Sábado, 4 de maio de 2024


Bem longe de pedras e pés de moleque, Sophia Pace. Foto: Edy Fernandes

Pé de amendoim

Pé de moleque: o doce e as ruas calçadas com pedras irregulares, nas cidades dos anos mais antigos do passado no Brasil. Reza a lenda que, nas ruas coloniais, quituteiras vendiam uma iguaria de rapadura e amendoim. Quando se distraíam, moleques passavam correndo e roubavam um doce. Para dizer que não era preciso roubar, as mulheres gritavam: “Pede, moleque, pede!”. 

Pé de pedra

Assim foi batizado o pé de moleque, um clássico do Brasil “antigo”, com a chegada da cana-de-açúcar. A outra explicação é o visual do doce, lembrando o calçamento colonial de pedras irregulares, que ainda leva o nome de pé de moleque que, por sua vez, faz referência aos pezinhos pouco delicados da molecada.

Pé de português

Já um texto de Arnaldo Silva, em vários sites da Internet, dá uma origem para o nome mais inusitada, mas absurda e interessante. Esse calçamento era comum na Europa e foi introduzido pelos portugueses no Brasil. Agora, o inacreditável. Segundo Silva, as pedras vinham de Portugal, em navios e as ruas do Rio de Janeiro, Paraty, Salvador, Porto Seguro, Santos, etc., receberam essa pavimentação.

Pé torto

Pausa para o comentário de um leitor de Silva, com o qual concordamos 100%. Escreveu Deodato Souza: “Custa crer que navios trouxessem pedras da Europa. Pedra aqui nunca faltou. Carga pesadíssima, cada navio traria, de cada vez, pedras para alguns metros de rua. Ruas calçadas com pedra-sabão? Muito frágil e, principalmente, escorregadia. O texto é um alinhavado juntando coisas pescadas aqui e ali, e confunde mais do que informa”.

Pé de peixe

Mas continua Arnaldo Silva: As pedras chegavam por mar e levadas para seus destinos em carros de bois. O ouro de Minas seguia para o porto de Paraty, em carruagens, mulas, burros e em sua maioria, em carros de bois. Deixavam o ouro e traziam pedras para calçamento, na volta. Como Minas era “muito longe”, optaram por calçar suas ruas com as pedras abundantes e locais, nas Gerais.

Pé de ouro

Na região de Ouro Preto, a pedra sabão era a mais comum e foi a mais usada nos calçamentos. O corte das pedras era totalmente rústico, feito a base da picareta, pelos escravos e em boa parte, nem eram cortadas, mas colocadas na forma que eram retiradas. Aumentou a exploração do ouro e as vilas cresceram. Os escravos foram largamente usados para abrir ruas e calçar as mesmas.

Pé de braço

Era no braço, na picareta, enxada e pás. As pedras vinham de pedreiras e rios. A partir de 1760, a melhora das vias públicas se fez necessária, evitando atoleiros, buracos e poeira. As cidades começaram a receber calçamento, nas ruas lamacentas  e poeirentas, que passou a ser chamado de pés de moleque.

Pé de peralta

Os trabalhos eram executados pelos escravos e presidiários obrigados a trabalhar, sob forte vigilância e acorrentados pelos pés. Os filhos desses escravos, chamados de "moleques", iam, em seguida, esparramando terra arenosa e acertando as pedras com os pés. Por isso, "pé de moleque", embora muita gente diga que o nome é porque as pedras lembram o famoso doce, pé de moleque.


Com todo o conforto que seus pés merecem, Tami Halabi. Foto: Edy Fernandes


Posando com segurança, em local bem moderno e seguro, Victória Pena. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*O doce é bem posterior ao calçamento, portanto, não faz sentido associar a pedra ao doce, até porque moleque, sempre era usado para chamar os filhos dos escravos.

O doce de amendoim surgiu no Século 19 e esse tipo de calçamento existe há séculos, na Europa, inclusive na Roma antiga, há mais de dois mil anos.

O doce em questão passou a ser chamado de "pé de Moleque" justamente porque esse tipo de calçamento lembra o doce no tabuleiro e não o contrário.

Para modernizar as cidades, os calçamentos em pés de moleques começaram a ser trocados por paralelepípedos, bem trabalhados, lisos, colocados lado a lado.

Esse tipo de calçamento evitava os constantes tropeços que o calçamento em pés de moleques causava e por dar um visual mais bonito às ruas, já que eram lisas e uniformes.

E assim foi na maioria das cidades históricas mineiras e do Brasil também.

Poucas ruas de nossas cidades históricas mantiveram o calçamento original, sendo substituídos pelos paralelepípedos do final do Século 19.

E, hoje, pelo asfalto, selvagem, vagabundo e esburacado, mas asfalto.