Dolce Vita | sábado, 13 de agosto de 2022

"Coisa linda, mais cheia de graça e cores", Alyne Vaz "coisando" o mundo jurídico. Foto: Arquivo Pessoal

Uma coisa

Bom dia! Dia 13 de agosto! Não é sexta-feira 13, mas é de agosto! Então, como todos os sábados, um texto leve e interessante para afastar o número 13, mau olhado e superstição. O texto é atribuído a Francicarlos Diniz, jornalista e escritor. Mas nada garantimos no “Estranho Mundo da Internet”, onde todos os gatos são pardos! Claro, gato preto de bruxa, dia 13 de agosto, seria abusar da sorte.

Que coisa

Vamos ao texto de Diniz, no mínimo, muito criativo e inspirado. “A palavra ‘coisa’ é o Bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia. ‘Coisas do português’”.

Santa coisa

“Gramaticalmente, ‘coisa’ pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma ‘coisificar’. E no Nordeste há ‘coisar’: Ô, seu ‘coisinha’, você já ‘coisou’ aquela coisa que eu mandei você ‘coisar’? Na Paraíba e em Pernambuco, ‘coisa’ também é cigarro de maconha”.

Coisa de Jesus

“Em Olinda, o bloco carnavalesco ‘Segura a Coisa’ tem um baseado como símbolo em seu estandarte. Alceu Valença canta: ‘Segura a coisa com muito cuidado / Que eu chego já’. Já em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem (menos o trem, que lá é chamado de ‘coisa’). A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: “Minha filha, pega os trens que lá vem a ‘coisa’”. Que exagero! Este Diniz deve ser paulista.

Coisinha de Jesus

“E no Rio de Janeiro? ‘Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça’. A garota de Ipanema era coisa de fechar o trânsito e fechar o comércio! ‘Mas se ela voltar, se ela voltar, que coisa linda, que coisa louca’. Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas. Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino”.

Coisa de louco

“Coisa-ruim é o capeta. Nunca vi coisa assim! Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, ‘coisa nenhuma’ vira um monte de coisas... Mas a ‘coisa’ tem história mesmo é na MPB. No 2º Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, a coisa estava na letra das duas vencedoras”.

Coisa perigosa

“Primeiro, em ‘Disparada’, de Geraldo Vandré: ‘Prepare seu coração pras coisas que eu vou contar’. Depois, em ‘A Banda’, de Chico Buarque: ‘pra ver a banda passar, cantando coisas de amor’. Naquele ano do festival, no entanto, a coisa ‘tava’ preta (ou melhor, verde-oliva)”. Mesmo citando outro autor, melhor trocar coisa preta por coisa roxa, vocês concordam?

"Coisa de louco e de linda" é a Julia Faria. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*Continuemos com a coisa e as coisas de hoje.

 “E a turma da Jovem Guarda não tava nem aí com as coisas: ‘coisa’ linda, ‘coisa’ que eu adoro!”.

“Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade, afinal, são tantas ‘coisinhas’ miúdas.

“E esse papo já tá qualquer ‘coisa’. Já qualquer ‘coisa’ doida dentro mexe...”, de Caetano Veloso, que acaba de comemorar 80 anos de tanta coisa.

“Essa coisa doida é um trecho da música ‘Qualquer Coisa’, de Caetano, que também canta: alguma "coisa" está fora da ordem!”

“E o famoso hino a São Paulo, ‘Sampa’: “alguma coisa acontece no meu coração”.

“Por essas e por outras coisas, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro”.

“Um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar”: Jorge Amado, em “Dona Flor e Seus Dois Maridos”.

“Afinal, uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal e coisa, e coisa e tal”.

“Um cara cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de ‘não-me-toques’ e ‘nove horas’”.

“Já um cara cheio das coisas, vive dando risada. Gente fina é outra coisa”.

Ou como dizia o saudoso amigo, Lincoln Continentino, “gente fina é a mesma coisa”.

“Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma”.

“A coisa pública não funciona no Brasil. Político, quando está na oposição, é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura”.

Como diria Arnaldo Jabor, em "Eu Te Amo", como é linda, uma coisa bonita, uma Luiza Pacheco. Foto: Edy Fernandes

“Quando elege seu candidato de confiança, o eleitor pensa: Agora a ‘coisa’ vai... Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma”.

“Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!”.

“Se as pessoas foram feitas para serem amadas e as coisas, para serem usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas?”.

“Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras ‘cositas más’”.

“Mas, deixemos de ‘coisa’, cuidemos da vida, senão chega a morte, ou ‘coisa’ parecida...”.

Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: "Amarás a Deus sobre todas as coisas". 

Entenderam o espírito da coisa?