Dolce Vita | sábado, 26 de agosto de 2023

Direto de Curaçao, para o simpósio "Conversa de Cozinha", do 1° Festival Internacional de Cozinha Contemporânea – CaipiBlue, Vanessa Toré, do Ministério de Desenvolvimento Econômico de Curaçao. Foto: Curaçao Tourism Board/Divulgação

Conversa Azul

Com curadoria de Roger Vieira, o simpósio "Conversa de Cozinha", do 1° Festival Internacional de Cozinha Contemporânea - CaipiBlue, nos dias 1º e 2 de setembro, fechou sua programação. Na alameda central da praça da Liberdade - debatendo patrimonialização da cozinha mineira, origens, promoção e fomento, entre outros nomes - os professores Maria Coeli Simões Pires e José Newton Coelho Meneses, autores dos estudos que embasaram os processos de registro do Modo artesanal de fazer o Queijo Minas Artesanal (QMA).

Conversa Internacional

E mais. Marina Palhares, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico - Iepha-MG, Márcia Valéria Cota Machado, gerente do Sebrae Minas e Rummenigge Zanola, presidente da Abrasel Campo das Vertentes. Uma comitiva de Curaçao, com 24 integrantes, entre autoridades e imprensa, chega amanhã encabeçada por Vanessa Toré, do Ministério de Desenvolvimento Econômico, e Hugo Clarinda, diretor de Turismo, participantes do simpósio no dia 2.

Niels Venis, cônsul da Holanda no Rio; Hugo Clarinda, diretor de Turismo do Ministério de Desenvolvimento Econômico de Curaçao; Ruisandro Cijntje, ministro da Economia de Curaçao; Vanessa Toré e Janaína Araújo, do Curaçao Tourism Board. Com exceção de Cijntje, todos também em BH. Foto: Curaçao Tourism Board/Divulgação

Sei de nada

Hoje, um texto melancólico, mas que pode surtir efeito contrário, se refletirmos e agirmos. Eu sei, mas não devia, de Marina Colasanti, publicado no Jornal do Brasil, em 1972, cada vez mais atual. Marina nos lembra como deixamos nossas vidas se esvaziarem numa rotina repetitiva e estéril que não nos permite admirar a beleza à nossa volta.

Sei tudo

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas, não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, assim, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas."

Sei que sei

"E, porque não abre as cortinas, acendemos mais cedo a luz. E, a medida que se acostuma, esquece o sol, o ar, a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. E correr para o celular."

Sei que nada sei

"A comer sanduíche em vez de almoçar. A sair do trabalho quando já é noite. A cochilar no ônibus, cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos."

Sei e aceito

"E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceitando ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto."

Sei e acostumo

"A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez vai pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra."

Sei engolir

"A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos."

Sei morrer

"A gente se acostuma a poluição. As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. A luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. As bactérias da água potável. A contaminação da água do mar. A lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta."

Lança Perfume

*Continua Marina Colasanti: "a gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acola.

Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.

Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho esta duro, a gente se consola pensando no fim de semana.

E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito."