Paulo Navarro | Entrevista com Daniella Zupo


Entrevista com a escritora Daniella Zupo. Foto: Márcia Charnizon

Söderbokhandeln perto de Medborgarplatsen

Daniella Zupo é uma jornalista e escritora muito talentosa, bonita e inteligente, mas não entendeu a “brincadeira” na segunda pergunta da entrevista. É claro que sabemos que Bob Dylan ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 2016 e que a Academia Sueca, que concede o prêmio, mora em Estocolmo, capital da mesma Suécia. O pitoresco na pergunta é que Dylan, com a delicadeza de um viking, não foi receber a medalha, o diploma e a grana (839 mil euros), no dia da cerimônia, 10 de dezembro de 2016, porque, aparentemente, tinha coisa melhor a fazer ou, em suas palavras, “tinha outros compromissos”. Só foi buscar o pacote, quatro meses depois. Mas o que interessa mesmo é o novo livro de Zupo, “O dia em que encontrei Bob Dylan numa livraria de Estocolmo”. O título é ótimo e o livro parece ser um guia de viagem interior e pelo exterior, “uma série de relatos de viagens que cruzam continentes e sentimentos. Entre vilarejos e grandes metrópoles, suas experiências são mais do que simples deslocamentos físicos, mas transformações internas e encontros em suas várias formas”.

Assim, no meio do caminho, desviando de pedras, preparem-se para conhecer João Anzanello Carrascoza e até Kiruna, uma cidade transplantada. Aprendam que viajar sozinho pode ser até viajar mal acompanhado, por isso, sempre levem uma boa companhia, um livro, tipo “O dia em que encontrei Bob Dylan numa livraria de Barbacena”. Ops! Mil perdões, Barbacena não tem livrarias, mas de lá, pela Amazon você pode encontrar “O dia em que encontrei Bob Dylan numa livraria de Estocolmo”. Ou em Malibu!

Daniella, de cara, de primeira. Você encontrou mesmo Bob Dylan numa livraria, em Estocolmo?

Essa é a pergunta que não posso responder sem dar spoilers. Para quem gosta deles, deixo uma dica: vá direto para o final do livro. É lá que se encontra a resposta. Mas não posso garantir que o leitor, lendo só o final, vá entender.

A livraria a gente até entende, falando sobre um Prêmio Nobel, mas em Estocolmo?

Uai, mas é lá que fica a Academia Sueca!

Bem antes de Estocolmo, como Daniella Zupo chegou lá? Consegue resumir a viagem?

Acho que a viagem começa quando eu começo a trilhar um tipo de vida que eu poderia chamar de minha.


Entrevista com a escritora Daniella Zupo. Foto: Márcia Charnizon

Viajar sozinha é melhor do que bem acompanhada?

Viajar sozinha pode significar várias coisas, inclusive, dependendo do momento, viajar mal acompanhada...

Como foi o lançamento em Portugal e em Belo Horizonte?

Ambos maravilhosos e bem diferentes: em Portugal, onde o livro teve seu pré-lançamento, foi a primeira vez que falei do livro para leitores que nem me conheciam, mas que têm um profundo interesse pela literatura. E tive a oportunidade de fazer o primeiro movimento do livro em um festival de literatura de viagem, ou seja, não poderia ser um começo melhor. Em Belo Horizonte, minha cidade, foi uma festa: foram quase quatro horas autografando sem parar e cercada de afeto e amizade.

Quem é João Anzanello Carrascoza?

Para mim, um dos melhores autores brasileiros contemporâneos. Premiado com o Jabuti e o APCA, entre outros, é autor de vários livros, entre romances, contos e infanto-juvenis. Carrascoza é um autor que sabe escrever com muito talento e sensibilidade sobre a complexidade das relações humanas. Recomendo a sua Trilogia do Adeus.

Dizem que na viagem para Bob Dylan você encontrou a primeira cidade do mundo a ser transplantada? O que é uma cidade transplantada? Outra viagem?

Sei que parece força de expressão, mas não é. Kiruna, ao norte da Suécia, está sendo transplantada, ou seja, realocada em outro território edifício por edifício, como eu explico no livro em detalhes. A cidade abriga uma mina centenária e responsável por grande parte do abastecimento de ferro não apenas da Suécia, mas da União Europeia. A solução encontrada pelo governo sueco foi levar toda a cidade, incluindo os moradores que assim desejarem, para uma outra localidade, próxima à Kiruna. Nem todos aceitam, mas todos têm que deixar a cidade. Quem não se muda, é indenizado. Aliás, fiquei sabendo que “Abismo”, filme da Netflix, foi inspirado em Kiruna. Aqui no Brasil, ninguém fala sobre isso, mas eu estava lá e vi com meus próprios olhos.

Quem é mais estranha e misteriosa, Kiruna ou Daniella?

Não sei, mas espero nunca afundar como Kiruna. (Risos). Já encarei meus abismos, mas hoje não os encaro mais por muito tempo. Aprendi com Nietzsche. O segredo, creio eu, é não se esquecer de olhar para o céu.

Como teu primeiro livro e a websérie, amanhã hoje continua sendo ontem?

Sempre.


Quem você gostaria de encontrar em, digamos, uma farmácia ou bar, na Lapônia, Leonard Cohen, Patti Smith ou Nick Cave?

Ah, esta pergunta é a mais difícil... mas acho que a chance de encontrar a mulher que é uma das minhas maiores inspirações é imbatível. Então, digamos, que eu gostaria de tomar um café com Patti Smith e passear com ela pelas livrarias da Savassi.

 Qual a próxima viagem-livro?

Aquela que começar primeiro dentro de mim.