Paulo Navarro | Entrevista com Fátima Pinto Coelho


Entrevista com a escritora Fátima Pinto Coelho. Fotos: Arquivo Pessoal

Sem Paralelo

Menos é mais. Pelo menos nesta entrevista, a múltipla Fátima Pinto Coelho é uma mulher de poucas palavras. Mas só aqui. Por exemplo, ela acaba de lançar seu segundo livro, “Paralelo 20”, editado por Alexandre Ribeiro Machado, com desenhos de Isaura Pena e projeto gráfico de Marcelo Drumond, pela Editora Miguilim. E aqui entre nós, em 144 páginas cabem muitas palavras. Palavras que vieram se juntar às do primeiro livro, “Catas Altas do Matto Dentro” e que prometem encontrar as colegas da próxima obra, “sobre a trajetória da ‘Galeria Gesto Gráfico’, a primeira galeria de arte contemporânea de Minas Gerais”. Como veem nada é pouco para Fátima porque muito ainda é muito pouco. E porque sempre cabe mais.

O que mais? Todos os caminhos da arte, retos ou tortuosos; uma casa galeria; muitas e doces memórias sobre a Escola Guignard e seus mestres; uma Bienal; arte e educação para crianças, adolescentes e “lições de anatomia” para clientes e apaixonados em arte contemporânea brasileira. E como para Fátima, lembrar dói mais que sonhar, desejamos a ela mais sonhos e de todos os tipos: dos mágicos e absurdos aos mais reais e palpáveis. Chega de escrever! Fala Fátima!

Fátima, por favor, consegue resumir o currículo de arte-educadora, galerista, estudiosa de arte mineira e escritora?

Sim, trabalho e tenho interesse por todos estes caminhos na arte. Acho que tudo se cruza e uma coisa vai alimentando a outra.

Antes, para te ajudar, uma pequena retrospectiva: você tem uma casa-galeria?

Sim, eu tenho uma galeria dentro da minha casa. O projeto do Fernando Maculan e da Mariza Machado Coelho, da MACh Arquitetos, acolheu bem o conceito que queríamos.

O que guardou, usou como ex-aluna de Belas Artes na Escola Guignard?

O nome de três grandes professores: Guignard e sua puríssima linha nos mostrou o caminho. Na prática, Sara Ávila e Amílcar de Castro, sendo que o último se tornou meu professor para sempre.

Expôs na Bienal em 1977, foi uma das pioneiras da arte-educação em BH, abrindo uma escolinha de arte dentro da galeria Gesto Gráfico... Não é pouco...

Não é mesmo não! Trabalhei demais e aprendi muito.

Amílcar de Castro, Isaura Pena, Beatriz Milhazes, Leonilson... Muito é muito pouco, como diria Caetano Veloso?

É. Sempre poderia ter sido mais!

Agora, “só” escritora?

Não, pratico arte e educação sempre que posso entre crianças e adolescentes. Continuo atendendo clientes e apaixonados em arte contemporânea brasileira. Ainda respondendo sua pergunta, Minas Gerais vai ser sempre um foco do meu interesse e, por último, escrevo quando me vem um calafrio de sentimentos.

O que é “O Paralelo 20”, além de seu segundo livro?

Procuro situar o leitor geograficamente no mato dentro, no quadrilátero ferrífero. Aí correm as histórias da minha família. Santa Bárbara é o centro, de lá vem os Pinto Coelho e os Motta.

Por que este enigmático título?

Paralelos são linhas imaginárias, a norte e a sul do equador. O paralelo de latitude 20 Sul atravessa a zona do mato dentro, por onde vamos caminhar.

Qual o primeiro livro?

“Catas Altas do Matto Dentro”, que foi lançado em 2018. Foi a minha estreia oficial como escritora.

Como foi o lançamento de “Paralelo 20”?

Foi um encontro muito bacana prestigiado por colegas da arte, amigos e família em uma tarde muito agradável.

Infância, literalmente, é o mapa da mina?

Sim.

O que dói mais? Lembrar ou sonhar?

Lembrar.

Qual o próximo paralelo? O infinito?

O terceiro livro será sobre a trajetória da Galeria Gesto Gráfico, a primeira galeria de arte contemporânea de Minas Gerais. Preencheu uma lacuna já que não temos um museu de arte.