Dolce Vita | sábado, 19 de agosto de 2023

Esnobando e sorvendo o Tempo, Ângela Dariva. Foto: Edy Fernandes

Resposta ao tempo

E aquela música de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, trilha sonora da série “Hilda Furacão”, baseada no livro de Roberto Drummond? “Batidas na porta da frente, é o tempo. Eu bebo um pouquinho pra ter argumento, mas fico sem jeito calado, ele ri, ele zomba do quanto eu chorei, porque sabe passar e eu não sei. Num dia azul de verão, sinto o vento. Há folhas no meu coração, é o tempo”.

Resposta ao vento

“Recordo um amor que perdi, ele ri. Diz que somos iguais (...). E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos, que amores terminam no escuro, sozinhos. Respondo que ele aprisiona, eu liberto; que ele adormece as paixões, eu desperto e o tempo se rói, com inveja de mim, me vigia querendo aprender (...). No fundo é uma eterna criança, que não soube amadurecer. Eu posso, ele não vai poder me esquecer”. 

Tempo estelar

Quem gosta de complicar, “viajar” ou filosofar, pode revisitar o belo filme “Interestelar” (2014), de Christopher Nolan, no Amazon Prime. Uma aula de Tempo. Embora as viagens espaciais do filme não sejam possíveis na vida real (será?), o longa usou alguns conceitos da teoria da relatividade, de Albert Einstein. 

Tempo relativo

“Basicamente, a teoria diz respeito às três dimensões do espaço e à dimensão do tempo, onde a matéria faz com que o espaço e o tempo se ‘deformem’ ao redor do objeto em questão, um planeta ou uma pessoa”. Mas, para quem quiser refletir, com leveza e simplicidade, basta ler, a seguir, a delícia, “Aroma de Poesia”, de Adélia Prado.

Tempo X Memória

A memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora, a memória eterniza momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Legenda: Curtindo e vivendo cada Tempo, Cláudia Sabino. Foto: Edy Fernandes

Tempo, Tempo

Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto; nossos pais ainda vivem. Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos. Quando nos damos conta, nossos baús secretos estão recheados.

Tempo perdido

Recheados do que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu. A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são escancarados. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor ou de uma fossa.

Legenda: Vivendo e amando todo Tempo, Marcela Menin. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*E mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece, não caminha com as estações; alguma parte de você volta e lembra aquela pessoa; aquele momento, aquela época.

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos e voltando a se comportar como bobos e imaturos.

Encontros de turma, por isso, resgatam o que nós fomos, cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debiloides, como éramos há 20, 30 ou 40 anos.

“Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos”.

“Mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas. A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais”. 

“Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre crianças”.

Para eles, as lembranças da casa cheia, das brigas entre irmãos, das histórias contadas ainda são muito recentes, pois a memória amou e aquilo se eternizou.

“Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas”.

Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, coloca um band-aid na dor.

“Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas e assombrar de vez em quando”.

Somos a soma de nossos afetos e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga.

“Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos”.

“E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram”.