Paulo Navarro | Entrevista com Karla Alves
Entrevista com a cirurgiã-dentista Karla Magalhães Alves. Fotos: Arquivo Pessoal
Entrada Social
Boca é cartão postal e dentes são cartões de visita. Boca e dentes têm tudo a ver com o resto do corpo e com a Saúde. Para rimar mais, saúde bucal é fundamental. Mente sã em boca sadia, etc. Daí a importância da entrevista de hoje. Com vocês, uma convidada que enxerga o sorriso muito além da estética: a cirurgiã-dentista Karla Magalhães Alves. Com uma trajetória que une a odontopediatria, ortodontia, ortopedia facial e a harmonização orofacial, ela defende que a boca é porta de entrada para a saúde integral. Entre hábitos que parecem inofensivos, escolhas alimentares que impactam diretamente os dentes e o papel da odontologia na longevidade, Karla mostra como pequenos cuidados podem fazer toda a diferença para quem quer viver mais e melhor. Como dentistas também usam a “psicologia”, saibam que ao atender crianças, Karla se veste de princesa, sempre, tornando as consultas e procedimentos mais lúdicos. E quem procura acha! Com esta entrevista, aprendemos muito, inclusive o que é “kombucha”, uma bebida probiótica feita a partir da fermentação do chá preto ou verde adoçado. E Xilitol? “Um adoçante em qualquer alimento ou bebida, como café, sucos, chás, vitaminas e receitas como bolo, tortas e pudins”. Probiótica? Esta deixamos para vocês depois de escovarem os dentes. Agora, mesmo não sendo filmados, sorriam!
Karla, comecemos por uma “surpresinha”. Que hábito prejudica muito os dentes e pouca gente conhece. Qual é?
Escovar os dentes logo após consumir algo ácido; limão, refrigerantes, café, kombucha, vinhos, é um erro silencioso. O ácido amolece temporariamente o esmalte; se você escova nesse momento, acelera o desgaste e aumenta a sensibilidade. O ideal é esperar 30/40 minutos para a saliva neutralizar o pH e iniciar a remineralização.
Interessante. E “A” novidade. E depois?
Nesse intervalo, enxágue com água, mastigue chiclete sem açúcar, com xilitol, por pouco tempo ou coma um pequeno pedaço de queijo para estimular a salivação.
Quantos inimigos! Tem mais?
Outro vilão pouco percebido é a respiração bucal crônica (dormir de boca aberta, rinite descompensada, desvio de septo): ela reduz o fluxo salivar, favorece cárie, mau hálito e inflamação gengival. Sinais como boca seca ao acordar e língua “áspera” pedem avaliação odontológica e, quando necessário, integração com otorrino e terapia miofuncional (sistema muscular).
Como a alimentação influencia a saúde bucal no dia a dia?
Mais que “o quê”, contam o como e o quando. A frequência de açúcar ao longo do dia mantém o pH da boca baixo por horas; é pior beliscar doce o tempo todo do que comer uma sobremesa junto da refeição. Alimentos pegajosos (bala, caramelos, frutas secas, bolo) grudam nas fissuras dos molares.
Tem algum herói neste filme?
Maçã, cenoura e castanhas ajudam na autolimpeza. Proteínas e fibras atenuam picos ácidos; laticínios, como leite, queijos e iogurtes, são fontes de cálcio e fosfato e contribuem para a remineralização do esmalte dentário. Além disso, estimulam a salivação e ajudam a neutralizar os ácidos na boca, protegendo contra as cáries; fornecem cálcio e fosfato para remineralizar. Hidratação é essencial: a saliva é o “ecossistema” que protege dentes e gengivas.
E o delicioso cafezinho? E o vinho tinto de cada dia?
Bebidas pigmentantes, como café e vinho tinto, podem permanecer no seu estilo de vida, desde que você enxágue com água após o consumo e mantenha higiene noturna caprichada. Se gosta de água com limão, concentre em momentos específicos, use canudo e intercale com água pura para não acidificar a boca o dia inteiro.
Qual é o papel da odontologia na longevidade saudável?
Enorme. Gengivite e periodontite elevam a carga inflamatória do organismo e se relacionam ao pior controle glicêmico e risco cardiovascular - cuidar da boca é cuidar do corpo. Prevenção periódica reduz inflamação e evita perdas dentárias que comprometem mastigação, nutrição e autoestima.
E a famosa e sempre na moda, a Ortodontia? Não é só estética, certo?
Ortodontia em qualquer idade não é só estética: alinhamento facilita a higiene, distribui forças mastigatórias, protege o esmalte e as articulações. Identificar e tratar bruxismo melhora o sono e preserva estruturas; casos leves de apneia podem se beneficiar de dispositivos intraorais. Na ausência de dentes, reabilitações bem planejadas devolvem a eficiência mastigatória e o prazer de comer, impactando a imunidade e o bem-estar.
E a outra estrela, a Harmonização Orofacial?
A Harmonização Orofacial, feita com critério, integra função e estética, corrigindo assimetrias leves, melhorando o sorriso gengival e diminuindo a queda da face. Em casa, o tripé é simples e poderoso: escovação suave 2/3 vezes ao dia, fio ou fita dental à noite e escovas interdentais para quem usa aparelho ou tem espaços. A tudo isso some check-ups personalizados, fluorterapia quando indicada e orientações baseadas no seu perfil de risco. É assim que a odontologia soma anos com qualidade à sua vida.
Para concluir: um gesto de impacto imediato...
Organize suas “janelas” de alimentação (menos beliscos doces), aguarde antes de escovar após ácidos, trate a respiração bucal e não falte ao controle preventivo. Pequenas escolhas hoje constroem o sorriso e a saúde que você quer manter amanhã.