Paulo Navarro | Entrevista com Jair Raso


Entrevista com o dramaturgo e médico Jair Raso. Foto: Flávia Canavaro

Oceânico Jair

Começamos respondendo a primeira pergunta ao “mediturgo”, “dramédico”, dramaturgo e médico, Jair Raso, sobre São Lucas, o padroeiro dos médicos que, além de santo médico, dizem ter sido pintor e escritor. Aliás, a história de São Lucas está no livro de Taylor Caldwell, “Médico de Homens e de Almas”. Continuamos com a segunda pergunta, lembrando que médicos também podem ser até jornalistas. Pensando bem, é melhor ser médico e dramaturgo. E, melhor que dramaturgo e médico, é ser Jair Raso, um mestre nas duas vocações. Duas profissões cheias de vida que geram comédias, dramas e aplausos. Com 40 anos de teatro, nada mais natural e merecido que ser homenageado na atual “50ª Campanha de Popularização da Dança e do Teatro”.

40 anos em cinco. Cinco peças, muitos atores, visões, sentimentos, pensamentos e ideias. Terminando com a última pergunta, qual será a joia de Jair em 2025, com tanto talento, tesão e criatividade, ele bem poderia participar da “51ª Campanha de Popularização da Dança e do Teatro”, com uma dança, em 2026 e até mesmo da “29ª Mostra de Cinema de Tiradentes”, com a adaptação de um de seus textos. Por que não? Afinal, o Cinema, como o Teatro, também é “um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”.

Continue a leitura para conhecer essa história completa!

Jair, o que acha de São Lucas?

Aceito rezas para todos os santos. Só não rezo para Nossa Senhora desatadora de nós, por ser cirurgião. 

Juramos não perguntar o de sempre, como ser médico e dramaturgo, OK? 

Se você jura, então juro que não vou responder. 

Mesmo assim, o teatro é o remédio, o soro, a vitamina ou a vacina do Dr. Jair Raso?

O trabalho no teatro descansa o médico. Escrever é diferente. Não dá para desligar um e ligar o outro. É tudo junto e misturado.

Como é comemorar 40 anos de dramaturgia, com a “Mostra Jair Raso”, na 50ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança?

Celebro 40 anos como profissional do teatro. Comecei como dramaturgo nove anos antes (quase empatei com a idade da campanha). É uma felicidade poder contribuir com a campanha, um verdadeiro festival popular de teatro, sem paralelo no Brasil. O trabalho no teatro não é trabalho de um. A “Mostra” permite apreciar o trabalho das pessoas envolvidas nas produções, com destaque para o trabalho dos atores e atrizes.

Alguns nomes em especial?

Paulo Rezende e Marcelo do Vale (“Uma Passagem para dois”); Luiz Rocha e Dan Maia (“Chico Rosa”); Ricardo Batista (Defunto bom é defunto morto); Juçara Costa (“Julia e a memória do futuro”); Joselma Luquini e Vinicius de Castro (“O Belo Indiferente”) e Ilvio Amaral e Maurício Canguçu (“Maio, antes que você me esqueça”).

Conseguiu divertir, emocionar e fazer o público pensar?

Tenho por hábito assistir às apresentações de minhas peças. Aprendo muito com a reação do público. Sei que é muita pretensão tentar divertir, emocionar e fazer pensar. Mas essa é minha busca como dramaturgo e diretor. 

A Medicina, as neurociências e a filosofia são, deveriam ou poderiam ser tragicômicas?

O mundo dicotomizado não existe, salvo por razões didáticas. A vida mesmo é tragicômica. 

Na “Mostra Jair Raso” tivemos “Maio, Antes Que Você Me Esqueça”. Por que maio e não outubro?

Porque Alice, amada do protagonista, adorava o mês de maio. 

E as outras quatro? Cada uma, um estilo? “Uma passagem para dois”.

“Uma passagem para dois”, é a peça em que consigo expor, de modo escancarado, o pensamento. E vem embrulhada em alta tecnologia, com cenários criados por inteligência artificial. Uma experiência sonora e visual ímpar. 

Julia...

“Julia e a memória do futuro” é uma peça tragicômica, em que falo da revolução silenciosa de uma mulher, por meio de sua arte.  

“Noel Buarque”!

“Chico Rosa” é o musical que reúne Chico Buarque com Noel Rosa. Como não poderia deixar de ser, um encontro descontraído numa mesa de boteco.

Dois defuntos...

“Defunto bom é defunto morto” é uma comédia que escrevi com Ricardo Batista. Para amenizar o rigor intelectual é ótimo escrever jogando conversa fora. 

E o “toque francês”?

Por fim, dirigi a peça que Jean Cocteau escreveu para Edith Piaf, “O Belo Indiferente”. Para amenizar a violência psicológica do texto, promovemos um diálogo visual do autor com um artista plástico contemporâneo, Miguel Gontijo. 

Você tem uma peça favorita ou ela ainda não nasceu?

Minha peça “Três Mães”, de 2002 tem um valor especial, não por ter sido meu primeiro prêmio como dramaturgo, mas por ter conseguido escrever uma peça cujo sucesso atribuo à atuação de Wilma Henriques, a dama de nosso teatro, que contracenou com Marcelo do Vale.

Quatro vezes Wilma?

Wilma é um patrimônio do nosso teatro e tenho a felicidade de tê-la como atriz em quatro peças minhas: além de “Três Mães”, ela atuou em “As mulheres se odeiam” (1998); “A paixão de um deus” (1999) e “Vida na TV (espelho)” (2019). Com “Vida na TV (espelho), ” Wilma encerrou sua carreira justamente com uma peça que fala de seu início como atriz, na extinta TV Itacolomi. 

Qual será a joia de Jair em 2025? Já está sendo lapidada? Tem um tema?

Em 2025, vou trabalhar com Carlos Nunes. Vamos escrever uma peça sobre a vida do médico, escritor e dramaturgo Ângelo Machado. Será uma produção do Instituto Cultural Ciências Médicas. Além disso, sigo trabalhando num texto sobre a loucura, mas não sei se ficará pronto esse ano.

Hora dos comerciais. Quais espetáculos ainda estão na “Mostra Jair Raso”, ainda dentro da “50ª Campanha de Popularização da Dança e do Teatro”?

Entre os espetáculos estão "Maio, Antes Que Você Me Esqueça", em cartaz dias 5, 6,12 e 13 de fevereiro, no Teatro Feluma; "Uma Passagem para Dois", até 11 de fevereiro, no Teatro Feluma; "Chico Rosa", de 14 a 16 de fevereiro, no Teatro Feluma e "Julia e a Memória do Futuro", dias 15 e 16 de fevereiro, no Teatro Feluma.