços que não apenas celebram a fé, mas também nos conectam com o divino, que explorei em “Arte, Cultura e Fé”, permanece vivo na arquitetura sacra contemporânea e na vida de Minas Gerais, síntese do Brasil.

B de Brasília e Barroco

Brasília foi um marco na minha trajetória acadêmica e profissional, não só pelo modernismo inovador, mas pela sua capacidade de dialogar com o barroco mineiro e com o novíssimo mundo pós-industrial. O que parece uma oposição à simplicidade das formas modernistas contra a exuberância barroca, na verdade, revela uma continuidade cultural. O barroco mineiro, com sua organicidade, influenciou profundamente a arquitetura moderna brasileira, e Brasília se torna uma extensão desse legado que também influenciou o mundo. Ambos os estilos, barroco e modernista, mostram como a fé e a criatividade artística expressam as culturas do Brasil e reforçam Minas como epicentro da originalidade artística do país. 

C de Contemporaneidade e Cultura

A contemporaneidade é o reflexo do que fomos e do que estamos nos tornando. Em “Arte, Cultura e Fé”, exploro como a arte sacra contemporânea continua a tradição de diálogo com o sagrado, adaptando-se às novas sensibilidades, mas mantendo a essência espiritual. Em Minas Gerais, a cultura contemporânea se enraíza na história barroca, no sertão de culturas populares intimamente ligadas ao sagrado, criando uma linha contínua que atravessa os séculos. Meu trabalho como Secretário de Cultura é criar pontes entre essa herança e as expressões culturais atuais, garantindo que a história e a inovação caminhem juntas.

E de Espaço e Espanha

O espaço é a matéria-prima tanto da arquitetura quanto da arte. Foi na Espanha que desenvolvi minha tese de doutorado sobre multiculturalismo na arquitetura religiosa de Brasília, e também onde aprendi a importância de integrar o espaço físico com a cultura local. A Espanha, com sua rica herança cultural e sendo um dos maiores destinos turísticos do mundo, me ensinou como o turismo e o patrimônio histórico podem caminhar juntos. Minas Gerais e Espanha têm muito em comum: ambos utilizam sua cultura e seu patrimônio como motores de desenvolvimento e identidade.

F de Futuro e Fé

O futuro da cultura mineira está diretamente ligado à preservação do nosso passado, mas também à capacidade de inovação. A fé sempre foi um pilar das manifestações culturais de Minas, desde o barroco até as expressões populares atuais, nos diversos âmbitos das religiões e mais recentemente, nas culturas gospel. A fé continua a ser uma força transformadora, inspirando novos modos de expressão artística. A fé, como fonte de esperança, conecta o passado e o presente em uma visão de continuidade e renovação. A fé nos faz melhores para o presente e o futuro. Conecta-nos com a força da vida. 

I de Ideia e Identidade

Uma ideia bem desenvolvida tem o poder de transformar a realidade. Em Minas Gerais, a identidade cultural está profundamente enraizada nas manifestações culturais diversas, na fé e na história dos povos que construíram nossa sociedade. Essa identidade é um patrimônio imaterial que nos define e nos distingue, sendo essencial para sabermos quem somos. Minhas políticas culturais buscam valorizar essa identidade ao mesmo tempo em que promovem a inovação, assegurando que as futuras gerações compreendam e respeitem essa herança.

H de Hora e História

Esta é a hora de olharmos para nossa história com orgulho, mas também de buscar formas inovadoras de preservá-la e apresentá-la ao mundo. Minas Gerais tem uma história cultural riquíssima, especialmente no que se refere à arte sacra e ao barroco, e agora é o momento de usar essa herança para impulsionar o desenvolvimento cultural e turístico do estado. 

L de Legado e Leônidas

O legado que desejo deixar como Secretário de Cultura é um estado que valoriza suas culturas e suas tradições, mas que também se abre à inovação. Quero que as políticas públicas que implemento sejam estruturantes e transformadoras, preservando o patrimônio enquanto promovem a criatividade e o pensamento crítico. Esse livro, “Arte, Cultura e Fé”, é uma expressão dessa visão, refletindo meu compromisso em unir o passado e o presente em um legado duradouro. De unir o pensamento com a realização calcada em pesquisa, estudo e reflexão. 

