Paulo Navarro | sábado, 13 de fevereiro de 2021
José Alberto Nemer. Foto: Xará J. Moysés
Capitão Nemo
José Alberto Nemer, mais que artista plástico, um “Grand Monsieur”. Ele, como sua bela arte, é uma aquarela; explosão de cores, incluindo as de Ouro Preto e as das calçadas da Rua do Chumbo, na infância do bairro Serra? “Sou uma mistura, uma síntese de mim mesmo”. Mistura fina! Oriente e Ocidente. Personagem de Jules Verne respirando a esperança do futuro e colecionando objetos antigos.
Nemer, Ouro Preto, tua cidade Natal; Paris, onde viveu; BH, que reveza com Ouro Preto.
Ouro Preto: nostalgia de como ela era. Paris: nostalgia de como eu era nela. BH: o eterno presente.
Ouro Preto, um retrato dolorido?
Frequentemente, sim. Sofro com a descaracterização de administrações insensíveis, populistas e obscurantistas. Mas a esperança se renova a cada gestão do atual prefeito, Angelo Oswaldo, o intelectual certo para o cargo certo.
Voltando ao Nemer de Paris?
Três fases: uma de bolsista francês, dinheiro curto e Cidade Universitária; outra de profissional em começo de carreira, ilustrando para revistas e tocando violão para defender um vinho melhor; a terceira foi bem mais confortável, bolsista de doutorado, ilustrando, dando aula na universidade, assessorando documentários de arte. Cada uma, uma “grande vie”.
Nos quatro anos em Paris, de 1975 a 79. Qual foi o maior mestre?
A vida: ampla, geral e irrestrita.
Georges Bernanos é a cara de Barbacena. Ouro Preto tem um escritor de adoção? Que tal Blaise Cendrars?
Foi Cendrars quem abriu os olhos dos Modernistas para Aleijadinho e nossas riquezas culturais. Depois de uma viagem, juntos, em 1924, Cendrars disse aos amigos brasileiros que “deveriam tomar o trem para Minas ao invés do navio para o Havre” (porto francês).
BH! Todo dia enjoa?
Não, mas sinto falta de viajar. O efeito mais severo da pandemia.
Uma vez professor, eterno professor e aluno?
Sim. A arte de ensinar é proporcional à capacidade de aprender.
Todos os prêmios levaram à aquarela?
A aquarela é resultado mais das hesitações e incertezas do que dos prêmios. Os prêmios ficaram na minha história.
O mundo de Nemer cabe em aquarelas?
“O” mundo, não. Mas “um” mundo, sim.
Onde você estava quando a Covid-19 aconteceu?
Saindo de uma quarentena individual. Endocardite; UTI e internação. Quando melhorei, estava na quarentena da humanidade.
Confinamento: trabalho ou férias?
Aprendi a criar uma rotina de trabalho. O resto, é vida monástica. Como esperar a vacina. Pedindo paciência a Deus e tolerância para com os homens.
Acredita em 2021?
“Esperança”. Renovar o quanto for preciso em palavra e gesto.
Para este ano, exposições à vista?
Até segunda ordem. No Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.
Algum “hobby”?
Não, mas uma extensão da vida. Gosto de juntar objetos antigos, escrever, ler, cozinhar, cantar e tocar um violãozinho.
Uma trilha sonora para 2020 e 2021.
“Emoções”.