Sábado, 11 de outubro de 2025
Um brinde saudável à Larissa Viotti. Foto: Edy Fernandes
Brazil com Z
Neste Brasil com metanol, onde o que funciona acontece da forma mais errada possível, até “beber para esquecer” virou coisa perigosa. Com exagero, quando não mata, aleija. Por enquanto, o grupo de risco é o de apreciadores de uísque, vodca e gin. Mas, Brasil é Brasil. Daqui a pouco vão adulterar até picanha, transformando-a em abóbora selvagem. Assim, enquanto podemos, abordemos a bebida dos deuses, o Santo Vinho que não escapa de pecadores.
Z de Zero
Lemos as dicas do especialista Xavier Thuizat, eleito Melhor Sommelier da França em 2022, na coluna “Al Vino”, da revista Veja, assinada por Marianne Piemonte. O sommelier Thuizat, responsável pela seleção de vinhos da Air France e do Hôtel de Crillon, em Paris, lista os maiores “pecados” de quem bebe vinho. Para ele, o vinho deve ser antes de tudo fonte de prazer e emoção, e não de ostentação.
Mil zeros
O primeiro erro é escolher a garrafa apenas pelo preço ou pelo rótulo famoso, ignorando “os mil sentidos”. Outro é servir vinhos em taças inadequadas, que comprometem aromas e sabores, ou deixá-los em temperatura errada - o branco excessivamente gelado e o tinto quente demais. Xavier alerta ainda para o hábito de encher demais as taças, dificulta a oxigenação e a apreciação adequada.
Zeros a esquerda
Outros “crimes”: armazenar vinhos de forma incorreta, expostos à luz ou em posição vertical por muito tempo, e acreditar que todo vinho melhora com a guarda - a maioria deve ser consumida jovem. Também critica o excesso de “frescura e esnobismo” na hora de abrir, provar ou harmonizar, defendendo um consumo mais espontâneo. Para ele, o maior pecado é transformar o vinho em objeto de status, em vez de um instrumento de convivência.
Um brinde agradável à Lud Falcão. Foto: Edy Fernandes
Zeros a torto
Ao final, reforça que o essencial é beber com curiosidade, moderação e mente aberta, valorizando vinhos de diferentes origens, incluindo os brasileiros, que surpreendem em qualidade. Sua filosofia resume-se a um princípio: o vinho é feito para compartilhar e emocionar, não para impressionar. A seguir, detalhes e outros “maiores pecados” dos órfãos de Baco.
Zeros a direito
Vinho tinto com queijo. A combinação clássica é ilusória: o queijo (o leite) e os taninos do vinho competem no paladar, causando um gosto metálico desagradável. Servir à temperatura errada. Um tinto quente demais destaca o álcool e “mata” os aromas e delicadezas do vinho; um branco gelado em excesso apaga sabores delicados. Para tintos, o ideal é cerca de 14º a 15°C.
Zeros carnudos
Malbec com sushi. Uma combinação desastrosa: o tanino do Malbec “mata” a delicadeza do peixe e o iodo do peixe (água salgada) gera um retrogosto metálico. Thuizat sugere, se quiser tinto, usar um peixe mais “carnudo” (atum cru com um toque de shoyu) e servir o tinto um pouco mais resfriado.
Um brinde adorável à Márcia Manata. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*A tirania dos rituais. Exigir “mil regras” pode tornar o vinho intimidador e impedir o simples prazer de beber.
Ele defende mais curiosidade do que rigidez - entender estilos, ocasiões, experimentar -, em vez de reverenciar rituais como dogmas.
Vinhos muito alcoólicos e/ou pesados. Thuizat indica que vinhos com teor alcoólico elevado tendem a ser menos convidativos e difíceis de beber.
A preferência de Thuizat: vinhos mais leves, frescos, entre 11% e 12 % de álcool.
Ele também critica a ideia de que o vinho só “vale” se envelhecido em madeira ou encorpado demais. Supor que preço alto é sinônimo de qualidade.
Assumir que só vinhos caros são bons limita as descobertas - há muitos vinhos excelentes e com “alma local” por preços acessíveis.
Thuizat afirma que ele próprio tem mais de 200 vinhos favoritos que custam menos de 10 euros.
Deixar o “enochato” tomar conta. “Enochato” é quem impõe regras rígidas, julga expressões do gosto e transforma a apreciação em lei.
Thuizat recomenda combater isso: variar estilos conforme clima, momento e companhia; ser flexível nas escolhas.
Timtim e “Santé”!