Paulo Navarro | Entrevista com Leo Piló


Entrevista com o artista visual Leo Piló. Foto: Ítallo Vieira/Amanhã Filmes

A Leste e Oeste do Éden

O óbvio nem sempre é tão ululante. Sempre precisamos de alguém como o artista visual, Leo Piló, para acordarmos no Paraíso depois do pesadelo anunciado. E o sonho possível mora no Projeto Central de Reciclagem Criativa, idealizado por Piló e na exposição “Eco Eden Chic”, até 30 de novembro, no Mercado Novo, Centro. Mercado Novo, novo mundo, mundo ideal, que apresenta obras feitas com materiais reciclados: papelão, madeira, plástico e “Tetra Pak”. Trabalhos de mais de 50 artistas/alunos que participaram de oficinas oferecidas pelo projeto. O núcleo da mostra terá duas cadeiras e uma mesa, com diversos complementos: caixas, vasos, flores, bonecos, pratos, baú, mesas e objetos diversos. As oficinas aconteceram no Centro de Referência da Assistência Social CRAS Morro das Pedras, no Centro Pop Lagoinha, no Centro Cultural Alto Vera Cruz e no galpão do Léo Piló. Ops! Por falar em Piló, deixemos o homem falar e construir um horizonte mais belo.

Leo, primeiro, quanto tempo você já tem de belas artes?

Mais de 50 anos.

Quantas exposições?

Mais de 200.

“De volta ao futuro”, o que é o “Projeto Central de Reciclagem Criativa”?

Uma central que oferece diversas oficinas de reciclagem para o público em geral. Como principais materiais utilizamos papelão, plástico, madeira e “Tetra Pak”.

E a exposição “Eco Eden Chic”? Éden de Paraíso? 

“Eco Eden Chic”, um microcosmo para sonhar com um novo planeta. “BH (pode ser?) Melhor e Será”. Nas coletas e caminhadas desta vida vou em direção a um sonho. Nele vejo um microcosmo para minha rua, bairro e cidade. Nele trabalho no coletivo, com calma, conversa, coragem e cura. Tudo o que todos nós podemos.

O que podemos?

Desde muito cedo amante das artes e da sustentabilidade, dediquei bons anos a aprimorar práticas artísticas com nossos resíduos e aparas, junto aos galpões com os artistas e catadores, num cenário promissor de união, entre cultura, desenvolvimento sustentável e coleta seletiva. “Eco Eden Chic” é o resultado de ações coletivas, entre oficinas, reuniões e produções, num constante aperfeiçoamento de relações, montagens e invenções. 

Engrenagens?

Imaginei quatro plataformas, cada uma composta por quatro materiais, quatro artistas e quatro temas escolhidos. Esta mostra expositiva faz revelar o quanto é impressionante como fazemos coisas no cotidiano sem pensar no impacto que esses hábitos têm na natureza ou na vida. 

Como seria o éden, segundo Piló?

Uma rotina ideal seria preservar o Meio Ambiente, não maltratar os animais, produzir menos lixo, não ingerir agrotóxicos, reduzir o consumo de água e de energia e a emissão de gases de efeito estufa. Com “Eco Eden Chic” espero ansioso pela Cop 30 no Brasil, renovando nossas eco ações e a esperança no pilar da sustentabilidade para garantir o futuro, protegendo os biomas brasileiros para todos.

Como conseguiu reunir mais de 50 artistas, trabalhando com papelão, madeira, plástico e “Tetra Pak”?

Pelo interesse do público, através das inscrições nas oficinas. Pela vontade do público em conhecer e aprender novas confecções. As oficinas foram ministradas por mim, Léo Piló (papelão), Silma Dornas (plástico), Joana Sanglard (“Tetra Pak”) e Luiz Vitral (madeira), em vários lugares de Belo Horizonte, de agosto a setembro de 2024. Essas oficinas que resultaram na exposição “Eco Eden Chic”, buscaram trabalhar a teoria e a prática na reutilização de materiais recicláveis; o aprimoramento das práticas e produção de artistas e artesãos já iniciados na temática. 

Oficinas para um novo mundo?

As oficinas visaram criar suportes inusitados para as artes, através de construções coletivas e individuais com materiais de reciclagem, incentivando novas ideias e novos usos. A importância da preservação do Meio Ambiente através da reciclagem foi inserida no conteúdo, como uma forma de problematizar e contextualizar a importância dos ressignificados para a sociedade. Ou seja, utilizar novas técnicas para fazer com que as pessoas percebam o mundo de uma maneira mais agradável, proveitosa e eficiente.

“Eco Eden Chic” gerou que tipo de arte/objeto?

Novos objetos e novos ressignificados para materiais diversos. Temos, flores, bancos, vasos, objetos decorativos, quadros, etc.


Foto: Ítallo Vieira/Amanhã Filmes

A semente foi a exposição "Lixo Arte", no Palácio das Artes, em 2000?

Sim, foi na exposição “Lixo Arte”; quando conheci os catadores e fui trabalhar com a Associação dos Catadores de Papelão e Material Reaproveitável ASMARE. A partir daí comecei um novo trabalho que atingia a população, os artistas, os galpões e os catadores. Essa exposição foi um dos meus principais trabalhos. Uma exposição de novos suportes, criando um destemido, um novo. Recuperação dos resíduos.

Navegar é preciso, reciclar é imprescindível?

Diante de uma sociedade de consumo, a reciclagem é um sinal emergencial de que precisamos mudar hábitos e costumes. Hábitos de toda uma sociedade em todos os âmbitos e sentidos.

Concorda que lixo pode ser luxo e valer ouro?

Não existe mais lixo. Tudo deve circular! Mais importante do que luxo, eu acho que tem ser a eficiência e a prática das coisas. As pessoas precisam compreender os processos! O catador hoje é o agente ambiental. Temos que apoiar o catador! Isso é importantíssimo, essencial!

Você conseguiu fazer o mundo ser visto de uma maneira mais agradável, proveitosa e eficiente?

Acho agradável, uma estética com responsabilidade. Proveitosa, por atingir todas as pessoas. Eficiente, para entender o lixo zero.

Quer deixar um recado final ou inicial?

O projeto revelou que ações coletivas e com boas intenções são viáveis para nossa educação ambiental, para a coleta seletiva e para o cuidado com o meio ambiente. Precisamos realmente rever hábitos!