O de Ouro Preto e Ordem Religiosa

 Ouro Preto é o símbolo máximo do barroco mineiro e um patrimônio da humanidade que nos lembra a importância do mundo leigo agrupado nas ordens terceiras na formação de nossa identidade cultural. As igrejas de Ouro Preto são uma fusão de fé, arte e diversidade cultural, representando o encontro de culturas e raças que moldaram Minas Gerais. A religiosidade que permeia esses espaços é um testemunho vivo do papel da espiritualidade na construção do nosso patrimônio. Ouro Preto foi construída nas suas igrejas por leigos, isso permitiu a forma tomar contornos culturais distintos dos dogmas e interpretados à luz da pessoa humana.

P de Profecia e Patrimônio

A profecia cultural de Minas Gerais está na sua capacidade de inspirar o futuro. O patrimônio histórico que preservamos hoje é um lembrete de que o que criamos agora ecoará nas gerações futuras. Nossa responsabilidade é preservar, mas também inovar, para que a herança cultural continue a ser uma fonte de inspiração e transformação para as próximas gerações.

M de Modernismo e Minas

Minas Gerais é o berço de um barroco exuberante e, ao mesmo tempo, um pólo de inovação com o modernismo. Belo Horizonte, com sua arquitetura inovadora, incluindo a Pampulha, reflete essa união entre passado e futuro. A Pampulha, protegida pela UNESCO, é um exemplo de como Minas integra sua herança barroca com o modernismo, criando um diálogo entre tradição e modernidade.

R de Resultados e Reflexão

A reflexão filosófica é essencial para o desenvolvimento de uma visão crítica da realidade. Os resultados dessa reflexão são mais do que teóricos; eles são concretos e transformadores. Acredito que as políticas públicas que implementamos em Minas Gerais precisam ser baseadas em um pensamento profundo, que integre o passado, o presente e o futuro de forma coesa, sempre buscando a transformação social e cultural.

S de São Francisco de Assis e Sustentabilidade

A mensagem de São Francisco de Assis sobre a natureza e a criação é extremamente relevante para o conceito de sustentabilidade nos dias de hoje. Ele via a natureza como uma manifestação do divino, onde cada criatura tem seu lugar e valor. Em Minas Gerais, temos dois grandes exemplos de integração harmoniosa entre arte, natureza e espiritualidade: as igrejas de São Francisco de Assis, em Ouro Preto e na Pampulha, ambas representando o esplendor da criatividade humana e o respeito à criação. A sustentabilidade cultural passa por esse respeito ao patrimônio e à natureza.

T de Templo e Turismo

Os templos de Minas Gerais são também templos de cultura, onde história, arte e fé se encontram. Promover o turismo cultural é garantir que mais pessoas tenham acesso a essa riqueza e, ao mesmo tempo, assegurar a preservação desses patrimônios. O turismo cultural em Minas é uma maneira de oferecer aos visitantes uma experiência autêntica, conectando-os ao nosso passado e à nossa identidade.

U de Urubu e Urbanismo

O urubu, com sua capacidade de adaptação, é uma metáfora para os desafios do urbanismo no contexto da preservação cultural. Assim como o urubu sobrevive em ambientes hostis, o urbanismo moderno precisa encontrar formas de crescer de maneira sustentável, sem comprometer o patrimônio cultural e natural. O urbanismo, assim como o urubu, deve ser resiliente e capaz de integrar a natureza à vida urbana, promovendo um equilíbrio entre desenvolvimento e preservação.

Z de Zorro e Zema

O Zorro, com seu espírito de justiça, é um símbolo que podemos conectar à atuação de Romeu Zema como governador de Minas Gerais. Zema, assim como Zorro, tem enfrentado desafios com firmeza, promovendo reformas e buscando o equilíbrio das contas públicas para garantir o desenvolvimento social e econômico do estado. Ambos compartilham a mesma visão: a justiça como princípio fundamental de suas ações, promovendo o bem comum e o crescimento equilibrado de Minas Gerais.