Dolce Vita | sábado, 15 de outubro de 2022

A vida é bela, sem política, com Ana Cristina Salomão. Foto: Edy Fernandes

Curso do Cursino

Este ano, os textos do roteirista Paulo Cursino, ou atribuídos a ele, fizeram sucesso. Ele escreve muito bem, esbanjando criatividade, imaginação e bom humor em temas lúcidos e pertinentes. Em abril escreveu: “É um fracasso a candidatura de um ex-presidiário. Lula não quer ser presidente. Ele apenas entrou num buraco do qual não sabe sair. Se desistir, o PT será esmigalhado. Se continuar e perder, sairá humilhado. Se vencer, enfrentará um país divididíssimo. Lula ganha nada com esta eleição ainda que a vença”.

Curso repetido

“Seu ar está cansado, lento. Lula quer desistir e não sabe como. Está fazendo força para que desistam dele. Prefere ser tirado, ser traído, seria muito mais digno. Alguém no PT precisa entender seus sinais e dar o tiro de misericórdia. Em julho, recebemos esta pérola: “Saindo de um shopping na Barra, preferi pegar um táxi e conheci um taxista eleitor do Lula! Ele reclamou da gasolina e o assunto chegou rápido na política. Era um carioca sorridente e bem falante!”.

Curso hilariante

“Vou de Lula, ele foi pobre e se preocupa com os pobres. Ele roubou? Roubou! Mas que político não é ladrão? Pelo menos na época dele eu tinha picanha na grelha e cerveja na geladeira!”. Concordei sorrindo amarelo, mas ele continuou: “E o senhor, vai votar em quem? Tenho nada contra Bolsonaro. Eu só acho o Lula melhor”. Não resisti. Não se mexe com roteirista: “Vou de Lula também. Não quero ser preso de novo...”. 

Hilariante e sádico

O sorriso sumiu do taxista: “Você já foi preso?  E eu: “A Lava-Jato aqui do Rio me pegou. Perdi quase tudo! O semblante do cara mudou! Mas continuei. “Olha, sou corrupto não! Tinha uns esquemas aí, mas tudo legal. Foi aquele FDP do Bretas. Botei tornozeleira e tudo. Gastei uma nota com advogado, mas me livrei”.

A vida mais vivida, com Flávia Pedra e Luisa Chipiakoff. Foto: Edy Fernandes 

Sádico e masoquista

O sujeito pasmo e eu: “Me ferrei porque minha empresa prestava serviço de limpeza predial pro governo. Só com o Cabral ganhei três licitações. Ganhei muita grana. Saudade é pouco. Lula tem que voltar logo!”. Ele meio ressabiado: “Empresa de limpeza dá dinheiro assim é?”. E eu: “Negócio com governo sempre dá! Mas não com esse lixo do Bolsonaro”.

Sádico e brilhante

“Com o PT comprei minha casa em Angra e cheguei a ter dois Q7. Agora só me sobrou a casinha de Mangaratiba. Tive que passar terreno pra nome de sogra morta, carro pra cunhado, transferi apartamento pra filho”. Gostaria de ter fotografado a cara dele: “Se fosse o Lula, ninguém tava preso. Nem o Cabral! Mas Lula voltando, acaba esse governo e tudo volta a ser como era! Recupero casa, iate, lancha, e até as mulherzinhas que eu pegava antes”.

Brilhante e de pelica

O taxista fechou a cara! Chegando ao destino, me despedi: “Em outubro é nós com Lula, cara! Você vai ter de volta suas picanhas e eu meus barquinhos! Tamo junto!”. Ele sorriu sem saber ainda se acreditava. Pouco importa! O recado estava dado! Claro que não devo ter mudado o voto do sujeito. Mas se o fiz se tocar por dez segundos o quão otário ele é como eleitor, já valeu a pena!

A vida como ela deveria ser, com Larissa Nogueira e Juliana Safar Oliveira. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*Depois do primeiro turno, Cursino voltou com outro tesouro que seremos obrigados a resumir.

“Não tenho grandes expectativas para o segundo turno desta eleição. Claro que não duvido da vitória de Lula”.

“Ninguém neste país perde ao apostar na nossa eterna vocação para o retrocesso”.

“Se o bandido realmente voltar à cena do crime, apenas ligaremos o modo turbo do atraso, e cada um que defenda sua própria carteira. Nada mais poderemos fazer”.

“As duas maiores forças políticas do país hoje não são PT ou PL, ou Lula ou Bolsonaro, mas o antipetismo e o antibolsonarismo”.

“Daí a incômoda sensação de imprevisibilidade deste momento. Não faltará emoção nos próximos dias”.

“Ao contrário do antipetismo que tem mais constância e sustância, o antibolsonarismo carece de engajamento”.

“O antibolsonarismo soa artificial e histérico, amador, fabricado em laboratório chinês, gestado em redações globais, e com um candidato quase octogenário de improviso”.

“Vá por mim: faltará Rivotril para petista nas próximas semanas. Quem tem mais a perder são eles, não nós”.

“Continuemos em nosso caminho, no nosso ritmo, na nossa marcha, com nossos valores, sem ansiedade. Persistência e consistência sempre foram os dois grandes segredos”.

Em suma: quem não gostar do Bolsonaro, tampe o nariz e vote nele, caso contrário, nos próximos anos, teremos muitos outros orifícios a tampar...