Sábado, 2 de março de 2024
Hoje é dia de perfeitas musas de Alberto da Veiga Guignard, como Leiziane Rodrigues. Foto: Edy Fernandes
Ficção e arte
A obra-prima do irlandês Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray” (1890), é um romance sobre o Mal através da arte; o preço que pagamos pelos crimes que perpetramos no escurinho do cinema que é a vida. Gray faz um pacto com algum satanás para permanecer jovem. Acontece que o retrato dele, pintado por um de seus amigos, acaba virando o de um monstro, ao absorver todos os pecados de Dorian Gray”.
Arte e vida
Filho de nobres, o pintor francês, Toulouse-Lautrec (1864-1901) sofria de uma doença genética rara, tinha ossos frágeis e baixa estatura. Media 1,52m, corpo de adulto, pernas de menino. Morreu aos 36 anos, de sífilis e alcoolismo. Claro, era um devasso, rico e complexado. Mesmo assim, sua obra pós-impressionista é cheia de vida, retratando a Paris boêmia de cabarés, os bordéis e suas “pobres flores gonocócicas”.
Vida e arte
Longe do fictício Dorian Gray e muito próximo de Toulouse-Lautrec está o também pintor, Alberto da Veiga Guignard ou “Guignard: anjo mutilado”, segundo o jornalista Marcelo Bortoloti. Guignard não tinha o céu da boca. Às vezes, ao comer, o arroz saia pelo nariz. Tragédia que causou horror e compaixão em seus pais.
Arte e dor
E também compreensível aversão nas mulheres, pelas quais nutria paixões platônicas, logo, não correspondidas. Faleceu aos 66, afundado em dívidas e também no alcoolismo. Pois, como canta Chico Buarque: “É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar. Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho, que o vinho busca ocupar o lugar da dor”.
Dor e beleza
Enquanto o eternamente jovem e belo Dorian Gray transferia toda sua miséria humana para o retrato, Toulouse-Lautrec e Guignard, mesmo “mutilados”, esbanjavam alegria e bom humor, transformando suas tragédias em obras de arte repletas de beleza e realmente eternas.
Maria Cecília Mendes é outra bela que inspiraria Guignard. Foto: Edy Fernandes
Beleza e destino
E o universo conspirou a favor de Guignard. Nascido em 23 de fevereiro de 1896, ele ganharia o maior presente de sua vida, 48 anos e seis dias depois, dia 29 de fevereiro, do bissexto ano de 1944. Presente que começou a ser embalado um ano antes, no Rio de Janeiro, ao ser convidado por Juscelino Kubitschek, para criar uma escola de arte na jovem e provinciana BH.
Destino feliz
Instituto de Belas Artes! Ao criá-lo com o Decreto Municipal, de 29 de fevereiro de 1944, o prefeito de Belo Horizonte, JK, não poderia imaginar que, oitenta anos depois, o antigo Instituto, hoje Escola Guignard - UEMG, estaria consolidado como uma das mais importantes escolas de belas artes do País.
Feliz e promissor
No dia em que completou oito décadas, 29 de fevereiro, também deste bissexto 2024, o Palácio das Artes inaugurou, dentro do projeto “80 e Sempre”, que vai durar todo 2024, a exposição “A Paixão Segundo Guignard”, com curadoria de Paulo Schmidt, ex-aluno e pesquisador do personagem que ficou eternizado no nome da escola. A curadoria adjunta é de Cláudia Renault.
E fechando com outra inspiração para o Mestre Guignard, Yalle Meneguzi. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*A imperdível mostra traz 196 obras, incluindo 34 trabalhos do próprio Guignard.
De dois professores assistentes do artista, nos primeiros anos da escola, Edith Behring, Franz Weissmann.
E também, claro, de alunos de Guignard no curso de desenho e pintura, entre 1944 e 1961.
Fazem parte da exposição obras de nomes como Amílcar de Castro, Farnese de Andrade, Yara Tupinambá e Augusto Degois.
Entre outros alunos e mestres, como Maria Helena Andrés, Laetitia Renault e Jarbas Juarez.
Exposição até 12 de maio, na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard.
Vivas ao Governo de Minas, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado.
Palmas para a UEMG, a própria Escola Guignard, Cemig, Instituto Cultural Vale, Instituto Unimed-BH, ArcelorMittal e Vivo.
A Escola Guignard faz parte da história do Palácio das Artes.
Entre 1950 e 1994, as aulas eram ministradas nas obras abandonadas do Palácio e no Parque Municipal, principal sala de aula para Guignard e alunos.
A sede atual da escola foi inaugurada em 1994, no Mangabeiras, projetada pelo arquiteto Gustavo Penna.
Fala o presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis: “Esta é a primeira de três exposições que o Palácio das Artes realizará sobre os 80 anos da Guignard em 2024”.
“E estamos lançando o Selo ‘80 e Sempre’ como mais uma forma de reforçar os vínculos históricos e permanentes que unem o Palácio das Artes e a Escola Guignard”.