Paulo Navarro | sábado, 14 de dezembro de 2019
Foto: Arquivo pessoal/Divulgação
Carpinejemos
É errado dizer que o cronista e jornalista Fabrício Carpinejar é gaúcho porque nasceu no Rio Grande do Sul. É simplesmente brasileiro, o que é, no mínimo, uma profissão, uma esperança. Sua escrita? “Minha arte é a da empatia. Aprendi que mudar de vida faz ninguém mudar de personalidade. Portanto, me coloco no lugar do outro para ajudá-lo a gostar de si e se aceitar”. Aceitamos e gostamos.
Fabrício, escrever é fácil ou é fácil apenas para quem sabe, para quem leu muito?
Escrever é fácil para quem pensa muito, difícil para quem pensa pouco. Inspiração costuma ser prêmio da transpiração incessante. A escrita é parcela pequena de toda minha atividade intelectual, sou assíduo de cinema, teatro, shows, mostras de artes plásticas.
Quem são seus leitores, leitoras?
Eles se renovam. Porque escrevo também para crianças e adolescentes. Quatro livros meus foram adotados pelo Programa Nacional do Livro Didático. Serão distribuídos 264.650 exemplares para as bibliotecas de todo o país.
O brasileiro continua péssimo estudante. E como leitor?
Minas é referência de ensino: das 50 melhores escolas brasileiras, pelo Enem, oito são mineiras. O estado jamais renunciou à tradição, disciplina, severidade, apesar dos tempos digitais. Temos que manter um olho na tela, outro no livro. Até para não ser trapaceado por “fake news”.
As redes sociais nivelaram por baixo o ato de escrever, ler e pensar?
Não acredito. As pessoas estão lendo mais. Falta apenas comparar mais, duvidar mais. Falta leitura acompanhada, orientada. A web virou terra de ninguém. Pais precisam conversar com os filhos sobre por onde eles andam navegando. Internet é rua, sair de casa.
Hoje você é muito mais popular, sem ser autoajuda, concorda?
Busco a frase perfeita, o texto emocionante, a engenhosidade dos parágrafos curtos. Grandes autores e clássicos são populares. É um erro acreditar que, quando o autor se torna popular, ele se empobreceu artisticamente. O público não é burro. Só um artista de verdade surpreende, renova-se, cria novos padrões de comportamento e desconcerta as expectativas.
E seu mais recente livro, “Família é Tudo”?
É quando me dou conta que sou mais parecido com os meus pais do que imaginava. Tudo o que odiava neles na adolescência hoje eu amo e não canso de repetir. Vi uma mancha de pasta de dente no casaco de meu filho e tentei limpar com saliva. Um gesto impensado, passional. Quando vi já raspava a unha no tecido, desesperado. Meu filho, que não é mais criança, só faltou gritar.
Que escritores te inspiram ou te piram?
Rubem Braga escreveu sobre o pouco, o cotidiano mais fugaz, com a elevação emocional de uma ópera. Simples grandioso. É minha referência na crônica: leve sem ser superficial, ser do mundo sem esquecer o quanto o humano é divino.
O que escreveria num guardanapo para os leitores de “O Tempo”?
O tempo nunca morre dentro da ternura.