Dolce Vita | sábado, 27 de agosto de 2022
Em Portugal ou na França, a beleza internacional de Isabella e Bruna França. Foto: Edy Fernandes
Fado verbal
Esta semana, alguém desenterrou um texto de 2016, de Ruth Manus que, em suas próprias palavras, é advogada e professora universitária. Lê Drummond, ouve pagode, ama chuchu com bacon, salas de embarque e sofre de incontinência verbal. O texto, muito “meigo”, ensina “coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal”.
Fado ululante
Um exemplo: “sinto que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis, embora muitos nem percebam”. Meio óbvio, certo? Querendo, abrindo olhos, coração e mente, aprendemos muito sobre qualquer país. O texto lembrou-nos outra declaração de amor por Portugal, a seguir.
Fado de Samba
Talento não escolhe caráter. Em 1973, para sua peça “Calabar" – O Elogio da Traição”, Chico Buarque e o cineasta moçambicano, Ruy Guerra, escreveram belas canções. “Fado Tropical” deseja que o Brasil seja um enorme Portugal. Portugal que, um ano depois, promoveria a “Revolução dos Cravos”, “movimento que derrubou o regime salazarista, restabelecendo a democracia”.
Fado fatal
Está na letra de “Fado Tropical” uma explicação pessoal e histórica: Ai, esta terra ainda vai cumprir o seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal. Sabes; no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos do sangue lusitano uma boa dose de lirismo, além da sífilis, é claro”. Por causa da censura, até hoje, “sífilis” está cortada da letra.
Fado sentimental
O lirismo português continua: “Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e sinceramente chora. Meu coração tem um sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto. De tal maneira que, depois de feito, desencontrado, eu mesmo me contesto”.
Fado pesado
“Quando me encontro no calor da luta e a sentença se anuncia bruta, mais que depressa a mão cega executa, pois que senão o coração perdoa”. Seria este “lirismo bonzinho” o culpado pela “fraqueza e sina” de Portugal, Espanha e, consequentemente, de suas ex-colônias nas Américas e África, como Brasil e Moçambique?
Em Portugal ou na Jordânia, a beleza cosmopolita de Livia Araújo e Luisa Jordá. Foto: Edy Fernandes
Fado fadado
Mesmo depois de dominarem os sete mares, durante séculos, Portugal e Espanha conheceram uma decadência com reflexos até hoje. Não fossem dois lindos países, com enorme potencial turístico, como a Grécia, estariam longe das nações mais ricas e fortes da Europa, como França, Reino Unido, Itália e Alemanha.
Fado X Rock
Principalmente a Inglaterra que, “escravizando” até mesmo suas mulheres e crianças, promoveu a Revolução Industrial, conquistando ¼ do mundo e gerando a expressão “o império onde o sol nunca se põe”. A “frieza anglo-saxônica” também seria responsável pela força dos Estados Unidos e outras ex-colônias.
Fado podre
Nesta linha, outra pérola da MPB, “Podres Poderes”, de Caetano Veloso, aponta o dedo para o continente cordial, onde Deus e o papa teriam nascido: “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos?”.
Em Portugal, aqui e agora, a beleza nacional tipo exportação, de Nathália Miranda e Juliana Gontijo. Foto: Edy Fernandes
Lança Perfume
Agora podemos retomar o texto de Ruth Manus: “Não estou dizendo que Portugal seja perfeito. Nenhum lugar é”.
“Acredito que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria inspirar-se”.
“O mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses. Os franceses aprenderiam que aqueles pratos com porções minúsculas não alegram ninguém”.
Que besteira! A França tem de tudo e com fartura. Como o “cassalouet”, uma feijoada branca.
“Bacalhau e pastel de nata? Não. Estamos falando de muito mais. Arroz de pato, arroz de polvo...”
“Mais do que isso, o mundo deveria aprender a se relacionar com a terra como os portugueses se relacionam”.
Outra tolice! Cada país faz e vive como pode. Não é uma escolha.
“O mundo deveria saber ligar a terra à família e à história como os portugueses”.
Bom, a história também é algo a discutir e já começamos, no início desta coluna.
“E se alguns dizem que Portugal vive do passado, eu tenho certeza de que é isso o que os faz ter raízes tão fundas e fortes”.
Que país não tem? Apenas os mais jovens!
“O mundo deveria ter o balanço entre a rigidez e o afeto que têm os portugueses”.
“O mundo deveria aprender a ter modéstia como os portugueses (...) a arrogância que impera em tantos países europeus, passa bem longe dos portugueses”.
Modéstia ou complexo? Arrogância ou orgulho? Vocês decidem porque Ruth continua achando “que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal”.