Dolce Vita | sábado, 8 de abril de 2023
Falando bem, fica ainda mais bela, Cris Vallias. Foto: Edy Fernandes
A era do vazio
Salvo engano ou amnésia, já comentamos aqui, um texto de 2020, que até hoje circula pelas redes sociais e antissociais: “O QI médio da população mundial diminuiu nos últimos 20 anos”, do cronista e professor francês, Christophe Clavé. Voltamos ao tema porque, principalmente no Brasil, este fenômeno mostra-se cada vez mais periclitante.
A era do médio
“O QI médio da população mundial, que sempre aumentou desde o pós-guerra até o final dos anos 90, diminui. É a inversão do efeito Flynn”: cada geração atinge uma pontuação mais alta em testes de QI do que a geração anterior. E se o nível de inteligência diminui nos países mais desenvolvidos; imaginem aqui!
A era do mínimo
Existem muitas causas para explicar esta tragédia. “Um delas é o empobrecimento da linguagem. Na verdade, vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem. Não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as sutilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos”.
A era do simples
Nosso primeiro comentário é muito simples. Quem não lê, não sabe escrever e se expressa de uma forma quase alienígena ou Neandertal. No Brasil, o livro parece um enorme pedaço de chumbo em chamas. “O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente: incapaz de projeções no tempo”.
A era do simplório
É gente que fala “menas”, “pra mim buscar”, “eu vou estar vendo este problema” ou “pobrema”. “A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são “golpes mortais” na precisão e variedade de expressão”. Basta reparar nas absurdas abreviações pelo WhatsApp, que muitos adeptos chamam de “Zap”.
Se expressando como manda o figurino, fica ainda mais elegante, Marcela Trópia. Foto: Edy Fernandes
A era da pobreza
“Um exemplo: eliminar a palavra “senhorita” (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias. Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento”.
A era da miséria
Voltamos a um tipo de “Me Tarzan, You Jane”. Isso, sem falar na quantidade enorme de expressões e palavras em inglês, principalmente no meio financeiro e “tech”. São os novos e nada românticos hieróglifos. “Estudos mostram que parte da violência decorre da incapacidade de descrever as emoções em palavras”.
A era dos ruminantes
Outra constatação óbvia, qualquer problema entre casais, amigos e familiares é falta ou falha de comunicação. Países entram em guerras pelo mesmo motivo, sendo que o verdadeiro sempre é dinheiro. “Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível. Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece”.
No subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado. fica mais que perfeita, Patrícia Coutinho. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
*“A história está cheia de exemplos e muitos livros (Georges Orwell - “1984”; Ray Bradbury - “Fahrenheit 451”)”.
Livros onde regimes totalitários atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras. No Brasil, temos o “todes” e outros “absurdes”.
“Se não houver pensamento, não há pensamento crítico. E não há pensamento sem palavras”.
“Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional? Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro?”.
“Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro e sua duração relativa, sem uma linguagem?”.
“Linguagem distingue o que poderia ter sido; o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido”.
“Pais e professores: Façamos com que nossos filhos, nossos alunos falem, leiam e escrevam”.
“Ensinar e praticar o idioma em suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado”. Isso, se pais e professores forem capazes, claro.
“Principalmente se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade”.
“Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia e descartar a linguagem de seus ‘defeitos e mais’”.
“Abolir gêneros, tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitetos do empobrecimento da mente humana”.
“Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza”.
“Tá ligado, véio?”.