Sábado, 19 de abril de 2025
Um dicionário é pouco para descrever Bya Santiago. Foto: Edy Fernandes
Flecha ou flexa?
Nosso amigo, André Luiz Dumont Flecha, que sempre viveu nas nuvens – como piloto de avião - é sempre uma conversa, bem-humorada e inteligente. Conhece cada história cabeluda de ilustres passageiros, que aqui não podemos contar, principalmente as que envolvem famosos políticos.
Fecha ou fêcha?
De André Flecha vem o tema de hoje, “Nossa (pobre) língua portuguesa” do qual tivemos umas pitadas nas mesas da Savassi. “Há muito tempo observo o processo da degradação da língua portuguesa, principalmente a língua falada por apresentadores, jornalistas, repórteres de rádio, TV, e alguns políticos”.
Fecha ou abre
“O processo foi acelerado durante e depois da pandemia devido, creio eu, à intensa renovação de quadros nessa área. Erros de gramática e modismos. Eles simplificam o uso, mas denotam fraca formação associada à parca leitura. Entretanto, a maioria é de erros de português”.
Abre ou esculacha
“A seguir palavras e expressões largamente empregadas por profissionais da comunicação e na linguagem falada: ‘A gente’: a expressão substituiu, em definitivo, os pronomes pessoais da primeira pessoa do singular e do plural, o ‘eu’ e o ‘nós’ Sua utilização facilitou a fala, pois seu uso não exige a conjugação do verbo no plural, no caso do pronome da primeira pessoa do plural”.
Esculacha ou abrange
“O que ouvimos hoje é a irritante repetição de ‘a gente’ isso, ‘a gente' aquilo e, raramente, ‘eu’ ou ‘nós’. Para ilustrar esta observação, tentem ouvir o ‘L’ em qualquer fala, discurso ou entrevistas de improviso. Tortura e mutila os ouvidos. Outro crime é ‘mais’: o advérbio é empregado no lugar da conjunção, "mas". Largamente utilizado pelo pessoal da televisão”.
Falta uma enciclopédia para definir Carol Lagamba. Foto: Edy Fernandes
Abrange ou abarca
“‘Por conta de’: substitui ‘em virtude de’, ‘em função de’, ‘por causa de’. É deveras usada pela imprensa paulista e, há muito, se espalhou pelo país”. Do nosso lado, lembramos palavras e verbos que, do limbo, voltaram dominando toda conversa, com ares eruditos que não têm, como o tal de “pontuar” que serve para terminar qualquer frase. E “narrativa”, em lugar de versão? E “viés”, no lugar de tendência, rumo, direção, lado?
Correr ou atrasar
André Flecha volta flechando o ‘vamos se cuidar’: utilizado no lugar do ‘vamos nos cuidar’. ‘Obrigado X obrigada’. Não se observa o uso correto de acordo com o sexo de quem fala. ‘Aí’: o advérbio é usado indiscriminadamente, sendo ‘salpicado’ na fala do profissional da comunicação sabe-se lá para quê”.
Atrasar ou prejudicar
“‘Dizesseis, dizessete, dizoito’: é falado no lugar do ‘dezesseis, dezessete, dezoito’, com tônica na primeira sílaba. A etimologia da palavra é dez-e-seis, por exemplo”. Para nós, poderia ser um ataque do tão cultuado “mineirês” que, para muitos é charme, mas na verdade é outra tortura, tão dolorosa quanto “nóis” e “a gente vamos” ou “agente vamu”.
Prejudicar ou assassinar
Continua o desolado André Flecha, agora, lançando: “‘píscólogo, advogado ou adevogado": escrevo aqui como é pronunciado largamente nos meios de comunicação. “’Interviu’: usado com muita convicção no lugar de ‘interveio’. ‘Meu óculos’: no lugar de ‘meus óculos’”.
Um Google só para decifrar Elaine Machado. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*André finaliza: “‘Esta, essa, este, esse, isto, isso...’: o uso do pronome demonstrativo de forma errada já deixou de ser preocupação há muito tempo. Ninguém acerta! Quando acerta, foi sorte.
“‘Agenda’: ninguém tem compromissos, reuniões, solenidades etc. Só ‘agendas’”.
“‘Colocar’: os profissionais da imprensa com a intenção de sofisticar a fala, passaram a utilizar o verbo ‘colocar’ em lugar dos verbos ‘por’ e ‘botar’”.
“Atualmente, as galinhas colocam ovos, os mosquitos da dengue também”.
“Os incendiários colocam fogo e não ateiam fogo. Se esquecem que as galinhas são poedeiras e que o time de futebol Botafogo tem esse nome por causa do pau que ateava fogo à pólvora do canhão”.
“‘Mandado’ x ‘mandato’: ouvimos, a toda hora, o juiz expedindo um ‘mandato’ de segurança no lugar de um ‘mandado’”.
Por hoje é, só, tem mais, mas acabou.