Dolce Vita | sábado, 4 de março de 2023

Elas não precisam de visto para a Felicidade, Daniela Leal e Liliane Andrade. Foto: arquivo pessoal
Início de festa
Durante “milênios”, provavelmente pelo clima “laranja”, consumismo e modismo, a Flórida, em especial Miami e Orlando, foi e ainda é um cobiçado destino pelos brasileiros ricos ou corajosos, aqueles que largam tudo ou nada aqui, para conseguir alguma coisa lá. Pena que poucos, inclusive os ricos, trazem ou trouxeram para o Brasil os inúmeros bons exemplos do estado mais latino, da grande nação que são os Estados Unidos.
Meio de festa
Há cerca de 20 anos, mais ou menos, outros brasileiros ricos descobriram mais um paraíso – com um idioma “parecido” - desta feita às portas da Europa: Portugal, em especial Lisboa e outras lindas cidades. Os pobres, mas sempre corajosos, há muito tentam “descobrir” Portugal, numa doce vingança de ex-colonizados. Alguns se deram bem, como profissionais liberais. Outros fizeram um pé de meia furada e voltaram para o Brasil melhores que saíram.
Auge da festa
A verdade é que, desde sempre, Brasil e Portugal mantêm uma complicada relação de amor e ódio. Ódio não, estranheza. Parece que os papéis ainda não estão bem definidos. O Brasil é uma potência mundial que ainda expulsa seus filhos para o primeiro e velho mundo onde são tratados como cidadãos. Ou mão de obra. E Portugal está longe de ser um paraíso. Para os ricos, como sempre, problema nenhum. São bem-vindos até em Marte.
Fim de festa
Nesta secular História temos novidades. O outrora simples “visto dourado” está com os dias contados. A permissão de residência é, até o mês que vem, oferecida a quem investe pelo menos um milhão de euros na economia portuguesa ou compra um imóvel acima de 500 mil euros. Sistema que vigora desde 2012.
Saideira de festa
Naquela época Portugal saía da crise, o cofre estava vazio e o governo queria enchê-lo. Um sucesso de público e crítica. 12 mil vistos especiais foram concedidos, sendo metade a investidores chineses, mas também muitos brasileiros e norte-americanos. Isso sem falar nos aposentados franceses, ingleses e alemães que dobram o poder de compra, num país próximo e com um clima bem mais agradável, durante todo o ano.
Saudade da festa
O sistema era atraente para milionários do mundo inteiro. Você tinha um porto alegre e seguro em Portugal, não precisava morar lá o ano inteiro e, com este visto, podia viajar livremente pela Europa da Zona Schengen. Resumindo, este visto de ouro atingia seus objetivos e enchiam o caixa de Portugal: em dez anos, quase sete bilhões de euros.
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Rebeca Barreto não precisa de passaporte para brilhar. Foto: Edy Fernandes
Curtas & Finas
*Acontece que não existe almoço de graça, nem bem que sempre dure.
O governo português vai acabar com esta mamata porque o efeito colateral desta corrida do ouro provocou uma colossal especulação.
A exemplo de outras capitais europeias, como Paris, houve uma explosão no preço dos imóveis: mais de 75% nos mesmos 10 anos.
Em pesquisas, nove entre dez portugueses reclamam da crise imobiliária.
Impossível viver nas grandes cidades como Lisboa, Porto e zonas turísticas. Feitiço contra o feiticeiro?
É preciso morar cada vez mais longe do centro, nos subúrbios que são quase outra cidade.
Então, para frear a especulação, o governo português acaba de anunciar esta “surpresinha”. A farra vai acabar em um mês.
Quem já tem o visto dourado pode continuar com ele, desde que se instale definitivamente em Portugal ou alugue a casa ou apartamento no mercado local.
Portugal não é o único país a abandonar este tipo de visto. A Irlanda já tomou uma decisão idêntica.
Na linda Irlanda este “salva vida” foi aplicado em 2012 para estimular a economia depois da tempestade. E lá também, o governo voltou atrás.
Quem pensava nesta estratégia pode tirar o cavalinho da chuva. Na Irlanda o guichê já foi fechado.
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Victória Carvalho é o próprio visto dourado para Pasárgada. Foto: Edy Fernandes
Uma das condições era ter uma fortuna pessoal de pelo menos dois milhões de euros.
Com uma diferença. Na Irlanda o fim da festa não é por causa da especulação imobiliária, mas da sonegação fiscal e da lavagem de dinheiro.
O governo irlandês reconhece que não pode, não consegue controlar a origem do dinheiro.
Razão pela qual, Bruxelas, a “capital da Europa”, na Bélgica, abriu, escancarou os olhos.
A União Europeia convoca todos seus reluzentes membros a cortar estes vistos “fura filas” ou “passaporte amigo, de conveniência”.
Sob pressão, Chipre e Bulgária, sempre “garotos problema”, também cortaram a boquinha.
Por enquanto e “para variar”, resta um país, também sempre rebelde, Malta, que continua resistindo a sair do trem da alegria.