Dolce Vita | sábado, 22 de outubro de 2022
Esbanjando saúde física e mental, Débora Purri. Foto: Edy Fernandes
Dormindo com o cisne
Um sucesso atual e “bem mais ou menos” da Netflix, o filme “Ascensão do Cisne Negro”, começa ensinando: “Menos de 1% da população é psicopata. Psicopatas geralmente herdam essa característica e são incapazes de amar. Eles administram suas relações com precisão clínica, com sucesso em todas as áreas da vida. Psicopatas que aprendem a amar são ainda mais raros, tão raros quanto um cisne negro”.
Dormindo com o inimigo
Na coluna de 21 de Fevereiro de 2021, falamos sobre os psicopatas, disfarçados ou nem tanto, entre nós. Provavelmente você já cruzou com um ou uma e felizmente sobreviveu. Nem todos têm esta sorte. Desde então, com ou sem pandemia, o número de psicopatas só faz aumentar. Esta figura nociva, muitas vezes criminosa, domina a arte da manipulação e é especialista em, no mínimo, tumultuar a vida dos próximos.
Inimigo íntimo
Falamos também do livro de Thomas Erikson, especialista em comunicação, “Cercado de psicopatas: Como evitar ser explorado pelos outros no trabalho e na vida pessoal”. Pessoas com este comportamento tóxico estão presentes em todos os âmbitos da vida, do ambiente de trabalho à família, passando até pelo trânsito e principalmente, a política.
Íntimos e perigosos
“Os psicopatas mais inteligentes, aqueles que não cometeram crimes graves e violentos, estão entre nós. São pessoas que não se detêm por nada para conseguir o que querem”. A partir de situações cotidianas, Erikson aborda as principais características e padrões de comportamento dos manipuladores e mostra como podem ser muito perigosos.
Perigosos e manipuladores
“Número enorme de pessoas é afetado pelo seu comportamento. O dano que causam leva a consequências de longo prazo, levando muita gente com eles”. Erikson ensina ainda quais são as formas mais comuns de manipulação e as melhores maneiras de lidar com elas.
Perigosos e predadores
Thomas Erikson apresenta métodos e técnicas que ajudam o leitor a confrontar pessoas controladoras e transformar relações negativas em relações de respeito mútuo. “Cercado de psicopatas” é leitura fundamental para evitar os prejuízos causados por pessoas com intenções desonestas e perigosas no trabalho, na vida social e na família.
Perigosos e instáveis
Agora tratemos de outro transtorno, não menos perigoso, o “borderline”. Tentemos entender a doença e identificar os sintomas. O transtorno de personalidade “borderline” - TPB é uma doença mental grave caracterizada por um padrão generalizado de instabilidade nas relações interpessoais, autoimagem e afeto.
Instáveis e impulsivos
É também marcada por comportamentos impulsivos. Esta condição surge no início da idade adulta ou na adolescência, levando ao grave comprometimento funcional e desconforto nas relações. Segundo o médico Vital Fernandes Araújo, uma das formas de identificar o transtorno é percebendo o padrão generalizado de instabilidade em várias áreas.
Impulsivos e delirantes
Relações interpessoais, autoimagem e afetos. Padrão associado à impulsividade acentuada, que surge na adolescência ou início da idade adulta e pode ser reconhecido em vários contextos, conforme indicado por cinco ou mais critérios, como “medo intenso do abandono, que os sujeitos tentam freneticamente evitar, seja real ou imaginário”.
Esbanjando tudo de bom e lindo, Giovanna Lima. Foto: Edy Fernandes
Curtas & Finas
*O segundo critério é a tendência a ter relações interpessoais instáveis e intensas, que alternam entre extremos de idealização e desvalorização da outra pessoa.
O terceiro, distúrbio de identidade, caracterizada por uma instabilidade marcada e persistente da autoimagem ou sentido do eu.
O quarto, impulsividade em pelo menos dois contextos potencialmente autodestrutivos (gastos, sexo, uso de substâncias, direção imprudente, compulsão alimentar).
O quinto, comportamento suicida recorrente (gestos ou ameaças) ou automutilação.
O sexto, mudanças rápidas do humor levando à instabilidade afetiva - geralmente durando algumas horas e raramente mais do que alguns dias.
O sétimo, sentimento de vazio persistente.
O oitavo, dificuldade em controlar a raiva, inadequada ou excessiva (demonstrações frequentes de temperamento, raiva constante, brigas físicas recorrentes).
Por fim, pensamentos paranoicos transitórios e relacionados ao estresse ou sintomas dissociativos graves.
Quanto à distribuição por sexo, conforme o médico, nas últimas décadas, as evidências pareciam sugerir uma maior prevalência de borderline no sexo feminino.
Uma proporção de três mulheres com TPB para cada homem.
“No entanto, observou-se posteriormente que essas diferenças parecem ser devido a imprecisões no diagnóstico, problemas de amostragem ou a fatores socioculturais”.
“Como no estudo NESARC. Nele, apenas uma diferença de prevalência mínima foi observada entre homens e mulheres (2,4% vs. 3,05%)”.
Esbanjando todo o charme do mundo, Juliana Barroso. Foto: Edy Fernandes
Segundo Vital, o “boderline”, como todos os transtornos de personalidade, não surge repentinamente durante a vida adulta.
“De fato, sinais e sintomas precoces já podem ser observados em idades mais jovens, especialmente durante a adolescência”.
O transtorno também pode apresentar apresentações variáveis; mais comumente, causa instabilidade crônica no início da idade adulta.
Resultando em episódios de grave descontrole afetivo e impulsivo, que exigem cuidados e intervenções frequentes, com taxas altas de suicídio (de 8 a 10%).
“Crianças e adolescentes com TPB apresentam taxas aumentadas de hospitalização por ideação ou tentativa de suicídio”.
“Comorbidades mais graves e pior funcionamento clínico e psicossocial, semelhante ao observado em adultos”.
Infelizmente, o diagnóstico e o tratamento do TPB são muitas vezes tardios, levando a um resultado menos favorável.
“Isso é especialmente verdadeiro em pacientes com TPB de início precoce (os mais jovens), nos quais a detecção é a chave.
“O tratamento deve começar com a revelação do diagnóstico e educação sobre o curso esperado e tratamento do transtorno”.
“Essa abordagem pode diminuir o sofrimento e estabelecer uma aliança entre o paciente e o médico”.
O tratamento também deve informar aos pacientes que foram desenvolvidas terapias eficazes.
Terapias que envolvem aprender a cuidar de si mesmo. E que os medicamentos têm apenas um papel coadjuvante.
O TPB é tratado com psicoterapia, mas medicações podem ser adicionadas para auxiliar.
O médico também pode recomendar a hospitalização se a segurança do paciente estiver em risco.
Também é necessário tratar qualquer outro transtorno de saúde mental.
Transtorno que geralmente ocorre junto com o de personalidade bipolar, como depressão ou uso indevido de substâncias.
“Com o tratamento, a pessoa pode se sentir melhor consigo mesma e viver uma vida mais estável e gratificante”.
Dr. Vital Fernandes Araújo é médico e se formou pela Universidade Federal da Bahia.
É pós-graduado em Medicina Ortomolecular e em Psiquiatria.