Paulo Navarro | Entrevista com Aline Garcia
Entrevista com Aline Garcia. Foto André Frade
“Merde” para Tiradentes
Calma gente, não estamos insultando nem sugerindo um presente à linda cidade de Tiradentes. É que, como nos lembra Aline Garcia, idealizadora e coordenadora da “Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena”, do dia 2 ao dia 5 de maio, quando se deseja sorte em teatro utiliza-se a expressão "merda" ou "muita merda". A origem, mais crível e francesa, da expressão, vem do tempo em que se ia ao teatro a cavalo ou de charrete.
Os cavalos paravam em frente ao teatro e, sem cerimônia, faziam ali mesmo suas necessidades. Assim quanto mais fezes, mais gente, mais público, mais sucesso. Então, mais “merde” para a “Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena”. Um espaço vital para artistas locais, regionais e nacionais. Diversidade e expressão criativa. Vitalidade econômica e Turismo; emprego e renda. Celebração e encontros. Comunhão e conexão.
Enfim, uma experiência cultural abrangente e enriquecedora. “Merde” sim, mas vida longa e muito mais aplausos! Continue a leitura para conhecer essa história completa.
Aline, qual a importância da “Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena” chegar à 11ª edição, com extensa programação gratuita? Voltamos ao “normal” e com força?
Certamente! A continuidade da mostra é de grande importância. Eventos culturais como este proporcionam um espaço vital para artistas locais, regionais e nacionais apresentarem seus trabalhos, promovendo a diversidade e a expressão criativa. Além disso, oferecer uma programação diversa e plural amplia o acesso à cultura, possibilitando que pessoas de diferentes origens socioeconômicas participem e apreciem as artes cênicas. Os retornos de eventos culturais não só fortalecem a cena cultural local, mas também contribuem para a vitalidade econômica da região, atraindo turistas e gerando receita para Tiradentes, que vive do turismo e o turismo cultural e de experiência é de grande valor.
E Tiradentes começa em São João Del Rei?
Expandir a “Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena” para São João Del Rei é uma oportunidade incrível para fortalecer os laços culturais entre as duas cidades, além de promover o desenvolvimento artístico e turístico da região. Afinal, somos ligados pela linha férrea, passeio icônico de Maria Fumaça. Levaremos para São João o espetáculo "Vestido de Noiva", do Grupo Oficcina Multimédia. Será no teatro municipal, com capacidade de 480 lugares, o único local na região capaz de receber uma produção desse porte. E aquele Teatro é lindo demais!
De 2 a 5 de maio, por que o tema “Celebração e Encontros”?
A escolha da temática "Celebrações e Encontros" foi motivada pela busca de um tema que refletisse os valores de comunhão e conexão que são essenciais às artes cênicas e às pessoas. Um dos legados mais importantes de um festival é o encontro. A ideia é compartilhar experiências, celebrar a diversidade cultural e promover a interação entre diferentes pessoas e grupos sociais. Além disso, a escolha dessa temática também se alinha com a missão da mostra de promover o diálogo entre artistas e espectadores, incentivando a troca.
E os tão variados homenageados?
Os homenageados na mostra são uma parte fundamental do evento, representando uma variedade de talentos e contribuições para as artes cênicas. Celebraremos grupos de rua como Maria Cutia e Teatro da Pedra de São João Del Rei. Além disso, é uma honra especial poder homenagear o encontro da Monah Delacy e sua filha, Cristiane Torloni. Esse momento representa não apenas uma conexão familiar significativa, mas também uma oportunidade de reconhecer e celebrar o legado artístico de ambas as artistas.
Espetáculos teatrais, shows, oficinas, rodas de conversa e o que mais? Até um cortejo?
Queremos oferecer uma experiência cultural abrangente e enriquecedora. Desde espetáculos teatrais de diferentes estilos e gêneros até shows musicais, oficinas, rodas de conversa e o tradicional cortejo do grupo Sagrada Profana. O evento abraça todas as formas de expressão artística. Essa diversidade e pluralidade refletem não apenas o lema, mas também o DNA do evento, destacando seu compromisso em envolver e celebrar todas as formas de fazer artístico.
Quem é o público, já cativo?
Temos artistas, diretores, programadores, comunidade, moradores da região e turistas.
E a abertura, dia 2 de maio, começa forte, com nada menos o musical “Auto da Compadecida”, dirigido por Gabriel Villela... Parabéns!
Honra enorme para nós. Com longa trajetória, a premiada companhia, Grupo Maria Cutia de Teatro, traz ao público uma releitura do texto de Ariano Suassuna, com direção e concepção geral do célebre diretor Gabriel Villela. Proporcionar esse encontro com a plateia é, sem dúvida, motivo de grande alegria e orgulho.
O que significa a grande novidade, os palcos no Largo da Rodoviária?
A inclusão dos palcos no Largo da Rodoviária representa uma novidade desafiadora para esta edição. Essa expansão para novos espaços desafia nossa equipe a superar barreiras e encontrar maneiras criativas de levar a arte para fora dos palcos tradicionais. Para garantir a continuidade desse crescimento, é essencial contar com o apoio e a conscientização cada vez maiores das empresas em relação ao patrocínio da mostra de artes cênicas, uma arte complexa e desafiadora de ser levada para as ruas.
Outra novidade é a estreia nacional do espetáculo “Diário de um Órfão”?
O oitavo espetáculo do Teatro de Afeto é um solo autoral sobre os órfãos do Brasil, que mescla linguagens de teatro ritual e documental. O ator, Saulo Rocha, que ficou órfão de pai e mãe na primeira infância, compartilha experiências pessoais. A peça foi desenvolvida em parceria e tem 100% do lucro revertido para a ONG “Nasci pra Brilhar”, que atua na defesa dos direitos de crianças e adolescentes órfãos ou que moram em abrigos. É mais que um espetáculo, é uma causa. Então abriremos espaço para essa estreia ser aqui.
Seduza-nos com os destaques, por favor?
A participação de Karla Conca, uma mestra e pioneira na palhaçaria feminina, que fundou o grupo “Maria das Graças”, composto exclusivamente por mulheres palhaças. "O Pequeno Herói Preto", uma produção de Junior Dantas, do Rio de Janeiro. Autobiografia autorizada do Paulo Betti. A presença do GIRART primeiro mercado cultural da Argentina dedicado às artes cênicas com oficina e conversa sobre a internacionalização das produções brasileiras e uma roda ancestral: é tempo de se aquilombar trazendo uma demanda antirracista necessária para escurecer alguns dos valores civilizatórios africanos e afro-brasileiros como a energia vital, a coletividade, a circularidade, a corporeidade e a musicalidade. É muita coisa. É para todos.
Só nos resta desejar, “merde” para vocês, mas melhor explicar o motivo...
Dizer 'merda' é quase que um ritual para os atores e tem origem francesa. Antigamente, as pessoas andavam à charrete (guiado por um cavalo). E quando a peça era muito boa, e lotava o teatro, obviamente, muitos cavalos iam até o local conduzindo seus donos e com isso, muitas fezes eram encontradas no caminho. Ou seja, 'merda' por haver muitas pessoas assistindo à apresentação e, por atrair um grande público, só poderia ser um bom espetáculo.