Coluna Dolce Vita

A primeira bela moradora da casa chamada Vida, Carina Tayama. Foto: Edy Fernandes

Teatro de Drácula

Na bela e triste canção, “O Teatro dos Vampiros”, 1991, da banda “Legião Urbana”, lemos versos ainda mais tristes porque continuam atuais: “Ninguém vê onde chegamos, os assassinos (e ladrões) estão livres, nós não estamos. Vamos sair, mas não temos mais dinheiro, os meus amigos todos estão procurando emprego. Voltamos a viver como há dez anos atrás e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas”.

Teatro da Vida

Agora, um verso de Fernando Pessoa, para adentrarmos o tema de hoje: “O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela”. Ter amigos jovens, sem dinheiro e emprego, sem estabilidade, perspectivas, segurança, futuro, é realmente triste. Ter, ver e acompanhar amigos envelhecendo, adoecendo, desistindo, desanimando e morrendo também.

A linda vizinha de Vida, Izabelle Vieira. Foto: Edy Fernandes

Teatro Novo

Mas, “bola para cima”! Daí, a crônica “A Nova Casa”, atribuída ao grande Carlos Eduardo Novaes, 84, que sempre escreveu com muito bom humor: “Meu amigo Luiz está se mudando. Mês que vem deixa a casa dos 70 e se muda para a casa dos 80. Luiz pretende viver uns bons anos na nova casa, mais próxima do fim da rua”.

Teatro Mutante

“Ele sabe que estou morando lá há mais de dois anos e perguntou-me se gostei. Ora, não se tratou de gostar ou não. Terminou meu tempo na casa dos 70 depois de 10 anos, e saí feliz porque podia ter sido despejado antes do final do contrato. Assim como a casa dos 20 lembra uma universidade, a casa dos 60, um posto do INSS, a casa dos 80 lembra uma clínica geriátrica”. 

Teatro de Arena

“Lembrava! Quando entrei, a primeira surpresa foi vê-la cheia de ‘cabeças brancas’. Na época da minha avó alcançar a casa dos 80 era uma façanha olímpica, para poucos. A segunda e maior surpresa foi ver a ‘rapaziada’, pulando, malhando, correndo, namorando, como se não houvesse amanhã. De uns anos para cá a casa dos 80 foi aumentada com vários puxadinhos, para abrigar tanta gente”. 

Teatro Privilegiado

“Vejo que reformam a casa vizinha que estava caindo aos pedaços, a casa dos 90. Disse ao meu amigo que a casa dos 80 tem um estilo anos 40, pé direito alto, esquadrias em arco, piso de tacos de madeira, cadeiras de palha e imponente cristaleira. Claro que precisa de cuidados e manutenção constante, muito mais do que a casa dos 30, para evitar rachaduras e infiltrações. Em compensação, amigos, tem a mais bela vista do Passado”.

Lança Perfume

*Novaes continua: Aproveite bem a casa que habita, hoje.

E com regras para ser um idoso feliz: Não se meta na vida dos filhos.

Não interfira na educação dos netos. Ame ou pelo menos tolere seu genro e nora, foi seu filho (a) quem escolheu.

Nunca tome partido ou opine no casamento deles. Não fique um idoso reclamão. Não tenha pena de si mesmo.

Não fique falando “no meu tempo”, ele já passou. Tenha planos pro futuro. Não fique falando de doenças. Tenha a certeza, ninguém quer saber.

Tenha um plano de saúde ou guarde dinheiro para despesas médicas. Guarde dinheiro pro funeral. Não deixe "problemas" para os filhos.

Esqueça a política, afinal você não resolverá nada mesmo. Só veja TV para se divertir. Se gostar, tenha um bichinho de estimação pra te ocupar.

Ao se levantar, invente moda: caminhe, cozinhe, costure, mas não fique parado esperando a morte.

Seja um idoso limpinho e cheiroso. Tenha alegria por ser ficado idoso, muitos já ficaram pelo caminho.

Tenha uma casa e um modo de vida onde todos queiram ir e não evitar.

Use a idade como uma ponte para o futuro e, jamais, uma escada para o passado. Na ponte sempre terá companhia.

É melhor ir deixando saudades do que deixando alívio. Divirta-se. Sorria e faça sorrir. Um sorriso melhora o dia de qualquer um.

Não deixe "aquele bom vinho" (idosos não devem beber vinho ruim) e nem a cerveja gelada para amanhã, pode ser tarde!

Bom sábado! Boa Vida!