Sábado, 13 de julho de 2024


Matheus Pompeu é Feliciano Mendes, na nova ópera da Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes, “Devoção”, com pré-estreia, hoje, em Congonhas. Foto: Marcia Charnizon

Fé cega

Bruxas e coincidências não existem, mas aparecem e acontecem. Pouco antes de começar esta coluna, recebemos, de uma amiga, na Suécia, a citação de “João 14: versículos 13 e 14”, ensinando: “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”. A coluna de hoje é sobre profecia e devoção, fé, promessa e milagre. Uma fábula em forma de ópera.

Fé amolada

E se fosse verdade a lenda que começou com a morte de Jesus, continuou em Matosinhos, Portugal e chegou a Congonhas, no realismo mágico de Minas Gerais... E se tudo fosse verdade... Porque é tudo tão bonito, quando a gente acredita que é verdade. 

Amolada e afiada

Agora, imaginem assistir às óperas mais clássicas e populares como “Aida”, de Verdi, no Egito, onde se desenrola a trama! Mesmo entre ruínas, seria fantástico. “Don Giovanni”, de Mozart ou o “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, em seus cenários originais, as ruas da moderna Sevilha, Espanha, uma maravilha!

Afiada e profética

Em 2022, a Fundação Clóvis Salgado – FCS realizou a ópera, “Aleijadinho”, na Igreja São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Em 2023, foi “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, conto de Guimarães Rosa, transformar-se na ópera “Matraga”. Promessa é dívida, não é dúvida. É devoção! A saga da devoção ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, renderia um filme histórico.


Ainda na ópera, “Devoção”, a portuguesa, Carla Caramujo, é Mercês, esposa do personagem principal, Feliciano Mendes. Foto: Marcia Charnizon

Profética e devota

Um filme de aventura e drama. Ou uma longa série. Mas inspirou uma ópera! “Devoção” tem pré-estreia aberta, hoje, no Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, cenário original da história, abrindo a temporada de óperas do Palácio das Artes em 2024. Mais uma produção inédita.

Devota e milagrosa

A lenda, que começou em Portugal, no ano 124 D.C, continuou na história real e no século 18. Feliciano Mendes partiu da mesma pobre região no norte de Portugal, onde nasceu a devoção ao Bom Jesus, para tentar a sorte na corrida do ouro em Congonhas, Minas Gerais.

Milagrosa e santa

Feliciano trabalhou muito, achou muito ouro e ficou muito rico. Devido à mineração, também caiu muito doente. “Andando com fé porque a fé não costuma falhar”, para se curar, faz uma promessa: construir uma capela dedicada ao Bom Jesus, o atual santuário, declarado Patrimônio da Humanidade, pela UNESCO, em 1985.

Santa recheada

Depois dos milagres em Portugal, o primeiro, em Congonhas! Feliciano curou-se, mas para cumprir sua promessa, gastou toda sua fortuna, tornou-se um ermitão e até pediu esmolas. Não chegou a ver a construção do santuário, nem os Profetas de Aleijadinho. Morreu antes, mas assim nasceu e continua a devoção. Papai Noel não existe, mas quando se tem devoção, todo dia é Natal.

Recheada e brilhante

Quem perder a pré-estreia, em Congonhas, se correr, poderá conferir este espetacular espetáculo, completo, no Palácio das Artes, dias 19, 20, 22 e 23, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. A ópera, em dois atos, foi encomendada ao compositor João Guilherme Ripper. André Cardoso assina o libreto. Direção musical e regência, da maestra Ligia Amadio, nossa próxima entrevistada). Concepção e direção cênica, de Ronaldo Zero. Direção Geral, de Cláudia Malta.


O elenco principal e o diretor de cena da ópera “Devoção”, dias 19, 20, 22 e 23, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes: a mezzo soprano, Barbara Brasil (Beata); o tenor, Matheus Pompeu (Feliciano Mendes, o português, devoto do Bom Jesus); Ronaldo Zero, na concepção e direção cênica; o baixo, Savio Sperandio (Padre Antônio Rodrigues de Sousa); a soprano, Carla Caramujo (Mercês) e o barítono, Johnny França (Tropeiro e Mascate). Foto: Marcia Charnizon

Lança perfume

*“Devoção” é parte do extenso “Projeto Profecia”, idealizado pelo secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais – Secult/MG, Leônidas Oliveira, que norteará a programação da FCS, até o fim de 2024.

Na ópera, os corpos artísticos da FCS, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, o Coral Lírico de Minas Gerais e a Cia. de Dança Palácio das Artes.

Curiosidades deliciosas. O Brasil conquistou uma única Palma de Ouro, de Melhor Filme, no Festival de Cannes, França, com “O Pagador de Promessas” (1962), de Anselmo Duarte.

O enredo de “O Pagador de Promessas” é tão simples quanto perfeito, com excelentes roteiro, direção e atuações.

Nos anos de 1960, Zé do Burro, um homem humilde, enfrenta a intransigência da Igreja ao tentar cumprir a promessa feita em um terreiro de Candomblé.

Carregar uma pesada cruz de madeira por um longo percurso. Pronto. Uma história de humanidade, fé, promessa, milagre e devoção.

Ora, a ópera “Devoção”, com os principais ingredientes de “O Pagador de Promessas” tem: humanidade, fé, promessa, milagre e enorme devoção, em feitio de Profecia.