Dolce Vita | sábado, 12 de março de 2022
A Liberdade sem fronteiras de Kátia Portilho. Foto: Edy Fernandes
Bolsonaro francês
O tema de hoje ficou meses amadurecendo. Em abril, teremos eleição presidencial na França, depois de cinco anos de Emmanuel Macron. Em cenário de guerra na Europa, esta eleição mostra-se fundamental para o futuro não só da França, como da Europa e do Ocidente. Guardem este nome: Éric Zemmour. Ele tem muita coisa em comum com Jair Bolsonaro, mas vai muito além do brasileiro. Zemmour é, realmente, um declarado candidato da extrema direita.
Bolsonaro radical
Éric Zemmour era, até dezembro, um intelectual, jornalista e escritor, muito polêmico. Profundo, orgulhoso conhecedor e defensor da história da França. Cansado de esperar um candidato que “salve a França” da guerra de civilizações, lançou-se candidato com garras e dentes. Seu partido, fundado por ele, leva o sugestivo nome de “Reconquista”. Zemmour quer reconquistar a França de mil anos e do sacrossanto ex presidente, o general Charles De Gaulle.
Bolsonaro das Cruzadas
Seus adversários e inimigos o rotulam de racista, misógino, homofóbico, nazista, fascista, “taxista”, “dentista”, etc. Acontece que, Zemmour, cuja maior bandeira é a “imigração zero”, é judeu, filho e neto de imigrantes vindos da Argélia, norte da África árabe. Zemmour quer sua “douce et vieille” France de volta, a França das igrejas e catedrais, não a de hoje, repleta de mesquitas. Terroristas e radicais islâmicos que se cuidem!
Bolsonaro nacionalista
Zemmour quer, como Donald Trump, tornar a França grande de novo. A França em primeiro, a França para os franceses. Além da imigração zero, principalmente barrando árabes muçulmanos e africanos; quer expulsar todos os presidiários e delinquentes estrangeiros, incluindo os que têm dupla nacionalidade. Quer também zerar toda e qualquer ajuda social aos estrangeiros. Tem pavor do governo europeu de Bruxelas e é bem capaz de deixar a união europeia como fez o Reino Unido.
Bolsonaro napoleônico
Para Zemmour, se a França e sua “generosidade” de Liberdade, Igualdade e Fraternidade continuarem neste ritmo, em 2030, “a França será um grande Líbano”. Algoz da esquerda entreguista e da tradicional direita que promete e nada faz, Zemmour fala direto ao francês da gema e com isso tem arrastado multidões em seus comícios pelo país. Todos os dias, ele seduz e conquista fortes aliados da mesma direita.
Bolsonaro surpresa
As pesquisas na França são do mesmo tipo que as brasileiras que colocam Lula à frente de Bolsonaro. Com a esquerda desmoralizada e esfacelada, em primeiro lugar está o atual presidente Macron. Em segundo, como em 2017, outra candidata de extrema direita, a mesma Marine Le Pen que, segundo Zemmour, é candidata radical e ideal para dar um segundo mandato a Macron, o “Lacron” que não fede nem cheira a perfume francês.
A igualdade sem igual de Maria Gonçalves. Foto: Arquivo Pessoal
Lança Perfume
*Macron está na frente, mas o cenário resta aberto para, com certeza, um segundo turno entre Macron, Marine Le Pen ou o próprio Zemmour, claro.
Macron é um enigma, mesmo cinco anos depois. Candidato fabricado pelos banqueiros e bilionários franceses, de 2014 a 2016, foi ministro da economia no governo socialista de François Hollande.
Hollande, “devido forças terríveis e ocultas”, nem tentou a reeleição, deixando o terreno livre para seu jovem, simpático e oportunista ministro, Macron.
Mas Macron não é socialista. Seu partido é o “République en Marche”, “Em Marcha”, de centro.
Assim, foi fácil derrotar Marine Le Pen. Os franceses, que se acham filhos e inventores do Humanismo, têm pavor da extrema direita.
E é aí que surgiu o nome de Éric Zemmour.
Zemmour é o candidato daqueles que não mais acreditam em políticos, que percebem esta invasão árabe, islâmica e perigosa, há mais de 50 anos.
Zemmour quer proibir todo símbolo religioso em público.
A fraternidade generosa de Marjorie Matos. Foto: Edy Fernandes
Zemmour, que se diz defensor da República e da democracia, prega, exige a “assimilação” dos estrangeiros.
Para Zemmmour, quem quiser continuar na França tem que cultivar hábitos franceses.
Devem comer, vestir-se, comportar-se e viver como franceses. Como seus pais e avós fizeram com ele, como ele faz com seus filhos.
Zemmour quer a França francesa. Seu lema é “Impossível não é francês”.
Quem quiser conferir, último comício de Zemmour, dia 27, direto do Youtube, em frente à Torre Eiffel, Paris.