Sábado, 19 de julho de 2025
Fernanda Ribeiro, que merece uma ópera. Foto: Edy Fernandes
Poderosos Filmes
Para muitos cinéfilos, a melhor e mais famosa trilogia de filmes é “O Poderoso Chefão”, por muitos motivos, principalmente o elenco impecável. O primeiro filme tem Marlon Brando (Don Corleone), o segundo traz Robert de Niro, no mesmo personagem, quando jovem. Mas quem rouba a cena, e nos três clássicos, é Al Pacino (Michael Corleone), que tem seu auge no final de “O Poderoso Chefão 3”.
Poderoso Encerramento
“O Poderoso Chefão 3” termina com dose dupla da ópera “Cavalleria Rusticana”. Na mafiosa Sicília, Itália, o filho de Michael, Anthony, troca a vida de crimes da família pela ópera e é um dos cantores do espetáculo. No fim da montagem e da tragédia, a música sai da ópera, entra e encerra o filme com uma tragédia ainda maior, a morte da filha de Michael, Mary Corleone.
Poderosa Ópera
Como somos felizes em BH! “Cavalleria Rusticana”, com sua trama arrebatadora de paixão e vingança está chegando, na íntegra, ao Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais participam da montagem, que também conta com solistas convidados. A direção musical e regência são da maestra Ligia Amadio. A direção cênica, de Menelick de Carvalho.
Poderosa e Rústica
A ópera “Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni (1863-1945), em um ato, linda do começo ao fim, terá lugar dias 6 e 8 de agosto às 20h. Dias 9 e 10 de agosto, às 18h. Grande arte, com preços para lá de acessíveis. Sim, a vida imita a arte e vice-versa. É o caso, em particular, de "Cavalleria Rusticana", última montagem da temporada de óperas que a Fundação Clóvis Salgado, em 2025.
Giselle Said, que merece uma exposição. Foto: Edy Fernandes
Rústica e Verdadeira
"Cavalleria Rusticana" – "Cavalheirismo Rústico", “Honra Camponesa” –, que estreou em 1890, no Teatro Costanzi, Roma, é reverenciada por sua crua verdade. A música passional e a narração – que rejeita os temas históricos, míticos e grandiosos do Romantismo – exploram temas humanos como o amor, a paixão, a traição, o ciúme, a vingança e a honra lavada com sangue, no contexto rural siciliano.
Verdadeira e Inspirada
Em uma versão brasileira, o libreto de "Cavalleria Rusticana" poderia ter sido escrito pelo brasileiro Nelson Rodrigues (1912-1980), mestre nos mesmos temas; no entanto é assinado por Giovanni Targioni-Tozzetti (1863-1934) e Guido Menasci (1867-1925), inspirado no romance de Giovanni Verga (1840-1922).
Inspirada e Linda
Além da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e do Coral Lírico de Minas Gerais - CLMG, participam da montagem solistas como as sopranos Eiko Senda (Santuzza) e Sylvia Klein (Lola), a mezzosoprano Bárbara Brasil (Mamma Lucia), o tenor Matheus Pompeu (Turiddu) e o baixo-barítono Stephen Bronk (Alfio). O espetáculo tem direção-geral de Cláudia Malta.
Linda e Eterna
A trama se desenvolve em torno dos personagens Turiddu, um jovem que trai a namorada Santuzza com sua antiga noiva, Lola, agora casada com Alfio. A tragédia acontece no vilarejo de Vizzini, em uma manhã de Páscoa, tendo uma “igreja como teatro”. No triângulo amoroso, Turiddu, após uma campanha militar, volta ao povoado e se envolve com Lola.
Eterna e Mortal
Sim! Turiddu e Lola, mulher de Alfio, abandonando Santuzza que, ciumenta, inconsolável e desesperada, revela a Alfio a infidelidade de sua esposa, provocando um duelo entre os dois homens. No conflito, Turiddu morre e no fim, Lola é encontrada morta em um jardim próximo ao local do duelo. No destino, coração da cultura siciliana, a vingança, como pilar.
Natália Brasil, que merece luz, orquestra e coral. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*A obra se inscreve no movimento artístico do Verismo – de “vero”, verdade – italiano, que busca representar o cotidiano das classes populares.
A intriga é elogiada pela capacidade de criar enorme tensão dramática.
De volta à música, particularmente às árias de Turiddu e de Santuzza, ela é passional e cativante, contribuindo na atmosfera do drama.
A história se desenrola em um “quintal”, mas por tratar de temas como amor, ciúme e honra ferida, é universal e, por isso, sempre conquistou grandes públicos.
"Cavalleria Rusticana" costuma ser apresentada em dupla com "Pagliacci", de Ruggero Leoncavallo, outra ópera verista que usa o mesmo ambiente e os mesmos temas.
Alguns críticos consideram a história excessivamente dramática e rápida.
Com certeza não são íntimos do estilo italiano daquela época e esquecem que "Cavalleria Rusticana" é perfeita, porque contém a natureza da verdadeira ópera.
O público entende. No fim da estreia romana, Mascagni voltou ao palco 43 vezes para agradecer os aplausos efusivos durante quase duas horas. A ópera tem duração de 1h15m!
Porque, como escreveu o francês, Victor Hugo (1802 – 1885), a ópera não é o país do real. É a terra da verdade, onde corações batem nos bastidores, na plateia e no palco.
E até mesmo no peito dos desafinados, como cantaria Tom Jobim. Emoções à flor da pele garantidas!