Feriado com letras

A(s) nada mole vida de colunistas sociais
Foto: Simone Strickler

Feriado com letras
Feriadão bom é também o feriado de leitura, releituras, anotações. Anotações e citações de frases geniais, como as que pescamos no livro de  Joaquim Ferreira dos Santos, "Enquanto houver Champagne, há esperança", biografia do colunista social Zézimo Barrozo do Amaral (1941 - 1997).

Feriado com Champagne
Zózimo, no Rio de Janeiro do anos 80:  "Quem pensa em dinheiro, não ganha dinheiro. Hoje quase não há família, só pessoas jurídicas. Novo-rico me incomoda muito, mas novíssimo riquíssimo incomoda muito mais. O Nordeste bota turista pelo ladrão. O Rio bota ladrão para turista. O problema de Brasília é o tráfico de influência. O do Rio é a influência do tráfico. Depois de uma certa idade, o homem da cintura para cima é poesia, da cintura para baixo, prosa".

Champagne com humor
Já em 1981,  cansado, em entrevista à Playboy, Zozimo desabafou sua opção cool:  "As pessoas são sempre as mesmas, a comida é a mesma, os garçons (...) A vida social está em baixa, as pessoas recebendo menos por causa do medo de ostentar  e da grana curta. Já se começava a ver champagne nacional, vinho nacional...". Os salões estavam mudando, o mundo já não era o mesmo. Fim dos anos dourados.

Humor triste
À página 231, Zózimo define o esnobismo: "É chegar em casa à noite, olhar em cima da mesa três ou quatro convites para eventos sociais de expressão. Depois, vestir uma roupa qualquer, uma capa velha e ir ao cineminha da esquina. Agora, o cúmulo da infelicidade é chegar em casa, não ver nenhum convite sobre a mesa, vestir uma roupa qualquer, uma capa velha e ir ao cineminha da esquina".

Triste vita
Joaquim demole o mito da "Dolce Vita"  do colunista mostrando um homem de redação obcecado   pela informação/fontes; cansado de guerra e de pedidos de notinhas daqui e acolá. Mostra que, por trás das aparências, existe ralação, comprometimento com o leitor. Também desmascara folclores, como o de colunistas sociais viverem de eventos "boca livre", viagens, presentes, carros à disposição, restaurantes, etc.

Triste paisagem
"Esquece" de citar a grana curta com a qual a maioria dos jornalistas ainda sobrevive e morre. O alcoolismo decorrente. Fala da chatice das assessorias de imprensa, assediando diariamente; os LPM (Loucos por Midia ). Daí, pra ele e outros, inclusive este, em determinado momento da profissão, a valorização do "cool", do recolhimento, da vida em família e amigos.

Inútil paisagem 
E de tanto citar Zózimo Barrozo do Amaral e pensar no fim dos anos dourados no Rio de Janeiro, sobrou a mesma reflexão para Belo Horizonte e sua decadência sem a glória romana. Aqui, o glamour morava nos salões do Automovel Clube e no Iate Clube. Espaços orquestrados pelo colunista Eduardo Couri. Eduardo Couri (1935 - 1996) que, como seu contemporâneo Zózimo, era colunista social e morreu na mesma Miami, um ano antes.

Inútil horizonte
Nos templos de Eduardo Couri,  expoentes da "alta" exibiam seus "dotes" artísticos no palco. Eram os emergentes, com origens interioranas, rurais. Daí o "desastre" dos dublês de empresários, verdadeiros bobos da corte; o famigerado "Showçaite".  Interiorano também era seu "Glamour-Girl", versão urbana dos baile de debutantes do interior. Para "bajular" o colunista e o júri, os pais das "lolitas" e os emergentes abriam suas casas para festejos. O atalho eram as "promoters".

Lança Perfume

* O Black-tie era traje comum e as estilistas de festas, faziam literalmente, a festa.  Mas os mega casamentos e festas de debutantes começaram a murchar.

Com isso, faliram prestadores de serviços tradicionais; buffets e decoradoras, sinônimos de ostentação, apagaram as luzes. Idem chefs e  restaurantes. Outros valores, emergentes, dinheiro novo.

A narrativa social mudou com Zózimo. Aqui também. Automóvel Clube/Iate  ficaram pequenos e vieram outros salões devidamente envelopados.

Personagens também se cansaram. Difícil subsituí-los nos poucos eventos sociais que restaram. As festas ficaram menores ou foram para Trancoso, Angra, exterior.

* Hoje, grandes festas, os grandes desfiles, minguaram. Festas raras trazem o cheiro de naftalina.

Restaurantes não são mais sinônimos de "ver e ser visto". Os grupos mudaram dos endereços tradicionais e lutam para sobreviver.

A onda "cool", do vinho em casa, reúne pequenos grupos. São oásis. Idem confraternizações em praias/balneários. Foram-se Búzios e  Cabo Frio.

Angra e Escarpas são para curtas temporadas. O novo destino, para quem pode, é Miami, Portugal, onde muitos têm casa.